Barracão, o bom projeto em que Maringá soube investir
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de abril de 1992
Terça-feira, 7, ao inaugurar o Teatro Reviver, em Maringá, o prefeito Ricardo Barros, ao lado do ministro Sérgio Paulo Rouanet, faz questão de, entre outras pessoas ali presentes, chamar ao palco o advogado Constantino Viaro. Mais do que uma gentileza, foi um expressivo - embora silencioso (já que não houve referência explícita) reconhecimento ao homem que, numa feliz idéia, propôs que espaços culturais alternativos, de baixo custo, pudessem ser instalados no interior do Paraná.
Em seu entusiasmo como um dos mais jovens prefeitos do Brasil, Ricardo Barros, 31 anos, foi o primeiro a ver no projeto Barracão, uma alternativa para dotar Maringá de espaços cênicos. Assim, há três anos, ali era inaugurado o primeiro dos Teatros dos Barracões, que hoje chegam a uma dezena em outros municípios. A experiência foi tão bem sucedida, com estímulo a grupos locais - hoje mais de 10 conjuntos amadores, com trabalhos regulares - que Barros não só decidiu apoiar a construção de um segundo Teatro Barracão, como investiu na compra do antigo Cine Plaza, para transformá-lo - ainda neste final de gestão - num confortável cine-teatro, com mais de 600 lugares.
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Enfrentando a fuzilaria de 8 vereadores - na oposição à construção do teatro Barracão-II, com recursos captados por uma empresa fundada (antes da eleição de Ricardo) por dois de seus primos - Paulo Bueno Neto - a obra, finalmente, se concretizou, com o apoio de uma centena de empresas. Concluída há 4 meses, ficou à espera de que o embaixador Sérgio Rouanet, secretário da Cultura da Presidência da República, tivesse uma data livre para, em sua quarta visita ao Paraná - e pela primeira vez no Interior - inaugurasse o teatro. O próprio Ricardo passou por Brasília - vindo de Petrolina, Pernambuco, onde havia feito uma palestra sobre municipalismo, para acompanhar Rouanet e sua assessora, Heloísa Vilhena, diretora do Departamento de Difusão Cultural, para virem à Cidade Canção. Durante cinco horas, o ministro Rouanet confirmou em Maringá aquela imagem positiva que o faz hoje uma das figuras de maior credibilidade, respeito e simpatia do governo federal: uma extraordinária competência, sinceridade e comunicação direta no enfoque da questão cultural.
Numa palestra objetiva, explicando detalhes da lei que leva o seu nome (ver matéria publicada na edição de ontem), Rouanet falou dos mecanismos criados pela lei que cria estímulos para a produção cultural e que, de princípio, já dispõe de aproximadamente Cr$ 150 bilhões para aplicações neste ano, soma que, obviamente deverá subir.
Depois da inauguração do teatro, na Praça de Todos os Santos, ao lado do cemitério (motivo também de algumas críticas por parte da oposição a Barros), Rouanet mostrou sua descontração no contato com artistas, autoridades e políticos reunidos em ecológico coquetel - no qual foram servidos exclusivamente sucos de frutas naturais - na Sociedade Hípica. Rodeado do pianista Miguel Proença e do menestrel Juca Chaves - dois artistas nacionais - coincidentemente também em Maringá no início da semana - o ministro divertiu-se com as últimas piadas contadas por Juca e, mostrou também que é um homem de boas estórias, acrescentando algumas picantes anedotas que o compositor de "Presidente Bossa Nova" disse que incluirá em seu show ("Vergonha", programado para hoje, 21 h, no Cine-Teatro Plaza, em Maringá, após ter sido levado a Londrina, Toledo e Umuarama).
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Idealizado por Constantino Viaro, quando assumiu a superintendência da Fundação Teatro Guaíra, como uma opção barata e prática para [possibilitar] que os municípios do Paraná possam ter espaços culturais, o projeto Barracão, no início patrocinado pelo Banestado, é uma idéia que começa a ser desenvolvida em outros estados.
Maringá, que apesar de ser uma das cidades de maior desenvolvimento do Estado, ecologicamente, a que tem maior arborização do país, com uma vida econômica em ascensão e que na atual administração ganhou projeção nacional, ressentia-se de teatros. O faraônico projeto do Teatro Municipal que o ex-prefeito Said Ferreira - deixou nas fundações, não tinha condições econômicas de ser viabilizado, o que levou o prefeito Barros a optar pela fórmula do projeto Barracão. O primeiro foi inaugurado poucos meses após a sua posse e o segundo, já com recursos de uma centena de empresas, demorou um pouco mais, e embora sem estar com a iluminação completa (o IBAC doou o equipamento, que chegará em breve) já pode ser utilizado para encenações amadoras, reuniões comunitárias, formaturas e outros eventos. Com 196 lugares - em um palco imenso - o [teatro] com 595 metros de área construída (120m2 no piso superior) foi oficialmente aberto com um quadro de "Os Palhaços", de Brecht - interpretado por Pedro Uchôa (melhor ator, Festival de Teatro de Canela, RS), Lorilene Mattos e Denilson Pedregulho, dirigidos por Eduardo Montagnari. Para dar um ar kitsch - e como sempre acontece nestes momentos - uma atriz local, a roliça Carmen Couto, chapéu de marinheiro e trajes infantis, subiu ao palco e ocupou 3 minutos para falar de seu "curriculum do futuro", anunciando "o que pretendo fazer para levar a glória artística de Maringá ao [Exterior]".
Um happening tão inesperado, que um grupo teatral, também animou-se a entrar no palco e apresentar um número que não havia sido previsto. Mas o clima era de festa e congraçamento, o ministro Rouanet estava feliz e fez questão de abraçar o casal Oduvaldo e Winne Bueno - avós maternos do prefeito Ricardo, que em 1947, um ano antes da instalação de Maringá como município, ali chegaram com o primeiro projeto de cinema - conforme aqui contamos na edição de 23 de fevereiro deste ano.
LEGENDA FOTO
Na inauguração do Teatro Reviver/Barracão II, em Maringá, a secretária municipal da cultura, Lidia Marques, o ministro Rouanet, o prefeito Ricardo Barros e o presidente da Câmara, Marcos Antonio Rocha Loures.
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