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Aramis

Depois de coçar Sarney, Zé volta com Dario Fó

José Maria Santos é, em termos paranaenses, aquilo que o veteraníssimo Paulo Autran sempre diz, desde que a fala entrou em "Liberdade, Liberdade" (1964). - Sou e serei sempre um homem de teatro! Pois o nosso bom Zé Maria, 55 anos, 35 de teatro, lapiando apaixonado, também há muito tempo vive de sua arte no palco. Só lamenta que não haja condições para montagens mais audaciosas, melhores recursos de produção e uma política cultural da qual, corajosamente, sempre soube ser um leal oposicionista. Sem querer ser nostálgico, José Maria fala, de cadeira, da decadência de nosso teatro. - "Nunca esteve pior!" Por questões práticas de sobrevivência, "pessoal e profissional" - explica, Zé Maria tem se limitado, nos últimos anos, a fazer monólogos "picantes, portáteis, comunicativos e que funcionam", admite com sinceridade. Depois de permanecer 10 anos fechado num banheiro fazendo rir milhares de espectadores em mais de 400 cidades do Sul ("Lá", de Sérgio Jockymann) e ter, corajosamente, satirizado os pés-vermelhos que chegaram a Curitiba há 6 anos, com a vitória de José Richa ("Nem Gay, Nem Bicha"), Zé vem há quase três anos utilizando suas envenenadas farpas na direção do bigodudo presidente José Ribamar: "Zé Maria Procura Sarney Para Se Coçar". - "Com estes monólogos humorísticos, deu para sobreviver". *** Agora, entretanto, José Maria parte para um espetáculo novo: "Um Casal do Barulho", de Dario Fó e Franca Rame (auditório Salvador de Ferrante, a partir do dia 23 de fevereiro), para cuja direção contratou um respeitado profissional - Roberto Vignati. Amigo de José Maria há muitos anos, Vignati se entusiasmou com a possibilidade de fazer uma peça de Fó e Franca Rame, cujos textos deliciosamente anárquicos e críticos da sociedade capitalista tem sido encenados com sucesso no Brasil: "Morte Acidental de um Anarquista", "Pegue, Não Pague", "Brincando em Cima Daquilo" e "Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico" (um dos maiores sucessos da paranaense Denise Stocklos, que levada ao teatro La Mamma, em Nova Iorque, lhe abriu as portas na Big Apple). "Um Casal do Barulho" tem apenas dois personagens - interpretados por Zé Maria e Regina Bastos. A ação, entretanto, é dinâmica, fazendo desta uma peça vigorosa, como afirmam seus atores num texto que abrirá o programa: "Não queremos oferecer às pessoas que vêm nos ver e rir conosco apenas uma possibilidade barata de se libertarem de sua indignação. Queremos que elas guardem, por assim dizer, a sua raiva na barriga. Queremos que esta raiva seja eficaz na altura de nossa luta e lhes dê a clareza necessária. O que não queremos é que os espectadores respirem de alívio, depois de deixarem a sala de espetáculos. A revolta no seu âmago deve ficar ali onde também o risco permanece, no fundo da alma e da criação. Este riso deve alimentar a raiva interior, o ódio que na luta de classes se transforma em ação". *** Com 26 anos de atuação profissional, o curriculum de Roberto Vignati, ator e diretor, é extenso. De sua estréia como ator em "Calígula", de Albert Camus, dirigido por Sérgio Cardoso, aos dias atuais, já fez dezenas de espetáculos, mereceu premiações e tem uma contribuição das mais positivas no teatro brasileiro. Seu aquecimento como diretor foi montando peças infantis, mas já procurando uma linguagem inteligente, fugindo da massificação do gênero. Passando para o teatro adulto fez montagens de autores pouco conhecidos, mas que julgava importante de serem mostrados no Brasil, como German Rozenmacher ("Réquiem para uma Noite de Sexta-feira"), do inglês John Ford (1586-1639?) ("Pena que Ela Seja uma P..."), Ugo Betti ("A Ilha das Cabras"), Siegfried Lenz ("Tempo dos Inocentes e Tempo dos Culpados"), Bernardo Santareno ("O Duelo"), entre outros. Depois de encenar um clássico de Eugene O'Neil ("Longa Jornada Noite Adentro") e um vigoroso drama de Martin Sherman ("Bent"), que teve duas versões e lhe deu doze prêmios, e um espetáculo que conquistou mais de 18 premiações ("Bella Ciao", de Alberto de Abreu), Vignati se apaixonou pelos textos anárquicos de Dario Fó e Franca Rame. Traduziu "Brincando em Cima Daquilo" que encenado por Marília Pêra ficou dois anos em cartaz. Depois outro sucesso dos mesmos autores: "Casal Aberto, Ma Non Troppo". Portanto, agora, encenando um texto inédito (no Brasil) de Dario Fó e Franca Rame, Vignati dá a José Maria Santos a chance de ter um espetáculo que poderá permanecer muito tempo em cartaz. LEGENDA FOTO - Zé e Regina: "Um Casal do Barulho", no Guaíra a partir do dia 23.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/02/1989

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