Fundação não saiu e Faruk, frustado, deixa a Estadual
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de setembro de 1986
Quando retornar amanhã do Rio de Janeiro, o empresário Faruk El Khatib, 40 anos, deverá saber quem o governador João Elísio Ferraz de Campos (em viagem à URSS, há uma semana)
decidiu indicar para substituí-lo na direção da Rádio Estadual do Paraná. Em caráter irrevogável, Faruk apresentou às vésperas da viagem de João Elísio o seu pedido de demissão da direção da emissora oficial do Estado, para a qual havia sido nomeado pelo seu grande amigo, o ex-governador José Richa, há quase dois anos.
Elegante e diplomaticamente, Faruk tem evitado deixar transparecer as razões que o levaram a, neste período eleitoral, sair da direção da Rádio Estadual, que assumiu com projetos grandiosos. O maior deles era a tão sonhada criação de uma fundação que permitisse não só a emissora de sair seu marasmo, em termos de radiodifusão cultural, mas também a criação da TV-Educativa. Sonho antigo, que desafiou administrações anteriores, a transformação da Estadual numa fundação já mereceu centenas de reuniões de comissões múltiplas e relatórios longos e detalhados, mas nada de concreto foi feito. Apêndice da antiga Subchefia de Comunicação Social da Casa Civil - hoje a Secretaria Extraordinária da Comunicação - a Estadual é uma filha enjeitada há vários governos e nunca houve, de fato, interesse em transformá-la numa emissora atuante.
Tendo obtido promessas de José Richa de que "desta vez a Fundação sairia", Faruk se lançou no projeto. Executivo nato, que conseguiu fazer a antiga Grafipar chegar ao 6º lugar entre as editoras brasileiras e, por duas vezes, atuando no jornalismo ("Correios de Notícias") mostrou energia e disposição maiores do que os problemas financeiros enfrentados - além de ter obtido, após 10 viagens a Nova Iorque, a concessão da "Penthouse" para o Brasil, Faruk não teme desafios. Enfrentou já duas concordatas mas nunca deixou cair a peteca, desfazendo-se de grande parte de seu patrimônio familiar mas mantendo a retidão e honestidade, características
aliás dos El Khatib.
Assim, não foi por falta de competência e disposição que Faruk deixou de fazer "o que foi possível" para implantar uma fundação, com maior mobilidade para transformar o modesto prefixo, criado há 32 anos, pelo sempre lembrado Aluízio Finzetto (Curitiba, 15/3/1917-6/12/1976) realmente num grande veículo de difusão cultural.
Nos 18 meses em que dirigiu a Estadual, assessorado pelo experiente Palito (Lourival Pedrossian), especialista em fazer rádio na linha brega (durante anos foi diretor da Rádio Atalaia, que se mantinha em primeiro lugar em audiência AM em Curitiba, até sua saída), Faruk decidiu, numa atitude discutível em termos culturais, mas válidas em sua visão de homem de marketing, brigar, em igualdade de condições, com as emissoras comerciais. Assim, substituiu toda a programação de música clássica durante o dia por música popular, passou a transmitir 24 horas por dia e buscar "aquilo que pudesse fazer a emissora deixar de ser um traço na pesquisa do Ibope".
Foi vitorioso: hoje a Estadual é a 6ª classificada nas pesquisas, mas à custa de uma programação sem criatividade maior, concorrendo com as emissoras privadas. Afinal, para uma emissora mantida com recursos oficiais, um quadro de quase 50 funcionários e instalada em três andares de um grande edifício central (Caetano Munhoz da Rocha, rua Cruz Machado), a preocupação deveria ser diferente.
Faruk justifica, com muito entusiasmo, porque assim procedeu: queria primeiro conquistar uma grande audiência para depois melhorar a qualidade da programação. Chegou até a convencer ao seu amigo Luis Alberto Dalcanalle, da Secretaria da Comunicação Social, a gastar alguns milhões numa dispendiosa campanha de out-doors para promover a rádio.
Entretanto, frustrado por não ver o projeto da fundação sequer encaminhado à Assembléia - uma das alegações é de que a mesma não poderia ser criada antes da transformação da Secretaria Extraordinária em Secretaria de Estado de Comunicação Social -, Faruk decidiu renunciar. Continua peemedebista, colaborando no comitê de propaganda de seu amigo Álvaro Dias, mas vai ativar mais a sua empresa editorial - a Fama - na qual, associado ao desenhista Maurício de Souza, edita revistas de entretenimento (cruzadas, puzzle, charadas, etc.), com personagens como Mônica, Cascão, Chico Bento, etc. e que já somam mais de 50 mil exemplares mensalmente.
Editor experiente, conhecendo o ramo a fundo, Faruk, aliás, não deixou o setor mesmo durante o período em que dirigiu a Rádio Estadual. Só que agora quer dinamizar seus negócios, pois, assumidamente, sempre reconheceu que gosta de viver bem, estar sempre presente nos grandes eventos e carimbar ao menos quatro vezes por ano o seu passaporte. Aliás, há pouco voltou de Nova Iorque - após ter acompanhado o trem-da-alegria de José Richa ao Oriente - e só não foi à URSS, com João Elísio, porque está preocupado em fazer a Faruk-Maurício de Souza Produções, crescer muito neste final de ano.
Quanto à rádio, Faruk acha que deu a contribuição que era possível.
- "De agora em diante, serei apenas ouvinte!"
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