Câmara inicia devassa nos desmandos da FCC
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de maio de 1991
Apesar da intervenção do prefeito Jaime Lerner na crise provocada pela inabilidade, incompetência e autoritarismo das sras. Lúcia Camargo e Celise Niero da Fundação Cultural de Curitiba, a demissão dos cinco funcionários da Cinemateca do Museu Guido Viaro e a violência cometida contra a Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira chegou a Câmara Municipal, que desde a semana passada começou a se preocupar pelos desmandos que vem ocorrendo neste setor da administração municipal.
Assim, ao mesmo tempo em que o vereador Mário Celso, vice-presidente da casa e coordenador da bancada do PMDB, encaminhou no dia 3 de maio um pedido de informações sobre a arbitrariedade da assistente social Celise Niero, na noite de 20 de abril no Teatro de Paiol (que resultou em que o cinegrafista Rafael Brenner Silva fosse assaltado há poucos metros do Paiol - e impedindo a gravação do penúltimo show de Luiz Gonzaga Jr em Curitiba) - medidas mais profundas em relação aos desmandos da FCC foram tomadas. O vereador Angelo Vanhoni (PT) propôs a convocação da própria presidente da Fundação Cultural, Lúcia Camargo, para a sessão de ontem à tarde - o que é bastante significativo: foi esta a primeira vez, desde que o prefeito Jaime Lerner, em sua primeira gestão, criou a Fundação Cultural de Curitiba (*), que um dirigente desta instituição comparece na Câmara, intimado a prestar esclarecimentos devido a fatos gravíssimos denunciados pela imprensa e Sindicato dos Servidores Municipais.
Assim como o vereador Mário Celso, homem de comunicação dos mais conceituados na cidade sempre se preocupou em fiscalizar e denunciar desmandos na área cultural, o vereador Angelo Vanhoni tem se revelado um dos homens públicos mais atentos com a questão cultural. Em 16 de janeiro de 1991, Vanhoni apresentou um projeto de lei que cria incentivo fiscal para a realização de projetos culturais no município de Curitiba.
A exemplo do que acontece em São Paulo, onde a prefeita Luiza Erundina já regulamentou a chamada "Lei Mendonça"- que trouxe incentivos fiscais a quem financiar produções locais - Vanhoni, lucidamente, tomou a dianteira e propôs no início do ano um projeto semelhante.
Preocupa-se, entretanto, o vereador Angelo Vanhoni - a exemplo de outros integrantes do Legislativo municipal - como a forma com que os recursos que o prefeito Jaime Lerner tem canalizado para a Fundação Cultural vem sendo queimados em promoções das mais discutíveis. Assim, seu projeto de lei que visa estimular projetos em todas as áreas culturais, terá controle de uma comissão independente e autônoma, formada por pessoas de comprovada idoneidade e de reconhecida notoriedade na área cultural, capazes de garantir a boa utilização dos recursos que venham a serem captados pela lei que entrará em votação em breve.
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Os episódios ocorridos a partir do dia 20 de abril - a violência cultural contra a Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira, demissões injustas de funcionários do Centro Cultural do Portão e especialmente da Cinemateca do Museu Guido Viaro - colocaram a já delicada situação da Fundação em maior evidência. Afinal há muito tempo que tanto o prefeito Jaime Lerner vem recebendo denúncias e reclamações especialmente em relação aos "métodos de trabalho" e "iniciativa" altamente discutíveis tomadas pela assistente social Celise Niero e por Lúcia Camargo - como acusações ainda mais graves tem também chegado à área legislativa. Assim, para esclarecer os fatos e verificar realmente a situação de um setor importante e sensível, o prefeito Jaime Lerner decidiu começar uma nova intervenção branca na Fundação, enquanto os vereadores da oposição em seus legítimos direitos de legislar e fiscalizar em favor do município - se propõe a ir a fundo na questão. A convocação da diretora da Fundação para comparecer na Câmara, ontem à tarde - independente das explicações que ela possa dar - representam apenas o início de uma fase em que promoções caríssimas, distantes da realidade de nosso município e com retornos mínimos para a população - devem cessar. Afinal não há tanto dinheiro sobrando para que o município desperdice quase Cr$ 3 milhões por dia, com uma fundação que é questionadíssima em seu funcionamento.
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