Um curso de formação para cabos eleitorais
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de março de 1988
A Secretaria Municipal de Cultura está preocupada em formar lideranças políticas nos bairros. Afinal, este é um ano político e dentro da visão pragmática do secretário Marés de Souza - na qual tudo deve se concentrar na politização da população e em eventos populares - é introduzido agora um "curso e debates de formação político-social a serem realizados no primeiro semestre de 1988".
Com o nome de "Brasil: presente e futuro", o curso desdobra-se numa série de etapas incluindo, neste mês de março, a formação de monitores, selecionando-se dos 100 inscritos, 30 que, devidamente remunerados, desenvolverão um trabalho agressivo nos meses seguintes. Tudo muito bem pensado, planejado, para ter impacto. Tanto é que durante janeiro e fevereiro houve uma cuidadosa fase de preparação, com desenvolvimento de textos gráficos "e demais instrumental físico de informação" como consta de uma das publicações que a Secretaria Municipal de Cultura - associada à Fundação Cultural de Curitiba/Instituto de Administração Municipal -vem distribuindo internamente.
A programação do curso de formação dos monitores não poderia ser mais puxada: História do Brasil e Constituição, Economia e População do Brasil, História Econômica e Social, Regime de Governo e Partidos Políticos, Dívida Externa e Interna, Reforma Agrária e Questão Urbana e a Questão Social e Cultura (ora, afinal, a palavra Cultura aparece ao menos uma vez).
Tudo com muitos debates e num repasse ao longo de 12 semanas, "abrangendo os quatro grandes temas: Economia, Sociedade, Política, Cidadania (o tema Cultura não entra).
Há um extenso texto justificando o porquê da Secretaria Municipal da Cultura bancar estes cursos. Em termos práticos, estarão sendo formados no mínimo excelentes cabos-eleitorais, estrategicamente arregimentados em bairros populosos. Uma formação tão intensa, que até os vereadores deveriam solicitar suas matrículas - pois pelo visto a Secretaria Municipal da Cultura poderá, logo logo, ser chamada Secretaria de Formação Política.
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