A receita para salvar um organismo cultural
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de janeiro de 1991
O prefeito Antônio Belinatti esteve ao ponto de ganhar uma triste notoriedade nacional. A impetuosa decisão de acabar com o Departamento de Cultura da Prefeitura de Londrina começava a ter reflexos nacionais, cobrindo de ridículo sua administração - que por sinal, tem alguns pontos positivos. Felizmente, para contrabalançar os assessores inimigos das atividades culturais que o estavam levando a insistir na transformação de um prédio que abriga várias unidades e atividades culturais numa creche, houve o aconselhamento dos membros do Conselho Municipal de Cultura e, especialmente, a intervenção de uma brava (e braba, quando necessário) professora e animadora cultural, de Curitiba, que há pouco mais de uma semana, conseguiu, após horas de negociações, convencer Belinatti de que o Departamento de Cultura deveria continuar - mesmo que reformulado em sua administração.
Desde que Belinatti havia decidido "desativar" o Departamento e "aproveitar" o (ótimo) prédio que ele ocupa no centro de Londrina para atividades da área social (incluindo uma grande creche), os integrantes do Conselho Municipal de Cultura, liderados por Leonardo Ramos e Zuleika Scalarassara, tentavam falar com o alcaide. Este, encastelado em seu gabinete, recusava-se a recebê-los, argumentando que sua decisão era definitiva.
Na semana passada, a professora Cloris de Souza Ferreira, da Coordenadoria da Ação Cultural da Secretaria da Cultura e que nos últimos dois anos tem sido a grande executiva dos festivais de música clássica realizados em Londrina e Cascavel, foi a Londrina para merecer uma justa homenagem como "Mulher-Destaque" num programa de televisão. Ao ver os arquivos e documentação do Departamento sendo transportados, "sabe lá para onde", Cloris não perdeu tempo: recebida numa audiência por Belinatti - oficialmente solicitada para lhe entregar o primeiro exemplar do elepê do 10º Festival de Música de Londrina - se fez acompanhar de alguns membros do Conselho Municipal de Cultura que, então, puderam discutir, cara a cara, com o alcaide pedetista, a situação criada. Argumentações sobre despesas do Departamento - que conta com apenas 17 funcionários - foram contrabalançadas ao que significa o setor, inclusive fisicamente, pois no Departamento funcionam 17 grupos de teatro, 5 corais, núcleos de artes plásticas, além de seu espaçoso auditório ter múltiplas utilizações.
Felizmente, os argumentos de Cloris e dos conselheiros foram ouvidos, e mesmo com algumas mudanças administrativas e de orçamento, o Departamento continua a funcionar.
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A crise aberta com a desativação do Departamento de Cultura vinha revoltando desde que foi anunciado o infeliz decreto de Belinatti aos setores culturais. A Secretaria da Cultura do Estado, sem pretender uma intervenção oficial, havia colocado "o problema" como um dos itens para serem discutidos na próxima reunião do Conselho Estadual de Cultura. Felizmente, não será mais necessário o blá-blá do órgão colegiado do Estado, pois a situação já se resolveu com diplomacia - mais a necessária energia dos conselheiros e a grande ajuda de Cloris, uma competência dentro da área cultural do Estado, que merece, aliás, ter melhor aproveitamento em suas potencialidades.
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