Requião quer espírito de Olinda em nosso Carnaval
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de março de 1987
O Carnaval passou, ficaram lembranças e algumas alegrias - poucas serpentinas e confetes, que, ao menos na avenida Marechal Deodoro foram mercadorias raríssimas. Alegria para a Mocidade Azul, que reconsquistou o troféu de campeão do concurso oficial - já que havia perdido no ano passado para a sua arquirival, Dom Pedro II, justamente no empate da bateria. Esta ano, foi um ponto a mais neste quesito que lhe deu uma espremida vitória de 73 por 72 pontos. Marinho Gallera, 37 anos, compositor, que julgou este difícil quesito, foi rigoroso.
A Mocidade Azul, 39 anos de desfiles, 16 segundo-lugares nos 22 anos em que teve o comando do carnavalesco-mor desta mui leal Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, o advogado e folião José Cadilhe de Oliveira, 64 anos, amarga não ter conquistado mais um segundo lugar para sua longa galeria de frustrações. Como o jurado Luís Afonso Burigo, 41 anos, figurinista e ex-ator, distraiu-se na hora de passar a limpo a folha de pontuação, esqueceu de atribuir os pontos para a Dom Pedro II no quesito "Evolução". Como prevê o regulamento, o item foi anulado para todas as Escolas e assim a Embaixadores da Alegria que havia feito uma bonita apresentação, merecendo nota máxima em Evolução, perdeu preciosos pontos. E no cômputo geral ficou com 69, em terceiro lugar. Triste destino da Embaixadores da Alegria, que desde seus tempos de Escola de Samba sofisticada e chic, quando chegava a representar a Sociedade Thalia, nunca conseguiu chegar ao primeiro lugar! Nem o próprio Cadilhe consegue explicar este azar, pois houve anos em que a Escola apresentou belíssimas produções.
Hoje presidida por uma veterana atriz, Delcy D'Ávila e reunindo especialmente a comunidade de Santa Quitéria - (há muito que a Escola deixou a região da Comendador Araújo e adjacências) - a Embaixadores da Alegria sonha em comemorar seu 40º aniversário de fundação, no próximo ano, com uma quadra de ensaios, em sede própria. O alcaide Roberto Requião não descarta a possibilidade da Prefeitura doar o terreno, mas impõe algumas condições: a Escola tem que se integrar a associação dos bairros dentro de um projeto de valorização comunitária e no caso específico da Embaixadores, a presidente Delcy D'Ávila não se bica com os dirigentes da Associação de Moradores de Santa Quitéria.
Roberto Requião, 47 anos, esportivamente feliz nos desfiles de sábado e domingo na Avenida Marechal Deodoro, reiterava ao secretário de Turismo, Glauco Souza Lobo, sua disposição em ver o Carnaval "cada vez mais popular, com mais gente na Avenida". Independente do concurso oficial e da manutenção das subvenções às escolas já consolidadas, Requião acha necessário que as próprias associações de bairro organizem seus blocos e escolas, no sentido de virem ao Centro da cidade. Acha também que as arquibancadas devem ficar apenas num lado da Avenida e as mesmas devem ser ocupadas por entidades de classe média - clubes, sindicatos, associações, que possam repassar os ingressos aos seus associados. Glauco Souza Lobo, 48 anos, 35 de Carnaval, ex-dirigente da Não Agite e da Embaixadores da Alegria, vai mais longe: em sua opinião a avenida deveria ficar livre de cordas, isolamentos e mesmo arquibancadas, tendo que cada Escola abrir o seu espaço para se apresentar. Ou seja, uma "nordestinação" do Carnaval, como acontece em Salvador e Olinda, com o povo lotando todos os espaços. Será que os curitibanos vão topar esta audaciosa proposta?
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