No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de fevereiro de 1989
Maé da Cuíca (Ismael Cordeiro), 65 anos, um dos fundadores do Colorado em 1946, embora desde 1982 não saia mais com a Escola de Samba que tinha graças a ele a melhor bateria, não deixou de circular na Avenida Marechal Deodoro nos dias de Carnaval. Com a faixa de "Cidadão Samba" - que recebeu há 3 anos, por iniciativa do ex-secretário de Turismo, Glauco Souza Lobo, Maé anunciava que ia voltar ao Colorado, hoje relegado ao segundo grupo para tentar fazê-lo retornar aos tempos de glória. Sale Wolokita, animador cultural, garante que vai apoiar Maé e sairá na comissão de frente do Colorado em 1990.
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O vice-prefeito Algaci Túlio deu uma demonstração de respeito para com o povo da cidade que o elegeu para o cargo. Interrompeu seu descanso na praia e, com a família, veio no sábado, domingo e terça-feira prestigiar o Carnaval. Querido e popular, Algaci foi aplaudido várias vezes e atendeu, sempre atenciosamente, a centenas de pessoas que o cumprimentavam e, estranhando a ausência do prefeito Jaime Lerner (que preferiu passar os dois primeiros dias do Carnaval no Rio), perguntavam pela ausência do prefeito.
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Algaci Túlio, em repetidas entrevistas, fez uma promessa: vai se empenhar de todas as formas para que em 1990 não se repitam os problemas que as escolas de samba enfrentaram este ano - falta de verbas, desorganização etc. E disse mais: no Carnaval de 90 vai sair na rua, "nem que seja num bloco de sujo". Há quatro anos, Algaci foi destaque da Mocidade Azul.
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O ex-deputado Amadeu Geara, secretário de Turismo, surpreendeu-se quando soube que por uma estúpida decisão da Comissão de Carnaval foi proibido que a Escola de Samba Mocidade Azul fizesse queima de belos fogos de artifício ao sair da concentração. No Rio de Janeiro, grandes escolas usaram recursos pirotécnicos para enfeitar o desfile - sem qualquer restrição.
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Ainda de Amadeu Geara: admitindo, com sinceridade, que antes de tudo "é um político" aproveitou para fazer o máximo possível de incursões em bailes nos clubes da cidade. Organizou-se para estar presente nas quatro noites do desfile das Escolas e Blocos na Avenida Marechal Deodoro e depois, percorrer 20 sociedades da cidade. Sem fantasia...
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Carlos Eduardo Mattar, professor, assessor do Tribunal de Contas e veteraníssimo compositor, agora tem dois novos parceirinhos: Júlio César de Oliveira, 30 anos, e Elson de Oliveira, 27, ambos funcionários dos Correios e Telégrafos. Juntos fizeram os sambas-de-enredo da Mocidade Azul ("Viagem da Ilusão") e Imperadores Independentes ("Adoniran Barbosa"), além da homenagem a Carmem Miranda para o Bloco Boca da Mata ("Cadê Carmem Miranda, Que Saudade de Você"). Ligado ao Carnaval desde os anos 50, Mattar já fez mais de 50 sambas-de-enredo.
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Os novos parceiros de Mattar, provando que há renovação entre nossos compositores, começaram há apenas dois anos: em 1987, estrearam com a Zebra no Batuque ("A Sua Sorte a Zebra Vem Mostrar"), repetiram no ano passado ("O Fantástico Mundo da Comunicação") e com o samba-de-enredo para a Sapolândia ("Noel, o Poeta da Vila"), conseguiram a maior nota.
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Com 40 anos, 35 de Carnaval, passagem por várias escolas e fundador da Sapolândia, Júlio César Amaral de Souza este ano não esteve na comissão organizadora: é que deixou a Secretaria de Turismo e agora assessora a administração regional de Santa Felicidade. Nem por isto deixou de participar do Carnaval: integrou o júri do Estandarte Rádio Independência, funcionando como uma espécie de assessor técnico. Esteve ao lado de Neyl Hamilton Monteiro Pereira (Presidente da Associação de Escolas de Samba de Curitiba) e José Antonio Siqueira, coordenando os desfiles. Julinho é dono de preciso material que poderá formar um dia um Museu do Carnaval Curitibano. Foi ele que cedeu para a D. Pedro os estandartes originais da pioneira Vassorinha da Água Verde (1917), Colorado (1947), Foliões da Mocidade, Embaixadores da Alegria (1948) e Unidos do Boqueirão - na homenagem que a Escola fez ao seu presidente Jubal de Azevedo.
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Valêncio Xavier, diretor do Museu da Imagem e do Som, trouxe para aquela unidade o seu dinamismo de veterano produtor de televisão. Assim, apesar da burocracia oficial está conseguindo fazer que o MIS deixe ser da "imaginação". No dia 25 de janeiro último, Valêncio e a pesquisadora Fátima de Freitas foram gravar um depoimento com a Sra. Selmira de Castro Guimarães, dentro do programa de tomada de depoimentos com pessoas de mais de 80 anos. Viúva do jornalista e político da região dos Campos Gerais, Mário Carvalho Guimarães, Dona Selmira disse a certa altura: "Mas isso que eu estou contando para vocês tem no livro que eu estou escrevendo"
Valêncio não deixou por menos: pediu para ver os originais e, entusiasmando-se com a sinceridade e simplicidade com que a velha senhora recordava em seus textos passagens de sua vida, não teve dúvidas: em edição fac-similiar fez uma publicação do "Caderno de Dona Selmira" (Cadernos do MIS, No 2, 35 páginas, 1000 exemplares), que teve seu lançamento no dia 3 de fevereiro, quando Dona Selmira completou 98 anos. Se fosse feita uma edição pelos caminhos tradicionais, possivelmente só sairia depois do centenário da homenageada...
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