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Meister, o homem do Teatro Guaíra

O Teatro Guaíra estaria hoje na Praça Ruy Barbosa se o governador Bento Munhoz da Rocha Neto não tivesse, em 1951, logo após sua posse, revisto o projeto e decidido que "em nome da cultura não se pode tirar uma praça da cidade". Se hoje, voltasse a Curitiba, o inesquecível estadista talvez até se arrependesse, tal a condição de mercado persa que a antiga praça foi transformada - hoje poluída como terminal rodoviário e um verdadeiro camelôdromo da cidade. Quem lembrou este fato foi o arquiteto Rubens Meister, 68 anos, mais um importante depoimento para a série Memória Histórica do Paraná. Na tranquilidade de seus 43 anos de vida profissional - formou-se em engenharia Civil na turma de 1947, da Universidade Federal do Paraná, mas desde os 15 anos já vinha trabalhando como desenhista, Meister se tornaria o grande arquiteto do Paraná, embora oficialmente não tenha obtido esta graduação: - "Cheguei a assistir aulas no curso da Escola Nacional de Belas Artes em 1945, mas além de não me acostumar com o Rio de Janeiro senti que mais importante era terminar o curso de engenharia. Por muitos anos, pensei em obter também o diploma de arquiteto, mas no final acabei deixando de me preocupar com isto - pois estou em boa companhia. Frank Lloyd Wright nunca terminou seu curso e Le Corbusier era dentista..." Quando ainda fazia o quarto ano de engenharia, associado a um colega de turma, Romeu Paulo da Costa, Meister obteve sua primeira vitória em concurso; ao ter seu projeto escolhido para o Panteão dos Heróis, na Lapa. - "Foi a primeira vitória mas também a primeira decepção. Na execução, o projeto foi alterado substancialmente, o que viria acontecer, posteriormente, com outros projetos. Em 1948, Meister, desta vez associado a Eugênio Grandinetti, concorreu no concurso instituído ainda no governo Moyses Lupion para o Teatro Oficial do Estado - o nome "Guaíra" ainda não havia sido aprovado no qual entraram 17 projetos. Uma comissão julgadora da qual faziam parte nomes famosos como os professores Puppi, David Carneiro, Fernando Corrêa de Azevedo e Ernesto Guimarães Máximo - (primeiro arquiteto profissional a se estabelecer em Curitiba) escolheu em primeiro lugar o projeto apresentado pela Construtora Nacional e, em segundo lugar, a proposta de um teatro "ao estilo do Ópera de Paris", que o italiano (aqui radicado) Carlo Barontini desenvolveu. Mas seria o projeto de Meister o escolhido pelo governador Munhoz da Rocha, quando este decidiu iniciar a obra - o que confirmou o premonitivo voto que Fernando Azevedo (fundador da Escola de Música e Belas Artes) deu em separado. "Os dois primeiros classificados são projetos premiados mas o terceiro é o que tem melhores condições de ser executado". Naturalmente, a menina dos olhos de Rubens Meister, entre seus 345 projetos até hoje desenvolvidos, o Teatro Guaíra arrastou-se por quase 30 anos - período em que casou, teve três filhas e viu nascer a primeira de suas três netas. "Mais por uma questão histórica do que propriamente por direitos autorais", até hoje ele tem sido consultado sobre as mudanças e obras adicionais no Guaíra - "embora, quando do aproveitamento do porão para uma sala de ensaios eu não tenha sido consultado". O que irritou bastante Meister foi a adulteração no projeto que fez para a Rodoferroviária, em 1972, com duas passarela que não constavam da proposta original. Chegou a pensar em embargar a obra, mas como a mesma estava às vésperas de ser inaugurada - e não desejando prejudicar a cidade - engoliu em seco mas protestou pela imprensa. Anos antes, já como presidente do Instituto de Engenharia do Paraná havia reclamado junto ao então prefeito Ivo Arzua a discriminação feita contra a classe, impedida de participar do concurso de projetos para o Centro Comercial do Portão - que acabou sendo mais um elefante-branco da cidade. Nascido em Botucatu, SP - mas filho de pais curitibanos (seu avô paterno chegou ao Brasil em 1956), de uma família humilde (seu pai era comerciante), Rubens Meister sempre resistiu aos vôos da mosca azul: cogitado várias vezes para a Reitoria e, também, ao menos uma vez para a Prefeitura, manteve-se longe dos volteios políticos, dedicando-se ao seu escritório e a sua cátedra de Arquitetura, que ocupou até 1981, quando se aposentou. - "Procurei sempre ser um profissional e um professor. Dedicado e voltado a estes objetivos" - diz com humildade. Embora fale com entusiasmo de muitas de suas obras - atualmente está mergulhado na conclusão do Palácio Avenida, projeto em que uniu a restauração da fachada com uma nova edificação de 7 pavimentos e 17 mil metros, com inauguração prevista para o primeiro trimestre de 1991 - Meister tem especial carinho por projetos de auditórios, desde que, há 40 anos praticamente desenvolvendo sua própria tecnologia, desenvolveu o projeto dos três auditórios do Teatro Guaíra. Uma experiência que o levaria a planejar uma dezena de auditórios - não só em Curitiba mas também em outros Estados, como o Municipal de Joinville, atualmente em obras. No Guaíra, em que teve a consultoria final do especialista do Scala de Milão, Pericles Ansaldo, Meister procurou soluções novas que, passadas 4 décadas do projeto, mostram-se acertadas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
25/10/1990
Gostaria de agradecer ao trabalho que vocês têm realizado. Sou aluno de jornalismo e estou fazendo uma pesquisa sobre o arquiteto Rubens Meister, que futuramente vai se transformar numa matéria que contará parte de sua história. Vários textos de Millarch têm informações preciosas para a minha pesquisa. O resultado do trabalho de vocês, para mim, foi uma ótima descoberta de um grande artista que eu desconhecia. Se tiverem quaisquer outras informações sobre Meister, por favor me contatem. Mais uma vez, obrigado. Grande abraço, Rafael Urban Estudante de Jornalismo Curitiba - PR - Brasil

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