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Aramis

O samba-de-enredo da Mocidade Azul

Se faltava algum dado para provar que o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Azul é hoje uma escola-empresa, a exemplo das grandes agremiações do Rio de Janeiro. O concurso para a escolha do samba-de-enredo, realizado sábado, em sua quadra de ensaios, não deixou mais dúvidas. Acreditamos que, pela primeira vez, compositores semi-profissionais, que anteriormente não tinham ligação maior com a agremiação carnavalesca, inscreveram seus trabalhos, sentindo as possibilidades de ter não só a compensação financeira oferecida pela Escola, mas uma promoção muito grande. Assim é que João Gilberto Tatara, para citar um exemplo, em parceria com Derico e Pó, concorreu e ficou entre os cinco finalistas, com seu "Roleta do Tempo". No final, a comissão julgadora acabou escolhendo o "Carrossel das Ilusões" de Antônio Carlos Buono, defendida pelo próprio e o grupo Ogum, conquistando tanto o júri como as centenas de pessoas presentes. O samba-de-enredo de Charrão (José dos Santos Barbosa), 36 anos, ex-zagueiro central do Clube Atlético Paranaense e há vários anos o "puxador" do samba-enredo da escola, apesar da grande torcida e do balanço, ficou em segundo lugar. A vitória de Buona e sua patota foi merecida, mas cabe a eles, agora, realmente se integrar à Mocidade Azul, reforçando sua ala de compositores. xxx O tema que Afunfa (Oswaldo da Silva) presidente da Mocidade Azul escolheu para o Carnaval de 1980 não poderia ser melhor: uma reverencia aos tempos do Cassino Ahu. Com mais de 1.600 pessoas na avenida, investimento que pode chegar a Cr$ 1.500.000,00. Afunfa quer o tetracampeonato, oferecendo a cidade um espetáculo que, hoje, já poderia, tranqüilamente disputar inclusive o carnaval carioca. Ano a ano, a Mocidade Azul - designação adotada em 1975, depois de ter sido o Bloco Carnavalesco D. Pedro II (fundado em 1959), por remanescentes do Asas da Alegria, vem aumentando o número de pessoas em suas diversas alas e sofisticando cada vez mais sua apresentação. Com o que não concordam outros dirigentes carnavalescos, especialmente Maé da Cuíca (Ismael Cordeiro), há 32 anos dirigindo a Escola de Samba Colorado, que se orgulha de ter a melhor bateria. Jubal Azevedo, durante anos um dos principais dirigentes da Mocidade Azul, decidiu retornar ao antigo Bloco Carnavalesco D. Pedro II, que este ano vai sair novamente, sem pretensões de uma vitória, mas disposto a oferecer um belo espetáculo. Já Afunfa vai colocar um cassino na avenida, com roda-da-fortuna, mesas de jogos, bailarinas, arlequins, palhaços, etc. Ironicamente, diz que "é necessário mostrar até o coringa, que hoje nem em baralho aparece mais". xxx Dos 15 sambas-de-enredo inscritos, uma comissão formada pelo compositor Osvaldo Nascimento, carnavalescos José Cadilhe de Oliveira (fundador em 1948 do Embaixadores da Alegria, que este ano não sairá). Carlos Fernando Mazza, Roberto Fonseca e Daisy Cavalcanti, mais o jornalista Antônio D'Aquino Borges, selecionou os cinco de maior força. Além dos sambas de Tatara, Buono e Charrão, também foram classificados o do jornalista Ivo Chiarelo (que ficou em 3º lugar) e o do Nelson Baltazar, que, em 1978, teve seu samba-de-enredo gravado num lp da Top Tap, que registrou os sambas-de-enredo de escolas fora do eixo Rio-São Paulo, projeto, infelizmente que não teve continuidade. O samba de Charrão utilizou, com bastante balanço, o refrão do clássico "Recordar é Viver", 1930, de Sinhô (José Barbosa da Silva 1888 - 1930), mas apenas como uma citação. A grande virtude do "Carrossel de Ilusões", de Antonio Carlos Buono, 33 anos, cartógrafo e durante muitos anos ligado a Escola de Samba Não Agite, teve dois méritos: um verso com um belo achado poético ("Na roleta do destino / Perde, ganha, ou sai ferido / Quem aposta no amor") e um refrão que, pela sua força e comunicação, fará com que todos o cantem facilmente: "Venha se' Neste cassino da Avenida / Um jogador a mais / Amar, sorrir, cantar/ Com a mocidade / Colorindo / O melhor dos carnavais". xxx Há 5 anos, quando o advogado Carlos Francisco Solheide, uma das pessoas mais estimadas em Curitiba, dirigia o Departamento de Relações Públicas e Promoções da Prefeitura, organizando o Carnaval, houve um primeiro concurso de samba-de-enredo da Mocidade Azul. Mas na maioria das escolas, o samba-de-enredo é feito praticamente as vésperas do Carnaval, havendo casos de escolas cujos componentes desfilam sem saber seque o refrão., tendo que levar a letra na mão, para poder acompanhar, num espetáculo melancólico. Este ano, é intenção do jornalista Nelson Comel, há 4 anos presidindo a comissão organizadora do Carnaval, promover um concurso oficial de samba-de-enredo. Uma boa idéia, que merece estímulo, desde que haja participação de todas as escolas, do primeiro e segundo grupo. E o que deve ser destacado é que não deve ser preocupação dos compositores em "imitarem" o estilo dos sambas-de-enredo do Rio. Ao contrário: pelas próprias características de nosso Carnaval, devem procurar ser autênticos, honestos em suas propostas musicais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
6
29/01/1980

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