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Aramis

O idealismo de Zé Maria não teve a continuidade

Embora afastado há 4 anos da Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado do Paraná - entidade que idealizou, fundou e presidiu entre 1979/1982, José Maria Santos é um homem preocupado com o triste fim do Teatro 13 de Maio - que nasceu com o nome de Teatro da Classe. O mais profissional dos homens de teatro do Paraná, José Maria Santos, 53 anos, paranaense da Lapa, 30 de vida artística, fez o teatro da Classe com o suor de seu rosto, entusiasmo e idealismo. Para isto, se empenhou a fundo, por mais de dois anos, para que um velho barracão de alvenaria, que, no passado havia sediado a Malharia Curitibana - destruída num incêndio, se reerguesse como um pulsante centro cultural em área privilegiadíssima - no Setor Histórico de Curitiba, próximo ao centro e de fácil estacionamento. xxx Com o projeto do arquiteto José LaPastina (o mesmo que agora cuida das obras a toque-de-caixa para a inauguração política do Museu de Arte Paranaense, no Palácio São Francisco), o Teatro da Classe foi construído com ajuda do antigo Serviço Nacional de Teatro (hoje Inacem), na época presidido por Orlando Miranda, e da Fundação Curltural de Curitiba. Mas as verbas oficiais não seriam suficientes se não fosse o entusiasmo de José Maria, seu empenho na adiminstração direta, carregando literalmente pedras e tijolos, com ajuda de seus filhos e esposa, para concluir o teatro, inaugurado, no dia 13 de abril de 1982. xxx José Maria dos Santos idealizou o Teatro da Classe como um espaço alternativo, oferecendo aos produtores de espetáculos do Estado um confortável auditório de 200 lugares, amplos camarins e palco suficiente para a montagem de peças. Ao contrário dos auditórios do Teatro Guaíra e mesmo do Paiol (este, hoje também abandonado), O Teatro da Classe poderia ser ocupado por meses com um mesmo espetáculo, formando platéias. Sonhava Zé Maria que seria possível recuperar os tempos do antigo teatro de Bolso, que, nos anos 50/60, num prédio da Legião Brasileira de Assistência, na Praça Rui Barbosa, possibilitou que a Sociedade Paranaense de Teatro, dirigida por Ary Fontoura (há 23 anos, radicado no Rio de Janeiro e hoje um artista de fama nacional) ali encenasse grandes sucessos. Afinal, quem tem mais de 40 anos, lembra-se de que no pequeno mas simpático Teatro de Bolso, as comédias "Nêga de Maloca" e "Ela Só é Society", de Cícero Camargo de Oliveira, com Ary e Odelair Rodrigues, permaneceram meses em cartaz, com bom público. Espetáculos fortes e agressivos para a época - como "Massacre", de Emanoel Robbles, também ali foram encenados, ao lado de deliciosas sátiras-revistas, escritas e interpretadas por Ary e o saudoso Maurício Távora (1939-1986). Infelizmente, aquele espírito artístico que fez o Teatro de Bolso marcar uma época não se repetiu. Assim, embora tivesse aberto o novo Teatro da Classe para que os ditos "empresários" da cidade montassem o espetáculo de inauguração, ninguém se habilizou e o próprio Zé Maria teve que se desdobrar também como produtor-diretor-ator da comédia "A Reputação Dos Quatro Bicos", do engenheiro-dramaturgo Luis Groff. Comédia irreverente, com personagens tipicamente curitibanos - a começar pelo próprio ambiente em que se passava a ação (a última das casas-de-tolerância da cidade), "A Reputação dos Quatro Bicos" permaneceu 7 meses em cartaz, vista por mais de 15 mil pessoas. Um bom trabalho de marketing - que incluiu até a edição de agendas e calendários, com o logotipo da peça - provou que, com boa administração, uma montagem local pode ter público significativo. xxx José Maria Santos não ficou apenas na montagem de "A Reputação dos Quatro Bicos". Aceitando o desafio de um novo horário - à meia-noite, das sextas-feiras e sábados, apresentou por 6 meses, com casas repletas, a deliciosa "Nem Gay, Nem Bicha", satirizando os donos do poder político. Para este espetáculo, na base do one-show-man, Zé criou também um novo palco - no bar-restaurante "Ponto de Encontro", que, sob sua administração, tinha uma ótima freqüência. Infelizmente, uma andorinha não faz verão e a partir do momento em que José Basso - hoje superintendente da Fundação Teatro Guaíra substituiu a José Maria na Associação - , começou a decadência do Teatro da Classe. Faltaram bons espetáculos, inexistiu a mínima estrutura de relações públicas e divulgação (ao ponto de muitas peças ali apresentadas não serem sequer comunicadas à imprensa), de forma que mesmo com sua transformação em Teatro 13 de Maio - e anunciados planos de reestruturação, não salvaram artisticamente o local. Paralelamente, os proprietários do imóvel decidiram vendê-lo pela melhor oferta. Assim, os herdeiros do espólio Heller - Danilo Darwim Lindman, Gertrud Hoffman Lindman, Renato e Mário Hoffman Ramos, Sérgio Ramos, Gunther Herbert Hoffman e Eliseth Prosdócimo Hoffman, em 4 de agosto de 1986 venderam o imóvel para os libaneses Ibrahim Hammond e Hussein Salim Jezzini. Valor da transação: Cz$ 4.500.000,00. Sem vínculos culturais com a cidade, preocupados apenas com o lucro, os novos proprietários (que já são donos de outros valorizados imóveis na cidade) não tiveram dúvidas: iniciaram em 15 de outubro de 1986 a ação de despejo da Associação.Com os inquilinos do Bar-Bay e o Stúdio D, as negociações foram amigáveis. Com a Associação dos Produtores a questão acabou na Justiça que, nas próximas semanas, dará a última palavra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
13/02/1987

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