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Perfis - Noronha, o Senhor Juiz

Quando foi nomeado para a diretoria da Polícia Civil, há quase 20 anos, inúmeros amigos de Antônio Lopes de Noronha estranharam que ele não tivesse se preocupado em mudar o número de seu telefone residencial. Quando insistiam que o fato de seu nome continuar na lista lhe tiraria o sossego, tal o número de chatos que o incomodariam e a sua família em horas mais inconvenientes, respondia: -"Não vejo razão para isto. Se aceitei um cargo sabendo de suas dificuldades, não tenho direito de me omitir de ninguém que me procure". Quinze anos depois, quando o governador Álvaro Dias o escolheu para a secretaria de Segurança Pública, Noronha continuou na mesma posição: descartou qualquer sugestão para ficar com um novo - e secreto - número telefônico, assim como recusou esquema especial de segurança pessoal. Só com muita insistência, um solitário policial ficou designado para vigiar a sua residência, "sem nunca ter tido qualquer necessidade de fazer valer sua autoridade" comenta a jovial Maria Cecília, sua esposa há 21 anos. Com a característica de ser daquelas pessoas que conserva a maior simplicidade, manter-se fiel aos velhos amigos e jamais modificar seu comportamento, o agora juiz do Tribunal de Alçada, dr. Antônio Lopes de Noronha continua o mesmo, simpático e cordial como quando chegou a Curitiba, no verão de 1957, para estudar na Faculdade de direito da Universidade Federal do Paraná. Um dos aprovados em primeiro lugar no vestibular - posição que repetiria em todo o curso e, sucessivamente , em todos os concursos que prestou, Noronha, tem um jeito tranqüilo de argumentar, um misto de habilidade herdada do pai baiano, o médico José fontes Noronha, ainda vigoroso aos 89 anos, com a vivência do Norte do Estado - pois seu pai, ao deixar Salvador, foi um dos pioneiros em Jacarezinho - ali ficando por 42 anos. Ant6onio - o terceiro de seis filhos - nasceu ainda em Salvador, geminiano de 23 de maio de 1939, veio com poucos meses para o Paraná, onde nasceriam três de seus irmãos - Amilcar, advogado; André, médico; que voltou para a boa terra, fixando-se em Bom Jesus da Lapa e Joaquim Severo, engenheiro, morando em Natal. O irmão mais velho, o médico José Geraldo, foi diretor do Hospital do Cajuru e atualmente é vice-reitor da Universidade Católica do Paraná, da qual é professor há muitos anos. João Paulo, outro engenheiro da família, reside em Curitiba. - "Uma família extremamente unida, que pelo menos duas vezes por ano reúne-se com os pais - o médico José e dona Celestina Lopes, 83 anos - ambos ainda esbanjando saúde" - conta a nora Maria Cecília, que antes de ser namorada e a noiva de Antônio, já era uma espécie de filha adotiva da família, pois seus pais, também de Jacarezinho, sempre foram os maiores amigos dos Noronhas. No final dos anos 50, explendor da época JK, Antônio Lopes de Noronha se destacaria na liderança estudantil, sendo o nome forte para presidir o Centro Acadêmico Hugo Simas numa das eleições mais acirradas nos 60 anos de existência desta entidade acadêmica. xxx Como vice-presidente, Noronha teve um dos estudantes que mais mercaram culturalmente sua passagem pela Faculdade de direito - José Octávio Guizzo (1938-1989), matogrossense de Campo Grande, que o ajudou a fazer uma gestão até hoje lembrada com saudade pelos seus contemporâneos. Tão eficiente que, em sua sucessão, apesar de toda a guerra ideológica naqueles tempos pré-revolucionários, o Partido Acadêmico Progressista derrotou o figadal rival - o PAP - e fez o seu sucessor: um jovem e brilhante quartanista, orador inflamado, chamado Otto Luis Sponhols - hoje digníssimo desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná. Quarta-feira, em sua posse, Noronha, feliz pelo momento que vivia e emocionado com as palavras carinhosas nas orações de Edson Luiz Vidal Pinto - saudando-o em nome do Ministério Público; do presidente da Ordem dos Advogados, Teófilo Mansur e do Juiz Telmo Cherem, sentiu a ausência do amigo "MT -o Mato Grosso" - forma carinhosa com que José Octávio Guizzo era chamado em seus tempos de universidade. Se vivo estivesse, o bom "MT' aqui teria vindo para abraçar o antigo companheiro de lutas estudantis. xxx Formado em 1962, Antônio Lopes de Noronha foi designado como promotor-substituto em Loanda. Mais tarde, em novembro de 1966, era aprovado em primeiro lugar no concurso do Ministério Público e seguia para alto Paraná, onde ficou menos de um ano. Santa Izabel do Ivaí e depois as comarcas e Paranavaí e Clevelândia. Quando chegou em Maringá, já casado, nem ocupou a casa que havia alugado: foi nomeado para dirigir o Departamento de Estabelecimentos Penais do Estado, cargo em que manteria por três anos. Em 1972, passaria para a direção da Polícia civil, ali ficando até 1975. Só então é que voltou a carreira no Ministério público, já então designado para a Capital, passando por várias funções até que em 1987 voltaria a ser convocado para uma função de confiança: a Secretaria de Segurança Pública, na qual permaneceu até 12 de abril de 1990. As funções de promotor e os cargos exercidos na área de Segurança, deram a Noronha uma vivência extraordinária, fazendo-o nome dos mais respeitados junto ao Ministério Público. Sua nomeação para o Tribunal de Alçada é uma conseqüência natural numa carreira que abraçou com todo entusiasmo e que, com uma dignidade a toda prova, vem exercendo de forma admirável há quase 30 anos. Leitor de obras jurídicas, especialmente relacionadas ao direito Criminal, "que o faz tão aplicado como se estivesse se preparando para prestar um exame na faculdade" observa seu primogênito Antônio, 20 anos, estudante de engenharia da computação, o mais novo juiz do Tribunal de alçada é também um apaixonado por artes plásticas. No início, apenas acompanhando o entusiasmo de sua esposa, Maria Cecília - formada pela Escola de Música e Belas Artes, professora da Universidade Católica e do Cefet, "depois,eu mesmo me interessei pelo mundo das core" explica. Maria Cecilia foi uma das mais eficientes professoras do Museu de Arte Contemporânea nos últimos anos, num trabalho tão criativo e coordenado que o fato de não ter sido reconduzida - como esperava a classe artística - foi a primeira frustração na questão cultural do governo Requião. Ex-entusiasta do basquete - "que abandonei por causa da falta de tempo e de uma barriguinha que insiste em crescer", diz brincando - Antônio Lopes de Noronha não é homem de muitos hobbies. Mais uma vez é a esposa Maria Cecilia, quem conta: - "O maior hobbie de Antônio, é o prazer de ficar em casa, com os filhos Antônio, José augusto e Maria Paula. Nos últimos anos, havia pouco tempo livre para isto, com os horários mais incríveis exigidos em função da Secretaria da Segurança. Agora, espero que as coisas se harmonizem". LEGENDA FOTO: Antônio Lopes de Noronha, o novo juiz do Tribunal de Alçada: amizade e dignidade em bela carreira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/06/1991

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