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Aramis

A volta do TCP para salvar nosso teatro

Constantino Viaro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, convenceu finalmente seu amigo René Dotti de que em 1989 deve ser o ano para valorizar o teatro no Paraná. Nestes dois primeiros anos, Viaro teve que colocar a casa em ordem - que assumiu no vermelho e em precaríssimas condições. Hoje, com saldo em banco, quadro de funcionários enxugado, importantes obras físicas em fase de conclusão - e, principalmente com maior liberdade de programação, Viaro parte para projetos maiores. De princípio reuniu a classe artística - representada por várias de suas entidades - e, na sua sinceridade siciliana, colocou as cartas na mesa: como está o teatro paranaense não pode continuar. Apesar de todo o idealismo e esforço de muitos artistas, diretores e produtores e técnicos a produção vem caindo assustadoramente. Falem bem ou mal, o fato é que o Teatro de Comédia do Paraná, criado no primeiro governo Ney Braga e que teve na administração Paulo Pimentel a sua grande fase, formou profissionais e levou o nosso teatro aos seus melhores momentos. Infelizmente, a mediocridade dos governantes que se seguiram a Pimentel, no trato dos assuntos culturais, provocou o esvaziamento do TCP, cujo último suspiro foi com a montagem caótica de "Cecília", texto improvisado da paulista Renata Palontini, inspirada na experiência anarquista ocorrida no final do século passado no município de Palmeira. Seja com o nome de TCP - seja com uma outra designação, o fato é que a Fundação Teatro Guaíra quer voltar à produção. Os planos são de fazer quatro produções em 1989, com critérios básicos: 1) direção competente, valorizando ao máximo elementos da terra; 2) temas que possam atrair público; 3) encenações bem cuidadas, longe dos improvisos e da mediocridade que tem marcado tantas "realizações" e que só servem para afastar o público. As lideranças mais lúcidas do teatro paranaense - como Iara Sarmento, presidente do Sindicato dos Profissionais em Espetáculos, entenderam a importância da proposta e deram seu apoio. Claro que, prioritariamente, deve-se valorizar os talentos locais. Mas isto não implica em desprezar o know-how, competência e carisma de nomes nacionais. Portanto, a primeira produção deverá ter na direção um profissional de prestígio e um grande ator ou atriz na cabeça do elenco. Pensa-se até em se motivar Paulo Autran, atualmente em cartaz em São Paulo ("Quadrante", Teatro Cultura Artística) para aqui fazer um personagem fascinante e apropriado a sua idade: "Galileu Galilei" (há 20 anos, foi Cláudio Correa e Castro quem interpretou o personagem de Brecht, numa memorável montagem do Oficina, dirigida por José Celso Martinez Corrêa). Ainda não há uma definição final para esta - ou as próximas produções a serem feitas em termos locais. Sem querer ser nostálgico e recordar a fase de ouro do TCP - com estréias nacionais de textos de Cliford Oddts ("A Vida Impressa em Dólar"), Shakespeare ("A Megera Domada"), Ibsen ("As Colunas da Sociedade") entre outras produções, o fato é que algo precisa ser feito. Imediatamente. Caso contrário o secretário René Dotti, da Cultura, que se orgulha tanto de seu passado de ator em amadorísticas montagens dirigidas por se amigo Ary Fontoura, no início dos anos 50 - e das quais guarda bem organizados álbuns de recortes e fotografias - encerrará sua gestão na área da Cultura sem ter colocado seu nome em nossa história do teatro. Ao contrário, lembrado até por omissão - o que, não vai acontecer se Constantino Viaro tiver, finalmente, condições de realizar um trabalho que já deveria ter sido iniciado há mais tempo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/02/1989

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