De nada adianta transferir se não houver bons recursos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de outubro de 1986
Se depende, basicamente, da coragem do governador João Elísio em enfrentar algumas críticas e oposições, a transferência da Rádio Estadual para a esfera da Secretaria da Cultura e Esportes, por outro lado, também de nada adiantará esta iniciativa se não forem dadas condições mínimas para que a emissora oficial, em curtíssimo prazo, seja dinamizada.
Afinal, se por uma questão apenas de transferir uma unidade precária de uma secretaria extraordinária (Comunicação Social) para uma outra secretaria (Cultura e Esportes), que só agora começa a se recuperar da danosa administração anterior, o melhor será que as coisas permaneçam como estão.
Embora não seja nenhum bicho-de-sete-cabeças fazer uma emissora cultural - e exemplos em outros Estados comprovam isto - no Paraná, a Estadual vem desafiando sucessivas administrações. E se existe se deve ao idealismo e energia de Aluízio Finzetto - cujo 10º aniversário de morte, a transcorrer em novembro, deve merecer alguma homenagem, voltamos a lembrar aos donos do poder.
Fazendo das tripas coração, Aluízio Finzetto, pioneiro do rádio e da televisão no Paraná, transformou um antigo serviço de alto-falante do Colégio Estadual do Paraná, instalado ainda na primeira metade dos anos 50, numa emissora que, ao longo de três décadas sofreu sempre processos de esvaziamento - e cuja crônica é até dolorosa para ser aqui, mais uma vez repetida (embora necessária de ser sempre lembrada para mostrar a sua via-crucis como veículo de comunicação).
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Fundação não é uma mágica capaz de solucionar, do dia para a noite, problemas que se acumularam ao longo dos anos e especialmente, a falta de recursoss que desafiaram todos que tentaram colocar a Estadual como um veículo eficiente e cultural efetivamente. O próprio marido da secretária Suzana, o advogado e cartorário Roberto Macedo Guimarães, 48 anos, hoje tranqüilo procurado do Tribunal de Contas, permaneceu na direção da Rádio Estadual por quase oito anos, ali conduzido justamente pela amizade de infância com João Elísio e suas ligações com o ex-governador Jayme Canet Júnior - e confirmado depois no cargo por Ney Braga, tio de sua esposa.
Outras pessoas que ocuparam a direção da Estadual - como o publicitário Ségio Mercer e o radialista Augusto Xavier - sentiram que, mesmo com toda boa vontade e disposição de trabalhar, nada poderia ser feito na atual estrutura: quadro de pessoal estatístico (e mal remunerado), falta de condições técnicas, inexistência de um acervo discográfico atualizado, equipamento obsoleto etc.
O jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior, mesmo sem ter até hoje, assumido oficialmente a direção da Estadual, tem sido, nos últimos anos - tanto na administração Ney Braga, como na de José Richa - um dos profissionais mais ligados com a emissora. Preocupação especialmente na solução de problemas técnicos, como a ampliação de sua potência, construção de nova torre de transmissão, etc. - sem o que a emissora não seria sequer sintonizada. Nesta parte, com muita luta, alguma coisa já se fez e hoje se pode ouvi-la, com razoável qualidade de som.
Falta, entretanto, aquilo que é mais importante: programação que justifique a própria rádio - hoje sendo obrigada a reutilizar antigas fitas cedidas pela Deutsch Weller, que pelo excesso de regravações, emperram e estouram durante os programas, como se pode observar diariamente. Um dos veteranos profissionais do rádio no Paraná e Santa Catarina, Lourival Pedrossiam ("Palito"), gerente-executivo da emissora, auxiliado por gente entusiasmada - como os programadores Emilson Pohl e Darcy do Espírito Santo, locutores profissionalmente irrepreensíveis e uma boa equipe técnica - faz das tripas coração para suprir as deficiências.
Numa atitude intempestiva, o ex-diretor Faruk El Khatib havia colocado a rádio no ar por 24 horas.
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