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Aramis

Graças a lei de Tulio, o teatro é José Maria

Nem o deputado (e vice-prefeito) Algaci Tulio, nem o governador Roberto Requião foram amigos íntimos do ator José Maria dos Santos. Conheceram, naturalmente, o mais profissional dos homens de teatro que o Paraná já teve, admiravam sua resistência e independência artística, e como milhares de outras pessoas, sentiram a sua morte há 19 meses passados. Entretanto, ao contrário de algumas pessoas que conviviam com José Maria (Guarapuava, 12/12/1933 - Curitiba, 04/01/1990) e apregoavam uma grande "amizade" e "coleguismo", Tulio e Requião demonstraram agora que são pessoas coerentes e que sabem valorizar quem merece. Ao sancionar a proposta apresentada na Assembléia por Algaci Tulio, oficializando o nome José Maria dos Santos ao Teatro na Rua 13 de Maio, o governador Requião encerrou uma polêmica tão desnecessária como reveladora da mediocridade de três ou quatro "animadores" (?) de nossa vida artístico-cultural. Isto porque aquilo que deveria ser o óbvio - o reconhecimento pós-morte dos esforços que o intérprete de "Lá" (seu maior êxito, 11 anos em cartaz) fez para que Curitiba tivesse uma sala de espetáculos alternativa, liberta das (às vezes nefasta) influência oficial - tanto do Estado como do Município - por si só o credenciava como merecedor da homenagem maior. Entretanto, poucos dias após a sua morte, a idéia de que o jornalista Ruy Barroso levantou para batizar o teatro com o seu nome começou a sofrer bombardeamentos por parte de algumas pessoas que, inexplicavelmente, deveriam apoiar o movimento. O então secretário da Cultura, René Dotti - embora ligado afetivamente a José Maria - preferiu uma posição de Pilatos, lavando às mãos e deixando de tomar a posição que poderia cortar a polêmica no nascedouro. Assim, estimulada por pessoas que, em vida, se diziam amigas de José Maria, começou a se questionar a "oportunidade" de tal evento, tentando-se desonestas "posições negociáveis" - como a de dar a Zé Maria o nome de um dos auditórios. Felizmente, não só o jornalista Ruy Barroso, mas outras pessoas - e entre as quais temos o orgulho de nos incluir - não aceitaram esta violência e continuaram a clamar pela designação oficial. O deputado Algaci Tulio (PDT), um parlamentar atento às questões culturais (o que o faz ver com muitas restrições a atual política desenvolvida pelo município) oficializou a proposta e agora, o governador Requião sacramentou o decreto. xxx Mas de nada adianta existir um decreto que dá o nome de José Maria dos Santos a um teatro, se não há o teatro. E aquilo que foi, há anos passados, uma casa de espetáculos atuante, com um ótimo auditório, salas de ensaio e um bar-restaurante equipado com um palco no qual por todo um semestre Zé Maria divertiu o público com "Ney Gay, Nem Bicha" (1985/86) é hoje apenas um buraco com uma fachada para a Rua 13 de Maio. Uma comédia de erros e desencontros fez com que a construção praticamente despencasse quando uma empreiteira sem maiores condições técnicas foi contratada em fins de 1990 para iniciar a reforma do prédio. O projeto que uma arquiteta das mais competentes - Maria Helena Paranhos, 40 anos, da turma de 1975 da Universidade Federal do Paraná - elaborou com inteligência, teve que ser refeito. Nas pranchetas do escritório de Maria Helena - com ajuda de dois profissionais associados, Paulo Pacheco e Renato Kosoviski, nasceu a proposta que dará a cidade não apenas uma área cultural de 1.350 metros, com dois auditórios e um espaço livre para espetáculos diversos - mas também aproveitará as potencialidades do setor histórico, oferecendo uma rua para pedestres com passagem para o Largo da Ordem. Esta rua de pedestres - na linguagem técnica "servidão de passagem" - só se tornará possível graças a colaboração do empresário libanês Hibrain Hammound, proprietário da área de 2.200 metros quadrados hoje ocupada por um movimentado estacionamento (*). Hammound - um dos árabes mais ricos do Paraná, é proprietário de vários prédios naquela quadra, inclusive tendo adquirido a antiga malharia Curitibana - que depois virou o Teatro da Classe. A campanha feita pela preservação do espaço cultural mereceu apoio do secretário René Dotti, que convenceu ao governador Álvaro Dias a declarar de utilidade pública o prédio. Foi uma vitória, mas até hoje incompleta, pois as obras não andaram (apesar de mais de Cr$ 50 milhões terem sido canalizados há quase dois anos) e até agora o que existe é o projeto feito por Maria Helena Paranhos, cuja maquete, aliás, está desde 1990 no hall de entrada do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. A secretária Gilda Poli, da Cultura, na quinta-feira pela manhã, reuniu-se com Maria Helena, o coordenador do Patrimônio Histórico, Sérgio Todeschini Alves e outros assessores para rediscutir a estratégia para que o Teatro José Maria Santos deixe de ser apenas um grande buraco na Rua 13 de Maio e torne-se em um efetivo Centro Cultural. Nota (*) Em troca da doação de uma área de 6 x 80 metros que permitirá a rua de pedestres ligando o Largo da Ordem a Rua 13 de Maio, o empresário Hibrain Hammound ganhou o direito de utilizar também o subsolo de seu terreno - para um estacionamento (que atenderá ao teatro) e edificar lojas de dois pavimentos - o que normalmente é vetado no Setor Histórico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
21/09/1991

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