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Câmara entrou no bonde da cidade com debate salutar

Ao encerrar a longa sessão da última terça-feira, 27, às 19h40, o presidente Horácio Rodrigues, 56 anos completados ontem, sintetizou as quase seis horas de discussões em torno da questão do Projeto Bonde Moderno de Curitiba. - "Mais do que o questionamento dos múltiplos aspectos que envolvem um projeto desta dimensão, com ardorosos defensores e corajosos críticos, o importante é que haja o debate amplo, democrático e necessário". Dando uma nova prova de maturidade política e real interesse em torno das questões ligadas ao nosso município, a Câmara houve por bem reabrir o debate em torno da grande meta administrativa do prefeito Jaime Lerner: implantar um sistema de transporte moderno, rápido econômico e eficiente. Idealizado já na administração anterior, evoluindo mesmo durante o período em que Lubomir Fincinski presidiu - com a maior eficiência, aliás - o IPPUC (gestão Saul Raiz) e retomado por Lerner no segundo dia desta sua terceira administração, o projeto ganhou aprovação da própria Câmara em 17 de outubro de 1990, através da lei nº 7.556. Entretanto, pela complexidade e, especialmente, custo benefício que envolve (ou seja, endividamento de mais de US$ 140 milhões), bem como a forma em que será operado, alguns vereadores independentes - liderados pelo peemedebista Doático dos Santos (que, frise-se, só assumiu como suplente posteriormente a aprovação da Lei 7.556), vem denunciando vários aspectos do projeto. Através de um comitê Suprapartidário contra a Maracutaia do bonde - da qual faz parte além de Doático, o seu colega e vice-líder do PMDB, Paulo Salamuni e os petistas Jorge Samek, Sílvio Miranda e Angelo Vanhoni, o debate tornou-se necessário - especialmente porque a maior parte da população continua ignorando totalmente o que será o bonde - seus benefícios, sua necessidade e, sobretudo, os encargos financeiros que trará para futuras administrações. Assim, ao mesmo tempo que o vereador Doático Santos busca até em via judicial (com uma ação popular) contra o que chama agressivamente de Maracutaia, outros vereadores - mesmo apoiando o projeto - acreditam que há necessidade do mesmo ser discutido com mais vagar (a grande queixa é de que em outubro de 1990, a mensagem encaminhada por Lerner foi insuficientemente debatia). Portanto, a sessão especial da última terça-feira foi bastante esclarecedora - embora ainda não definitivamente. O engenheiro Cassio Taniguchi, presidente do IPPUC - que se fez acompanhar de seu colega, arquiteto Carlos Ceneviva, presidente da URBS (que gerencia o transporte coletivo urbano) deu mostras de firmeza, habilidade e educação, mantendo sua tranquilidade oriental para responder mais de 30 questões. Como convidados especiais, o técnico Afonso Lobo Filho, assessor da Secretaria Municipal de Transporte de São Paulo e o jornalista Luiz Geraldo Mazza também trouxeram suas contribuições. O primeiro, falhando um pouco pela falta de objetividade, não chegou a dizer claramente sua posição, talvez numa prudência de convidado a opinar em assuntos de uma outra cidade. Já Mazza, com sua conhecida verborragia, levou em suas intervenções toda a paixão e entusiasmo que o caracteriza em suas colunas - até julho último no "Correio de Notícias", agora na "Folha de Londrina" - nas quais tem se mostrado um crítico implacável do projeto do bonde curitibano. Sem meias palavras, com um pouco de humor, emocional, Mazza esteve tão irado em certos momentos como os vereadores Vanhoni e, especialmente Doático, os principais críticos ao projeto. Da parte da bancada oficial, os vereadores mostraram-se até tímidos - confiantes, talvez que as explicações oficiais de Cassio fossem suficientes. Houve, mesmo, o caso de vereadores do PDT que deixaram a sessão antes de seu encerramento, o que justificou um protesto formal do vereador Geraldo Yahamada. Nada menos que 11 dos 33 vereadores se pronunciaram a respeito - alguns com maior veemência, fazendo questionamentos aos técnicos, outros buscando posições conciliatórias a um desejo de que o assunto seja discutido mas que isto não invalide a sua execução. Ao abrir debates para assuntos que exigem explicações maiores - pois representam comprometimento da cidade para as futuras gerações a Câmara de Curitiba está dando exemplo de uma evolução política e que engrandece seus integrantes. Seja os independentes vereadores que levantam as questões, sejam os que procuram defender as posições oficiais - o entrechoque de opiniões e posições representa uma salutar democracia e interesse público - coisa que por anos faltou aos nossos políticos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
29/08/1991

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