Nossa cultura municipal custa US$ 7 mil por dia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de dezembro de 1988
Quanto custa a cultura oficial para o município de Curitiba?
Eis uma boa pergunta. E que merece reflexões agora que haverá o ritual de passagem do poder peemedebista para o governo de coligação oposicionista que venceu as eleições no dia 15 de novembro.
Em cálculos reais, tomando por base a cotação oficial do dólar em 21 de dezembro, a Secretaria Municipal de Cultura / Fundação Cultural do Paraná terá nada menos que US$ 7 mil para gastar diariamente - tendo por base o orçamento que a Câmara aprovou para o exercício de 1989. Em cruzeiros, só a pasta que deve administrar (bem) os negócios da Cultura terá no próximo ano nada menos que Cz$ 1.776.800.000,00 - ou seja mais do que o dobro do orçamento deste ano que se encerra (Cz$ 700 milhões). Dividindo-se por 365 dias, temos a considerável soma diária de Cz$ 4.867.945,20 - o que em dólar - uma unidade-referência que permite melhor comparação (considerando-se a inflação de (quase) 30%) - dá US$ 7.008,50. Uma cifra marcante.
Cz$ 1.776.800.000,00 é o orçamento aprovado para a Secretaria Municipal da Cultura / Fundação cultural de Curitiba realizar sua programação em meia centena de unidades e manter um quadro que hoje é de 353 funcionários - o qual, segundo consta, consome mais de 70% desta verba. Mesmo assim, são recursos consideráveis dentro de nossa realidade sócio-econômico-cultural.
Para comparar: dividindo-se por gasto/dia, os Cz$ 4.867.945,20 que a área da cultura terá (?) a partir do dia primeiro de janeiro, segundo o orçamento aprovado pelos ilustres vereadores, corresponde a edificação de uma casa popular a cada dois dias - tomando-se em conta o custo de construção de US$ 315 por metro quadrado.
Portanto, não é sem razão que o prefeito eleito Jaime Lerner sofreu muitas pressões para escolha dos novos dirigentes do setor cultural - e retardou para após seu retorno da viagem que fez a Buenos Aires - o anúncio oficial de sua escolha - até agora como nome mais forte o da jornalista e animadora cultural Lucia Maria Gluck Camargo, que há dois anos foi levada pelo secretário René Dotti, da Cultura, para ocupar a diretoria de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra.
Por suas identificações com a tradição cultural da cidade, especialmente junto às famílias mais ricas e antigas e interesse pela área, o deputado Rafael Greca de Macedo, um dos coordenadores da campanha que levou seu amigo Lerner ao poder, se tornou a pessoa mais influente no processo sucessório na Secretaria Municipal da Cultura. E para si, teria reservado desde novembro o cargo de presidente do conselho da Fundação, colegiado que, consta, exercerá uma atuação muito grande para a formulação política cultural do município.
Afinal, embora com orçamento inferior a outras secretarias do município a área cultural oferece um glamour que pode render muita promoção e projeção, possibilitando grande rentabilidade política. Dispondo de quase 50 unidades - entre bibliotecas, teatros, ateliers de arte, quatro circos e outros meios de movimentação promocional - a hoje poderosa Secretaria Municipal da Cultura pode - e deve - fazer muito para a cidade.
Com um orçamento que, hoje medido em dólares - corresponderia a US$ 2.558.129, uma alegação não poderá ser repetida - como sempre foi ao longo dos anos:
- Não temos verba.
Verba existirá (como sempre existiu). A questão é a forma como este dinheiro (que o povo paga) será utilizado nos próximos 4 anos.
LEGENDA FOTO - Jaime: quais os caminhos para a cultura oficial do município com um custo-dia que, em cálculos de hoje, com base no Dólar oficial, é de US$ 7 mil - no orçamento para 1989?
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