Como será o day after da cultura no Paraná?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de setembro de 1990
Seja por não acreditarem no potencial do eleitorado que se preocupa - e participa - da questão cultural, seja por necessidade de concentrarem as tônicas de suas campanhas em temas mais diretamente ligados à população - economia, custo de vida, mercado de trabalho, combate à corrupção etc. - o fato é que até agora, faltando apenas sete dias para as eleições, nenhum dos candidatos ao Governo se deteve em discutir como vai tratar a cultura no Estado.
Em círculos artísticos e culturais - que embora reduzidos em termos numéricos são expressivos como formadores de opiniões - esta omissão dos homens que disputam a sucessão estadual tem merecido diferentes interpretações e levado a várias especulações sobre qual será o futuro da Secretaria da Cultura e outras unidades que no governo Álvaro Dias mereceram atenção.
O candidato José Carlos Martinez não esconde seu propósito de fazer uma radical enxugada na máquina administrativa e assim, a exemplo do que fez o seu amigo e correligionário presidente Fernando Collor, não será surpresa se, no dia seguinte a sua posse, anunciar a extinção de várias secretarias e órgãos do primeiro escalão - inclusive a da Cultura. Se a extinção da pasta da Cultura - criada por Ney Braga, em seu segundo governo, há 11 anos, pode acontecer com um simples decreto, o destino de muitos órgãos que a integram - como a Fundação Teatro Guaíra, Biblioteca Pública, Museus etc., não é questão de eliminar simplesmente. Extinguir coordenadorias, assessorias, cargos em comissão é uma coisa. Eliminar unidades culturais, muitas já institucionalizadas, é outra conversa.
Uma coisa porém é certa: no caso da eleição de Martinez, acontecerão cortes viscerais em várias áreas e a cultura não estará intocável.
No caso de José Richa as especulações são maiores - envolvendo inclusive já possíveis nomes que sonham em ocupar a pasta, que em sua administração teve uma atuação polêmica e muito discutível - mas que sobreviveu. O empresário artístico José Basso, que chegou a ser superintendente da Fundação Teatro Guaíra, como está integradíssimo a campanha dos tucanos é cotado, por muitos, como o sucessor do advogado René Dotti.
Só que na coligação de siglas que apóia Richa existem compromissos com o PDT para que o partido de Brizola também participe do governo e neste caso uma das pastas que caberia aos pedetistas seria a Cultura. No caso do grupo liderado pelo prefeito Jaime Lerner venha a ter condições de fazer indicações, dois nomes a ele ligados estão cotados: Sra. Lucia Maria Gluck Camargo, atual secretária municipal da Cultura/presidente da Fucucu e do deputado Rafael Greca de Macedo. Em sua ascensão a cargos oficiais no poder cultural a Sra. Lucia Camargo tem feito uma irresistível escalada: foi diretora executiva na administração anterior de Lerner, passou 4 anos como eminência-parda do escritório regional da FUNARTE (chegando a ser cotada para ocupar uma das diretorias nacionais, quando seu amigo Ziraldo a presidiu) e apesar de suas ligações com Lerner, conseguiu ser nomeada para a direção de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra no início da administração Álvaro Dias. Ali permaneceu um ano quando, tendo se integrado na campanha do PDT, ganhou a Secretaria Municipal da Cultura - mesmo, na confiança do PMDB (que disputou a prefeitura de Curitiba com Maurício Fruet).
Rafael Greca de Macedo, o golden boy do pedetismo no Paraná, teria duas razões para vir a ocupar a pasta: ganhar alguma experiência executiva - já que pretende concorrer a sucessão de Lerner na Prefeitura (até hoje nunca teve funções executivas) ou, no caso de não conseguir a reeleição (o que é possível de acontecer, haja visto a pulverização de votos com dezenas de candidatos que saíram pela região de Curitiba) ganhar um prêmio de consolação de José Richa, a quem foi oposição feroz no passado e hoje é um dos maiores e fervorosos defensores.
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