Perfil - Vanhoni, um vereador da Cultura
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de setembro de 1991
Conseguindo ver aprovado, por unanimidade, o projeto de lei 16/91, que cria incentivos fiscais para projetos culturais, o vereador Ângelo Vanhoni sentiu uma grande emoção. Mais do que apenas uma feliz iniciativa - entre tantas que vem tomando, em sua corajosa e independente atuação na Câmara de Curitiba (credenciando-se como um dos melhores vereadores que por ali já passaram), Vanhoni sentiu que ao ter o apoio inânime de seus 32 colegas na sessão de 12 de agosto último ter apresentado em janeiro último, um projeto que se fazia necessário para Curitiba.
Pela sua própria formação familiar - filho de um professor parnanguara, Vidal Vanhoni, 70 anos, que chegou a ser secretário de Educação e Cultura nos anos 60, ele próprio também formado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná e tendo feito parte do curso de Letras na Federal e exercido a profissão de mestre em alguns colégios da Capital, Ângelo Vanhoni é uma pessoa integrada a movimentos culturais autênticos e libertos das panelinhas dos organismos oficiais - especialmente da abominável Fucucu, cujas irregularidades e desmandos tem merecido sua constante vigilância e seguidas denúncias.
Bancário do Banestado, ex-líder estudantil - chegou a vice-presidência da UPE e tendo se destacado na liderança que o levou a merecer 3.500 votos nas últimas eleições, Ângelo Vanhoni é grato a amigos intelectuais que sempre o apoiaram. Entre eles, lembra com emoção, Paulo Leminski (1944-1989), que junto a Ricardo Corrêa, Antônio Sérgio Cecatto e o hoje próspero publicitário José Buffo ("Heads"), fizeram parte de sua roda durante alguns anos.
Apreciando o cinema e teatro, no ano passado, Vanhoni chegou a mostrar seu talento como ator: a pedido de um amigo, o fotógrafo e videasta André Rassi, fez um personagem na adaptação em vídeo do "Praga", inspirado no texto do escritor checo Franz Kafka.
O vídeo (exibido na recente mostra realizada no auditório cultural Antônio Carlos Kraide, no Centro Cultural do Portão) mereceu elogios e sua atuação foi destacada.
Homem de muitas leituras, apreciador de compositores como Chico Buarque, Caetano, Gil e Tom Zé, não escondendo um passado de poeta bissexto - Ângelo Vanhoni, 37 anos completados no dia 19 de junho, nascido em Paranaguá mas desde criança residindo em Curitiba, lamenta que as responsabilidades como vereador e, especialmente, líder bancário e comunitário que diariamente mantém contatos com dezenas de pessoas e participa de duas a três reuniões - afora seu expediente normal na Câmara (é um dos vereadores mais presentes e atuantes), lhe impeçam de acompanhar melhor a programação cultural da cinema, "como espectador, pois informado eu me mantenho".
Justamente por exercer um trabalho atento, observando a forma com que a Fundação Cultural de Curitiba - que hoje dispõe de um orçamento generoso (quase Cr$ 3 bilhões até o final do ano, com um gasto/dia de Cr$ 7 milhões) é que Vanhoni preocupa-se pela falta "de um programa efetivamente cultural voltado em benefício da população" - e que não se limita a eventos de fachadas, "geralmente prestigiando e favorecendo financeiramente pessoas de outros Estados". Longe de qualquer xenofobismo - ao contrário, vendo como necessário um intercâmbio, Vanhoni quer, entretanto, ver melhor aplicado os recursos oficiais, "cobrados da população através dos pesados impostos". Seu projeto de lei, que significará seguramente mais de Cr$ 2 bilhões (este ano já chegaria a Cr$ 900 milhões, se a lei fosse sancionada rapidamente pelo prefeito Jaime Lerner) prevê que estes recursos deverão ter utilização, no mínimo em 80% para produções de criação local. E justamente para evitar as distorções que a diretoria da Fucucu faria caso viesse a ter acesso a este considerável reforço financeiro, o seu decreto-lei prevê a constituição de um conselho, totalmente independente, formado em sua maioria por representantes das categorias artísticas e profissionais das áreas a serem beneficiadas (cinema, teatro, vídeo, fotografia, literatura, artes plásticas, patrimônio histórico-artístico, folclore, etc.).
Mesmo integrando-se a independente bancada do PT - que tem se mantido vigilante e crítica na Câmara, especialmente na análise de questões altamente polêmicas (como o bonde urbano), Vanhoni acredita que o prefeito Lerner não vetará o seu projeto, que teve apoio unânime dos vereadores:
- "O prefeito Jaime Lerner é um homem inteligente, que embora mal assessorado em muitas ocasiões, sabe do alcance de nosso projeto e o quanto ele significa para que Curitiba tenha realmente um deslanche em sua criatividade artística".
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Nesta terça-feira, 10, o vereador Vanhoni promove na sala Scabi (Solar do Barão), a partir das 20h30, um debate sobre a questão cultural em Curitiba. Para participar deste salutar encontro, foi convidado o crítico de teatro e animador cultural Edelcio Mostaço, assessor da Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo, e que falará sobre a "Lei Mendonça", já sancionada e em fase de implantação, que beneficia inúmeros projetos culturais em São Paulo.
LEGENDA FOTO - Ângelo Vanhoni, autor da lei que cria estímulos fiscais para projetos culturais.
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