Comissão paralela para que Curitiba festeje 300 anos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de janeiro de 1992
Consciente da importância única dos 300 anos de fundação de Curitiba - a transcorrer dentro de 14 meses - um grupo dos mais representativos segmentos da vida cultural-social-artística-histórica-econômica de nossa Capital começa a se preocupar na formação de uma comissão paralela, independente e, principalmente, sem vinculações políticas, para organizar uma série de eventos e comemorações que a data justifica (29 de março de 1993).
Apesar da existência de uma comissão oficial, destinada, há mais de um ano, pelo prefeito Jaime Lerner, o fato da mesma ser formada apenas por 5 pessoas e ter na presidência um conhecido politiqueiro, que desde a sua nomeação vem utilizando para sua autopromoção, na ambição de sair candidato pelo PDT à sucessão municipal, praticamente tornou inexpressiva a presença oficial, até agora, na preparação da cidade para o seu terceiro centenário de fundação.
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Inspirando-se no que ocorreu em São Paulo - em 1954 - e no Rio de Janeiro, quando do IV Centenário (1964), ocasião em que o então governador Carlos Lacerda (1917-1977), em sua dignidade de político e intelectual, procurou formar uma comissão realmente representativa de todas as forças capazes de colaborar com um evento desta dimensão, pelo menos 20 lideranças curitibanas, ligadas diretamente à instituição das mais representativas, começam a se organizar para sua formação.
Mesmo sem qualquer espírito de concorrência à comissão oficial - que dentro do jogo político da atual administração deverá continuar a funcionar (apesar da pouca ética que o seu presidente usa para sua autobadalação eleitoreira), o grupo que vem estruturando o colegiado independente - e realmente representativo de nossa comunidade - quer evitar, justamente, a presença de outros interesses que não seja o cultural. Para tanto, os primeiros contatos estão sendo feitos com homens e mulheres de nossa vida pública, que por sua dignidade, honradez e principalmente afetivas ligações com Curitiba, possam dar à comissão respeitabilidade e credibilidade.
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Embora seja ainda prematuro falar em nomes - haja vista a preocupação democrática que deve pautar a formação da comissão, por sua vez assessorada por dezenas de paranaenses (ou aqui radicados) que, generosamente, se integrarão a esta missão comunitária, não faltarão, por certo, expressões das mais representativas. O escritor Walfrido Pilotto, 86 anos, que há poucas semanas deixou a presidência do Centro de Letras do Paraná - substituído pelo médico e também escritor Lauro Grein Filho - é uma das personalidades, ao lado do coronel Luiz Carlos Tourinho, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, para, com suas autoridades intelectuais, lembradas para dirigirem esta comissão.
A Sra. Flora Munhoz da Rocha Neto, viúva do maior estadista que o Paraná já teve - o governador Bento Munhoz da Rocha Neto, como cronista e, especialmente, a primeira-dama do Paraná, quando dos festejos do 1º Centenário de Emancipação Política, também será convidada de honra para a comissão.
Em reunião no próximo dia 2 de fevereiro, a diretoria do Centro de Letras do Paraná, deverá discutir a proposta e, possivelmente, colocar suas instalações na Travessa Fernando Moreira à disposição para reuniões da comissão a ser formada no máximo até março próximo.
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Todas as pessoas consultadas a respeito - dos vários segmentos - mostraram-se entusiasmadas com a idéia, pois a forma com que as comemorações vêm sendo tratadas, não tiveram, até agora, a menor repercussão. Ao contrário, a omissão proposital de todas as instituições - da Câmara Municipal (totalmente esquecida) até entidades representativas das categorias profissionais, passando inclusive pelo Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, revelaram o autoritarismo e preocupação política que caracteriza a imposição oficial.
Pela admiração que têm pelo prefeito Jaime Lerner, as lideranças que desejam formar esta comissão paralela, acreditam que o próprio alcaide, consciente do desgaste que o presidente da "comissão" (sic) vem lhe causando, deverá entender e respeitar a necessidade deste grupo paralelo a ser formato com as mais nobres intenções.
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