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Aramis

Bons sambas-de-enredo nas escolas de samba

Uma agradável surpresa: ao menos em termos de samba-de-enredo as 12 Escolas de Samba que desfilaram na Avenida Marechal Deodoro não decepcionaram. Com maior ou menor voltagem criativa, todas as agremiações carnavalescas saíram com sambas próprios, compostos por autores da cidade e que, dentro de suas limitações buscaram contar e cantar o enredo pretendido. Considerando-se que até há menos de dez anos eram poucas as escolas-de-samba que apresentavam sambas próprios, desfilando ao som de sambas e marchinhas tradicionais, pode-se dizer que houve uma evolução. O nível dos sambas-de-enredo na segunda noite do desfile, foi tão surpreendente que pelo menos três deles mereceram a nossa nota máxima (nove pontos), empatados pelo equilíbrio que trouxeram em seus versos. "Quem Samba Fica... Com Os Pés No Chão", do trio Homero Reboli/Cláudio Ribeiro/Aderbal Arruda - puxado por Homero, 37 anos, arquiteto de profissão e sambista por opção; Embaixadores da Alegria, com "O Palhaço O Que É?", da Dupla Carlos Eduardo Mattar (47 anos, 20 de Carnaval) e Maricélia Brito (26 anos, filha da cantora Ivanira dos Santos e do radialista Jair de Brito), afinadíssima puxadora deste samba de bonitas imagens e um refrão que conquistou a torcida; Zebra no Batuk, com "A Zebra Deu Sorte", da dupla Júlio Cezar e Elson Oliveira (funcionários dos Correios e Telégrafos, aparecendo agora como compositores), também trouxe um bom samba, valorizado pelo puxador Sérgio Carnudo. Nelson Santos, 50 anos, o mais fértil dos compositores de sambas-de-enredo (autor de mais de 30, para diferentes escolas), este ano, só para Curitiba, assinou três composições - e talvez por esta diversificação não trouxe trabalhos a altura de seu inegável talento. Assim mesmo fez o mais bonito dos sambas-de-enredo para as escolas do segundo grupo: "Que Rei Sou Eu?", para a Treze de Maio, desenvolvendo bem o tema proposto - falando inclusive da derrota que a Escola sofreu no ano passado, quando desfilou debaixo de um temporal. Nelson fez também o samba para a Imperadores Independentes ("Se Essa Rua Fosse Minha") e, no primeiro grupo, para a Dom Pedro II ("Sonhar... Um Direito Popular"), campeã no Carnaval do ano passado e que este ano com a diferença de apenas um ponto (perdido na bateria, quesito julgado pelo compositor Marinho Gallera) perdeu para a Mocidade Azul, cujo samba-de-enredo ("Cantos, Contos, Encantos E Estórias Que Vovô Contava") foi de autoria da dupla Lino Roberto e Wilson Medeiros. Considerando-se que só a partir de 1969, com "Ciclos Econômicos Do Café" (para o Não Agite, hoje praticamente desativada), de Paulo Vítola, os sambas-de-enredo começaram a fazer parte do Carnaval curitibano (quatro anos antes, Glauco Souza Lobo e Rubens Rolim, haviam proposto um samba, "Colhedores Do Café", para o mesmo Não Agite, mas que não tinha a estrutura do enredo), pode-se admitir que o gênero vem, lenta mas seguramente, crescendo entre nossos compositores. Mesmo entre as escolas do terceiro grupo, como a Colorado (que com toda sua tradição de 41 anos de existência, deixou de sair no ano passado), houve um simpático samba-de-enredo ("Voltei Para Ficar"), do trio Maurício/Denise/Jussara. Enfim, ouviram-se sambas-de-enredo feitos com garra e entusiasmo, inundando a Avenida neste Carnaval. Evoé, Momo!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
05/03/1987
achei uma noticia sobre o samba-enredo que ajudei a compor e cantei na avenida

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