Login do usuário

Aramis

Ah! O nosso abandonado e pobre Teatro Guaíra

Quando esteve em Curitiba, há algumas semanas, para a temporada de "Ah! Mérica", no Auditório Salvador de Ferrante, o ator Raul Cortez se surpreendeu com o estado que se encontra aquela sala de espetáculos. Se o público não chega a perceber, quem ali se apresenta fica chocado com a falta de cuidado da administração em termos de bastidores. Raul chegou a se queixar da própria falta de segurança do palco, com o piso apresentando falhas e colocando em riscos, inclusive, a parte física dos artistas. As paredes dos fundos do auditório estão sujas, há muito necessitando de uma boa pintura. Igualmente, os camarins deixam muito a desejar. A situação é de constrangimento para quem espera de um teatro conhecido nacionalmente, o mínimo de cuidados. xxx A bem da verdade, registre-se: a situação não vem de hoje. Há muitos anos que o chamado "Guairinha" está a exigir completa reforma em seus bastidores, melhoria nas coxias e camarins e melhor sistema de iluminação. As alegações de falta de recursos se sucedem em várias administrações, mas o fato é que o problema existe e a sensação que se tem é de abandono, de coisa mal gerenciada. xxx A situação não fica apenas no Auditório Salvador de Ferrante, funcionando desde 19 de dezembro de 1954. Também o Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, inaugurado há onze anos, até hoje ainda não foi completado. O bar funciona improvisadamente, num imundo balcão de madeira, sem o mínimo conforto tanto para o público como para os que ali trabalham. A própria arrendatária do bar, a atriz Claudete Loureiro, se queixa da falta de condições para manter o bar, já que não dispõe de nenhum espaço para almoxarifado de seus produtos, sendo obrigada a improvisar soluções. A geladeira é pequena e agora com o verão há falta sempre de refrigerante gelado. xxx Era de se esperar que um teatro da dimensão do Guaíra - viesse a ter um bar amplo, confortável e mesmo com alguma sofisticação. Em todos os grandes teatros do mundo há balcões que servem bebidas - inclusive alcoólica - durante os intervalos e em muitos deles chegam a funcionar restaurantes anexos. Não se pretendia tanto do Guaíra, embora se tenha falado, há muitos anos, no aproveitamento de um de seus espaços para um restaurante de luxo. O fato é que nada aconteceu e a exemplo do pequeno auditório, o Bento Munhoz da Rocha Neto é atendido precariamente por um improvisado serviço, muito aquém das necessidades. xxx Aliás, problemas não falta no teatro. Até hoje ainda não se resolveu a questão dos elevadores. E o acesso ao primeiro e especialmente, segundo balcões é totalmente vetado a pessoas idosas, deficientes físicos e também aos que têm problemas cardíacos. Escalar as íngremes escadarias que dão acesso às platéias superiores do Guaíra é uma prova atlética que deixa de língua de fora mesmo pessoas com menos de 30 anos. Aliás o acesso à platéia central é também difícil aos deficientes físicos, em cadeiras de roda: inexistem elevadores e as rampas laterais dão à portas que só são abertas após os espetáculos. Desta forma, o teatro desestimula a freqüência aos espetáculos de uma sensível fatia de público. Nem mesmo a motivação do ano do excepcional fez com que a administração do teatro se lembrasse de dar atenção a estes problema. xxx Contratualmente, qualquer obra no Teatro Guaíra só pode ser feita com aprovação do arquiteto Rubens Meister, que há mais de 30 anos fez o projeto de grande obra encomendada pelo seu amigo, o então governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Longas reuniões aconteceram com Meister desde a inauguração do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, discutiram-se adaptações e reformas mas, de prático, nada foi feito. Agora, como vem acontecendo em janeiro/fevereiro, o Guaíra deverá suspender suas atividades artísticas. Seria de se esperar que ao reabrir, em março, este problemas pudessem estar resolvidos. É o o mínimo que sua administração pode fazer para dar mais conforto a um público que paga ingressos a preços cada vez mais elevados!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
27/11/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br