"Lá" vai o bom Zé, mais uma vez nas estradas da comédia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de julho de 1989
José Maria Santos, 55 anos, 35 de teatro, está novamente na estrada. Com seu Galaxie 1967 adaptado para transportar bagagens e cenários, o mais profissional dos homens de teatro do Paraná faz um circuito pelo Interior de São Paulo com a peça de maior sucesso de sua vida - "Lá", do gaúcho Sérgio Jockyman, que desde fevereiro de 1971 já teve mais de 1.200 apresentações. No Paraná, em diferentes ocasiões, José Maria levou este monólogo a mais de 150 cidades, atingindo 60 em Santa Catarina e mais de 80 no Rio Grande do Sul. Em cada temporada encontra um novo público que se identifica com a tragicomédia do cidadão que ficou preso num WC num alongado fim de semana e que, impossibilitado de sair, passa a fazer reflexões sobre a vida.
- "Lá" tem uma empatia e uma atualidade que, felizmente, permanecem. Graças a isto, é que o tempo passa e o interesse aumenta" - explica José Maria.
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Nos últimos 18 anos, José Maria Santos, lapeano, 5 filhos, que no inicio dos anos 60 decidiu viver só de teatro, fez mais de uma dezena de outras peças - sem contar as 27 encenações que dirigiu com alunos do Centro de Ensino Tecnológico do Paraná, na qual é professor de teatro - e que ainda agora vai encenar "Médico a Força", de Moliére. A atual temporada por 40 cidades paulistas - que deverá estender-se até o final do ano - está sendo bancada pelo próprio Zé Maria: ao invés de vender os espetáculos a preço fixo, encara a bilheteria "e tenho tido bons resultados, pois mesmo sem ser um artista global, consigo atrair uma média de público que garante o pagamento das despesas e permite um pequeno lucro", explica.
A temporada volante de "Lá" foi a opção que José Maria teve para recuperar-se financeiramente após o desastre que foi a produção de "Um Casal do Barulho", do italiano Dario Fó, que montou há alguns meses. Apesar da qualidade do texto, da boa direção do seu amigo Roberto Vignatti e do trabalho dividido com a atriz Regina Bastos, a peça não funcionou e lhe deixou com uma dívida de mais de NCz$ 5 milhões - "felizmente já coberta, mas que me obrigou a venda de um aparelho de telefone", lamenta.
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O sucesso permanente de "Lá" - que surpreendeu até o próprio autor, Sérgio Jockyman, jornalista, ex-candidato a Prefeitura de Porto Alegre nas últimas eleições e que há 5 anos edita o semanário "Jornal do Jockyman", de boa circulação na capital gaúcha - faz com que José Maria se aproxime já de dois exemplos clássicos de monólogos que identificaram atores tradicionais do teatro brasileiro: Rodolfo Mayer, com "As Mãos de Eurídice", de Pedro Bloch e Procópio Ferreira, com "Esta Noite Choveu Prata", de Joracy Camargo. No Paraná, o polono-brasileiro L. Romanowski, com seu "Retrato de Wlade", também foi durante anos um exemplo de monólogo bem sucedido.
- "No caso de "Lá" há um fato diferente - diz José Maria. Com o passar do tempo torna-se possível atualizar o texto, mas sem perder a sua estrutura básica. E isto é que permite uma empatia tão grande - com espectadores de diferentes segmentos culturais e faixas etárias diversas".
Antes de José Maria conseguir os direitos de "Lá" a peça havia sido montada - sem sucesso - por Paulo Goulart, em São Paulo. Em 1971, a encenação original teve direção de Clóvis Levi, na época residindo em Curitiba, como professor do curso de Artes Cênicas da Fundação Teatro Guaíra. Maurício Távora criou os cenários originais. Naturalmente que hoje, 18 anos depois, o espetáculo tem a cara e a forma de José Maria - que soube, com uma rara picardia, conservar o espírito do humor jockyniano e, especialmente, dosar o monólogo de tal forma que, correndo os mais diferentes pontos do Sul - e agora pelas cidades do Interior de São Paulo - atrai (e principalmente, diverte) - um público que, mesmo com todas as atrações da mídia eletrônica, vai aos locais em que Zé se apresenta para lhe dar o carinho e aplausos merecidos.
LEGENDA FOTO - Zé Maria: nas estradas paulistas com seu "Lá".
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