Prepotência e assalto à mão armada no Paiol
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de abril de 1991
Um documentário destinado ao banco de dados da Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira sobre o compositor-intérprete Luiz Gonzaga Júnior - com autorização formal do autor - foi impossibilitado de ser realizado na noite de sábado, 20, devido a intolerância e grosseria da diretora de Ação Cultural da Fundação Cultural de Curitiba, assistente social Celise Niero.
Impedindo a entrada do cinegrafista Rafael Brenner e Silva, a diretora da FUCUCU, mesmo sendo informada, momentos antes, pelo empresário de Gonzaguinha, advogado Renato Costa, de que a filmagem havia sido previamente autorizada, acabou provocando, indiretamente, que o cinegrafista sofresse um assalto a menos de 150 metros do Teatro Paiol. Isto porque além de impedir sua entrada no teatro, a assistente social Niero, recusou-se também chamar a administradora daquela sala, Sra. Patrícia Deffés - mentirosamente alegando que a mesma não se encontrava no local - quando ela ali estava. Também não permitiu que o cinegrafista Rafael Brenner e Silva pudesse fazer contato com o coordenador da filmagem, que o aguardava e que, obviamente, procuraria uma solução. Assim, o cinegrafista foi obrigado a se afastar do Paiol e procurar um telefone nas redondezas para solicitar um táxi (já que inexiste ponto defronte ao teatro) - e retornar ao centro, quando quatro marginais, fortemente armados, o cercaram, despojando-o de seu equipamento, e mais uma máquina fotográfica, relógio e dinheiro. Só quando Rafael Brenner e Silva retornou ao Paiol para pedir ajuda - naturalmente assustado e chocado com a violência que acabara de sofrer - foi que pode adentrar ao teatro e chamar pessoas amigas. Então, tentando redimir-se da situação que havia causado, a diretora da FUCUCU, se propôs a acompanhá-lo à Delegacia de Furtos e Roubos, no bairro do Capanema, onde que a queixa do assalto foi registrada.
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O episódio que resultou em elevado prejuízo material, veio expor a fragilidade na segurança da área em que funciona o Teatro Paiol. Já por várias vezes o diretor da Polícia Civil, advogado e ex-vereador José Maria Corrêa, procurou mostrar ao prefeito Jaime Lerner a necessidade de que alguns elementos da Guarda Municipal auxiliem na segurança do teatro na Praça Guido Viaro - local em que tem ocorrido assaltos a pessoas e, especialmente, roubos de veículos.
Tendo sido implantada na excelente administração municipal de Roberto Requião - do qual José Maria Corrêa foi chefe-de-gabinete e um dos responsáveis por sua criação - a Guarda Municipal deveria zelar pelo próprio município, protegendo o público que deles se utiliza. Infelizmente, nunca se viu um guarda municipal nas imediações do Teatro Paiol - o qual, é constantemente cercado de marginais, que, inclusive, tem assustado e afastado o público.
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Ao impedir o acesso ao teatro de um cinegrafista, que havia recebido autorização do artista para registrar em vídeo o seu espetáculo, a diretora da Fundação já deu mostra de um autoritarismo e incompreensão para com uma atividade cultural. Entretanto, o mais grave foi ter se recusado a permitir que o mesmo sequer se comunicasse com pessoas que se encontravam no interior do teatro, que poderiam evitar que, ao se afastar em busca de um local para telefonar, fosse assaltado - tendo sua vida, inclusive, ameaçada por marginais.
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Fundada em Curitiba, em 1º de março de 1975, a Associação dos Pesquisadores de Música Popular Brasileira, procura, através de seus associados, reunir material documental sobre personalidades da música brasileira. Luiz Gonzaga Jr., que classifica como um novo reinicio o espetáculo-solo que aqui apresentou no último fim de semana, não só autorizou a filmagem de seu espetáculo como enalteceu a iniciativa que a instituição, com investimentos de seus membros, realiza para salvaguardar a nossa memória. Dezenas de outros nomes da maior expressão musical já tiveram depoimentos, em áudio e vídeo, gravados pela Associação, incluindo os shows que apresentam, pois reconhecem o importante trabalho exclusivamente cultural, que busca preservar várias fases da nossa vida artística. Material este, aliás, que já foi utilizado em pesquisas, livros e mesmo especiais sobre compositores, intérpretes e instrumentistas que aqui tiveram registrados momentos importantes de suas carreiras.
A FUCUCU, através de atitude grosseira de uma diretora despreparada para a função que ocupa, ao mesmo tempo em que prejudicou um trabalho idealista, sem fins lucrativos, ainda provocou que, um equipamento de alto valor fosse roubado a poucos passos de um espaço que, criado há 20 anos com nobres finalidades e destinado a se tornar um símbolo cultural de Curitiba, vem sofrendo um processo de esvaziamento. Prova disto é que a biblioteca Augusto Stresser, inaugurada em 1972, foi desativada e fechada há anos. Com isto, o bairro - que utiliza a biblioteca (que chegou a manter uma boa programação destinada a crianças e adolescentes) ficou prejudicado. A família Stresser até hoje não entende a razão pela qual o município desinteressou-se de manter aquela unidade cultural que homenageava um dos nomes marcantes de nossa vida musical dos anos 20/30.
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