Um amplo fórum para o debate da cultura
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de maio de 1991
O vereador Jorge Bernardi (PDT) aproveitou a sessão de segunda-feira, 13, na Câmara Municipal, para levantar uma ótima idéia: a criação de um conselho municipal de cultura e, especialmente, a promoção com auspícios do Legislativo, de um seminário em que vários aspectos da questão cultural sejam, discutidos em profundidade. Uma proposta excelente, aplaudida por todos e que se torna necessária para possibilitar que seja realmente definida uma política cultural oficial - já que na atual administração, nunca foi apresentada pela FCC um projeto a respeito.
Mais do que a discussão de detalhes relacionados às demissões na cinemateca ou sobre a violência que impediu a gravação do penúltimo show de Luiz Gonzaga Junior (*), a questão cultural é bem mais ampla e envolve tantos aspectos que só em várias sessões se poderá ter um panorama mais amplo de se encontrar veredas para que os recursos oficiais destinados a este setor sejam melhor utilizados. Vereadores como Jota Pê (José Aparecido Alves - PDT), Jorge Samek (PT), Geraldo Yamada (PTB) e outros denunciaram aspectos relacionados a Mostra Internacional de Cinema, que em duas edições patrocinadas pela FCC (1989/90) canalizou milhares de dólares ao paulista Leon Cakoff e teve resultados dos mais discutíveis, bem como em torno do curso de Ética, que trazendo 40 professores de São Paulo e Rio de Janeiro, num custo de Cr$ 5 milhões, desprestigiou intelectuais paranaenses - que, segundo Lúcia Camargo afirmou publicamente não tinham condições de participar deste evento. Os vereadores Jorge Samek e Doático Santos foram incisivos em suas críticas - o segundo, inclusive, denunciando os gastos imensos que são feitos pela Fundação Cultural em recepções e mordomias, merecedoras de investigação mais detalhada.
O vereador Vanhoni tocou em outra grave questão: a politicagem que o deputado Rafael Grecca de Macedo vem fazendo em torno da comissão dos 300 anos de Curitiba. Vanhoni perguntou qual é a relação que o deputado Grecca tem com a Fundação para justificar sua presença tão próxima ao organismo oficial utilizando sua estrutura e recursos para sua insaciável fome de autopromoção política? Esta pergunta ficou sem resposta por parte da Presidente da Fundação Cultural de Curitiba.
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A sessão de 13 de maio de 1991 da Câmara deve ficar na história das lutas pelos direitos da cidadania. Os vereadores de nossa cidade, honrando os cargos para os quais foram eleitos, deram início a uma ação corajosa para examinar com atenção os desmandos culturais (**). Com bem observou o vereador Vanhoni, foi esta a primeira vez que se discutiu, durante toda uma sessão, a questão cultural. E, para esperança de quem acredita nos homens públicos desta cidade, por certo não será a última.
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NOTA: (*) Mais uma vez a sra. Lúcia Camargo procurou mentiras para justificar as violências ocorridas no Teatro do Paiol na noite de 20 de abril. De viva voz, provamos aos vereadores que suas alegações não procediam.
(**) Em nenhum momento da sessão, qualquer vereador fez pronunciamento de apoio as atitudes tomadas por Lúcia Camargo e Celise Niero. Mesmo o vereador João Gorski, ligadíssimo ao prefeito Jaime Lerner, se limitou a fazer uma pergunta para que Lúcia Camargo lesse um monótono relatório das atividades da FCC - o que não estava em julgamento. Além dos vereadores citados no texto acima, também usaram da palavra as vereadoras Nelly Almeida e Rosa Maria Chiamulera e o vereador Luiz Ernesto, lamentando que problemas como os levantados não fossem solucionados através do diálogo e entendimento.
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