Maringá adia FestVídeo para prestigiar a cultura local
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de outubro de 1991
O II FestVídeo de Maringá foi adiado para 1992. Um dos mais bem sucedidos eventos ocorridos no ano passado na Cidade Canção, esta promoção que entre os dias 26 a 30 de novembro de 1990 reuniu videomakers de vários estados não acontecerá este ano por uma razão simples e objetiva: falta de patrocínio.
No ano passado, quando o prefeito Ricardo Barros apoiou a idéia levada pelo publicitário João Carlos Ferreira, para a efetivação de uma mostra competitiva que seria restrita apenas aos realizadores de vídeos em VHS - até então excluídos de outros festivais nacionais (*) - uma das condições lembradas pela professora Lídia Narcisa Marques, então chefe de gabinete da Secretaria da Educação e Cultura, em seu parecer favorável com todas as despesas, "mas que no futuro se buscassem outros patrocínios". Dito e feito! O primeiro Festival teve uma organização exemplar, contou com a consultoria de uma excelente instituição que se dedica a formar profissionais videomakers - a "The" Academia, de São Paulo e apresentou ótimos resultados, prestigiada inclusive com a presença de nomes nacionais como do jornalista Rubens Ewald Filho, conforme aqui registramos.
Infelizmente, mesmo com os bons resultados conseguidos, não apareceram parceiros para que o evento tivesse agora os custos diluídos. Ao contrário, a crise que só tem aumentado afastou mesmo aqueles pequenos patrocinadores, triplicou os custos e não restou outra solução do que utilizar o bom-senso: adiar o evento - que, afinal, não é prioritário.
Neste período, dentro da modelar reforma administrativa que o prefeito Ricardo Barros fez no Executivo, com a redução do número de secretarias à apenas cinco (Infra-estrutura, Saúde, Economia, Desenvolvimento Urbano e Ação Social) e a inédita criação da função do city manager - a pasta da cultura transformou-se a uma diretoria, e a sua titular, a professora Clélia Maria Ignatius Nogueira, passou à Secretaria do Desenvolvimento Urbano - da qual se afastaria recentemente para assumir, na última segunda-feira, 7, a direção do Departamento de Educação Especial da Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Lídia Narcisa Marques, que já vinha há quase dois anos sendo seu braço direito, passou para a Diretoria de Cultura - órgão que substituiu a Secretaria.
De um trabalho coordenado e com muito bom-senso - e que levou Clélia a ter seus méritos reconhecidos em nível estadual pelo pastor Elias Abraão, secretário da Educação do governo Requião, convocando-a para sua equipe (ver "Perfil", nesta mesma edição), Lídia Marques, uma morena/mignon de 37 anos, assumiu executivamente a área da Cultura não só para manter as metas que ajudou a sua amiga Clélia a definir, como acrescentar também os seu toque pessoal e, especialmente, muito dinamismo.
Diante de uma realidade econômica que exige sacrifícios de todos, Lídia definiu prioridades: voltar-se basicamente a prestigiar os artistas, artesãos e realizadores regionais, investir em projetos realmente significativos para a cidade "e evitar despesas com promoções pirotécnicas que mesmo valendo momentânea "repercussão" nada acrescenta, de fato à cidade que as financia". Ou seja, uma sensatez que, infelizmente, falta em Curitiba, na "administração cultural" (sic) que queimando quase Cr$ 10 milhões/dia continua, sob o olhar beneplácito do alcaide Jaime Lerner, a privilegiar especialmente "promoções" importadas do eixo Rio-São Paulo - enquanto os artistas locais são discriminados e esquecidos.
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Em Maringá atualmente apenas o programa "Mão na Massa", beneficia nada menos que 47 projetos atingindo 78 artistas, especialmente na periferia da cidade e que estão sendo valorizados em toda sua potencialidade criativa.
- "Com apenas 20% do que iríamos gastar para fazer o II FestVídeo, ou seja utilizando até agora Cr$ 13 milhões, pudemos aplicar num programa que há cinco meses atinge realmente a comunidade artística da cidade e cujos resultados já se pode perceber".
Lucidamente, Lídia Marques, formada em jornalismo pela Faculdade Casper Líbero, em São Paulo e que residiu por 10 anos em Cuiabá, onde chegou a implantar a primeira galeria de arte do Centro-Oeste, preocupa-se em que os recursos oficiais, advindos de impostos pagos pelos contribuintes, tenham "realmente uma finalidade sócio-cultural, ou seja, beneficiem a população que os fornece e não sejam desperdiçados em eventos badalativos, que méritos à parte - nada deixam efetivamente na comunidade patrocinadora".
Esta filosofia, entretanto, não impede que Lídia e sua assessoria - formada por pessoas da mais alta competência - não se preocupe em abrir a Cidade Canção para eventos "realmente importantes mas que não signifiquem despesas inúteis". Assim, na área teatral - já com o Barracão I, em funcionamento desde julho de 1989, o Barracão II - que começará a ser utilizado ainda este mês e o futuro cine-teatro Plaza, (em obras), há toda uma programação valorizando especialmente os seis grupos locais, compositores, instrumentistas e músicos da região - que registraremos, em detalhes em próximas colunas.
Uma ex-bailarina, atriz e coreógrafa carioca, Flor Duarte, 31 anos, que com o marido optou por viver em Maringá "devido a excelente condição de vida aqui existente", vem desenvolvendo um trabalho de estímulo na área da dança, com a formação de grupos de várias idades e interligação com as 9 academias ali existentes. A bibliotecária Tisley Barbosa, 30 anos, uma parnanguara que também não troca Maringá por qualquer cidade do mundo, vem fazendo nas cinco bibliotecas da cidade um trabalho cultural com incríveis resultados - e que já obtiveram destaque nacional.
O Salão da Paisagem, inaugurado em sua sexta edição na última sexta-feira, 11, teve este ano a inscrição recorde de 423 trabalhos enviados por 143 artistas, das quais uma comissão julgadora (da qual fez parte o cartunista Dante Mendonça) selecionou 179 trabalhos de 74 artistas. A bela Regina Menezes, doublê de tv-woman, radialista e artista plástica, de Londrina e Ricardo Carneiro, de Curitiba, receberam os prêmios principais. A pintora Marta Maria Grossi, coordenadora da área de artes plásticas, não esconde seu entusiasmo pelo elevado número de artistas inscritos - resultado de uma filosofia de estímulo e criatividade local, com orientação através de cursos e palestras" explica. Em Maringá, atualmente, só existe uma galeria - a Espaço, que a Sra. Lais Essenfelder Schwabe, curitibana, mas há 30 anos residindo naquela cidade - (seu marido, foi um dos pioneiros na área da eletrificação) mantém "mais por idealismo do que por razões comerciais" explica, lembrando que só agora o mercado local começa a melhorar". Fazendo poucas individuais por ano, tem prevista para breve uma mostra de trabalhos do curitibano Álvaro Borges, "um dos pintores paranaenses que mais admiro".
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Uma atuação lúcida em desenvolver uma ação cultural com uma filosofia e política voltada a valorizar os valores regionais, Lídia Marques tem atendido indiretamente também vários municípios da região - os quais, constantemente, são visitados por um dos mais originais grupos musicais mantidos pelo seu departamento, Os Seresteiros de Maringá, formado por 30 harmoniosas vozes que se dedicam, sob coordenação da seresteira Miriam de Lima Ramalho, a valorizar o melhor do cancioneiro verde-amarelo. Enaltecendo a boa vontade que vem encontrando junto à secretária Gilda Poli, "uma mulher prática no comando da Cultura", Lídia Marques não deixa de lamentar a falta de uma programação mais interiorizada da Fundação Teatro Guaíra nesta administração.
- Afinal, o Teatro Guaíra é mantido com recursos oficiais do Estado e suas produções, bem como a orquestra sinfônica e seu balé, devem atender basicamente o Interior. Até hoje, só uma única vez a sinfônica veio até Maringá e quando falamos em aqui apresentar as óperas, grandes bailados ou peças financiadas pelo Guaíra, nos impõe custos altíssimos que inviabilizam nossa cidade arcar com os mesmos.
Nota
(*) Para compensar a suspensão (temporária) do FestVídeo de Maringá, eis outra promoção aberta aos videomakers interessados: O I Festival Nacional de Vídeo de Vitória (19 a 24 de novembro) que oferecerá Cr$ 3 milhões - recorde nacional para evento do gênero - e o troféu "Cidade de Vitória". Inscrições até o dia 30 de outubro e informações mais detalhadas com Tiomkim, na coordenação de vídeo e cinema do Museu da Imagem e do Som do Paraná (fone 232-9113).
LEGENDA FOTO - Lídia Marques: a inteligência e o bom senso no desenvolvimento de um programa cultura que valoriza os artistas de Maringá.
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