Lobo, com ajuda de seus orixás, ganha Secretaria
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de janeiro de 1986
Glauco Souza Lobo, 45 anos, ex-industrial, peemedebista histórico e ex-presidente da Federação Umbandista do Paraná, por certo vai passar o próximo fim-de-semana em cerimônias religiosas, agradecendo aos seus "Pais de Santo", por mais uma proteção divina. Finalmente, segunda-feira, conseguiu uma definição há muito aguardada: adquire o status de secretário municipal e ocupará a pasta de Turismo, que seu amigo Roberto Requião acaba de criar.
Com isto, define-se mais um nome do primeiro escalão da nova equipe da Prefeitura de Curitiba e abre uma vaga importante: a diretoria executiva na Fundação Cultural de Curitiba, que Glauco ocupava há 3 anos. Até o entardecer de terça-feira, com Glauco em misteriosas e não definidas "reuniões de trabalho" - conforme diziam seus assessores - era ainda difícil de saber, com certeza, o nome de seu substituto. Mas, o mais cotado é o frei dominicano Paulo Cesar Botas, 44 anos, cantor e compositor, expert em erotismo (foi o idealizador da famosa e polêmica Semana de Arte e Erotismo, no ano passado) e que desde sua volta a Curitiba, em 1981, empenhou-se de corpo e alma a favor do PMDB. Tornando-se uma das eminências pardas da Fundação Cultural, onde poucas coisas acontecem sem o seu nihl obstati.
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A ascensão de Glauco Souza Lobo para uma secretaria de Turismo é uma dupla solução. De um lado, Roberto Requião premia um correligionário dos mais entusiastas, que chegou a coordenar as forças da umbanda - conforme aqui registramos, na época - por ocasião da convenção do PMDB, para que Requião derrotasse o deputado Amadeu Geara e saísse como candidato. Durante a campanha, Souza Lobo transformou seu veículo particular - uma velha Caravan - numa espécie de trio elétrico polaco: com dois auto-falantes, aparelhagem de som, circulando em bairros na pregação pró-Requião.
Por outro lado, as relações entre Lobo e Carlos Frederico Marés de Souza - embora cordiais e educadas - nunca foram das melhores. Por mais de três vezes houve os chamados incidentes de percurso que somente foram contornados com a intervenção, diplomática e política, de Maurício Fruet. Inclusive quando da formação de sua equipe, em 1982, Maurício teve que usar de todo equilíbrio para resolver a questão da Fundação Cultural. Enquanto o então deputado Roberto Requião e setores radicais indicavam Marés, advogado, especialista em questões indígenas, ex-exilado político, para a presidência, Souza Lobo tinha também pretensões ao mesmo cargo. No final, acabou concordando com a direção executiva. No ano passado, por ocasião da indicação do novo presidente do Instituto Nacional de Artes Cênicas, Glauco foi um dos nomes da lista tríplice e se tivesse sido o sorteado já teria deixado o caminho livre no âmbito municipal. O ministro Aloísio Pimenta, da Cultura, preferiu o carioca Carlos Miranda e Glauco continuou na FCC.
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Uma qualidade faz com que Glauco mereça admiração: sua capacidade de organizar festas populares. Carnavalesco fanático - foi dirigente do Bloco Não Agite e da Escola de Samba Acadêmicos de Salgueiro (que tentou salvar, em sua pior fase), Glauco trouxe para a administração Maurício Fruet a realização de festas populares, levando milhares de pessoas à Avenida Marechal Deodoro. Organizou dois animados Carnavais e se mostrou sempre um comandante nesta área. Simpático, bem relacionado, estabeleceu bons contatos que poderão fazer agora agilizar uma área a qual a Prefeitura, em tempo algum, deu uma atenção sistemática: o turismo.
Como o turismo no Paraná é também abandonado pelo Estado, com a incompetência da Paranatur (e nem poderia ser diferente já que está subordinada à ineficiente e dispensável Secretaria da Cultura e Esportes), Glauco poderá, desde que não lhe falte apoio, fazer da Secretaria de Turismo um organismo atuante, suprindo lacunas e solucionando problemas da área.
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Talvez um dos primeiros abacaxis que passem para as mãos de Glauco seja o destino do [bondinho] da Rua das Flores. Desativado há três semanas - sob alegação de que o mesmo não atendia mais aos fins para os quais foi implantado - aquela área de recreação é mais um ponto criado na primeira administração do prefeito Jaime Lerner, que, pelo visto, o governo peemedebista de Roberto Requião deseja eliminar. O Teatro do Paiol, desativado há meses, dificilmente voltará a funcionar como casa de espetáculos na forma com que se consagrou durante uma década. No máximo será transformado num centro popular de cultura, para atender ao bairro do Guabirotuba.
E assim, o que uma administração fez, a outra desfaz. É o jogo (sujo) da política a custa do dinheiro do povo.
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