A volta do TCP para salvar nosso teatro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de fevereiro de 1989
Constantino Viaro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, convenceu finalmente seu amigo René Dotti de que em 1989 deve ser o ano para valorizar o teatro no Paraná. Nestes dois primeiros anos, Viaro teve que colocar a casa em ordem - que assumiu no vermelho e em precaríssimas condições. Hoje, com saldo em banco, quadro de funcionários enxugado, importantes obras físicas em fase de conclusão - e, principalmente com maior liberdade de programação, Viaro parte para projetos maiores.
De princípio reuniu a classe artística - representada por várias de suas entidades - e, na sua sinceridade siciliana, colocou as cartas na mesa: como está o teatro paranaense não pode continuar. Apesar de todo o idealismo e esforço de muitos artistas, diretores e produtores e técnicos a produção vem caindo assustadoramente.
Falem bem ou mal, o fato é que o Teatro de Comédia do Paraná, criado no primeiro governo Ney Braga e que teve na administração Paulo Pimentel a sua grande fase, formou profissionais e levou o nosso teatro aos seus melhores momentos. Infelizmente, a mediocridade dos governantes que se seguiram a Pimentel, no trato dos assuntos culturais, provocou o esvaziamento do TCP, cujo último suspiro foi com a montagem caótica de "Cecília", texto improvisado da paulista Renata Palontini, inspirada na experiência anarquista ocorrida no final do século passado no município de Palmeira.
Seja com o nome de TCP - seja com uma outra designação, o fato é que a Fundação Teatro Guaíra quer voltar à produção. Os planos são de fazer quatro produções em 1989, com critérios básicos: 1) direção competente, valorizando ao máximo elementos da terra; 2) temas que possam atrair público; 3) encenações bem cuidadas, longe dos improvisos e da mediocridade que tem marcado tantas "realizações" e que só servem para afastar o público.
As lideranças mais lúcidas do teatro paranaense - como Iara Sarmento, presidente do Sindicato dos Profissionais em Espetáculos, entenderam a importância da proposta e deram seu apoio. Claro que, prioritariamente, deve-se valorizar os talentos locais. Mas isto não implica em desprezar o know-how, competência e carisma de nomes nacionais. Portanto, a primeira produção deverá ter na direção um profissional de prestígio e um grande ator ou atriz na cabeça do elenco. Pensa-se até em se motivar Paulo Autran, atualmente em cartaz em São Paulo ("Quadrante", Teatro Cultura Artística) para aqui fazer um personagem fascinante e apropriado a sua idade: "Galileu Galilei" (há 20 anos, foi Cláudio Correa e Castro quem interpretou o personagem de Brecht, numa memorável montagem do Oficina, dirigida por José Celso Martinez Corrêa).
Ainda não há uma definição final para esta - ou as próximas produções a serem feitas em termos locais. Sem querer ser nostálgico e recordar a fase de ouro do TCP - com estréias nacionais de textos de Cliford Oddts ("A Vida Impressa em Dólar"), Shakespeare ("A Megera Domada"), Ibsen ("As Colunas da Sociedade") entre outras produções, o fato é que algo precisa ser feito. Imediatamente.
Caso contrário o secretário René Dotti, da Cultura, que se orgulha tanto de seu passado de ator em amadorísticas montagens dirigidas por se amigo Ary Fontoura, no início dos anos 50 - e das quais guarda bem organizados álbuns de recortes e fotografias - encerrará sua gestão na área da Cultura sem ter colocado seu nome em nossa história do teatro. Ao contrário, lembrado até por omissão - o que, não vai acontecer se Constantino Viaro tiver, finalmente, condições de realizar um trabalho que já deveria ter sido iniciado há mais tempo.
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