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Reinhold, a competência de um bom administrador

Há 26 anos, quando deslanchava uma administração que, na época, mudou a fisionomia urbana de Curitiba, o prefeito Ivo Arzua Pereira esbarrava com um problema que até há dois anos era o calcanhar-de-aquiles do município: dificuldades orçamentárias (hoje, com os altíssimos índices do IPTU, a administração Lerner dispõe de recursos milionários). Além da falta de recursos, o então Departamento da Fazenda tinha dificuldades operacionais e vários nomes que Arzua ali havia designado, embora esforçados e honestos, mostraram-se incompetentes. Foi quando decidiu confiar em dois jovens economistas, formados pela Universidade Federal do Paraná, e que começavam sua carreira: Orcy Stuhm e Reinhold Stephanes. Colegas de faculdade, ingressando praticamente juntos na Prefeitura, ali trariam novas idéias, uma agilização que entusiasmou a Arzua, um prefeito também jovem e inovador para a época, que havia tido a inteligência de contatar um novo Plano Diretor, raiz do que viria a ser o IPPUC - e do qual nasceria uma geração de excelentes urbanistas e técnicos, inclusive o hoje multi-consagrado Jaime Lerner. Aos 26 anos, na época recém-casado com Marlene - com quem teria 4 filhos (Júnior, Milena, Marcelo e Maiana), Reinhold, descendente de alemães, nascido em Porto União, oficialmente cidade catarinense mas culturalmente paranaense, Reinhold se revelaria um excelente administrador, de tal forma que quando Ivo Arzua encerrou seu mandato a Prefeitura estava financeiramente equilibrada. Arzua, guindado a Ministro da Agricultura pelo presidente Costa e Silva, não teve dúvidas: ao formar sua equipe, levou Stephanes para assessorá-lo diretamente, confiando-lhe importantes missões. Ao lado de Arzua - Hélcio Buck e Silva, Enock de Lima Pereira, Durval Eduardo Pacheco de Carvalho, Carlos Francisco Colheid (os dois últimos, já falecidos), Reinhold começava a ter o seu aprendizado na área federal. Sem pretender, inicialmente, fazer carreira política, Reinhold Stephanes seria conduzido a funções legislativas - como deputado federal e quando Ernesto Geisel, na presidência da República, teve necessidade de escolher um executivo capaz de tentar por ordem no então INPS, valeu o curriculum e o prestígio que o jovem economista havia conquistado junto a várias facções, inclusive o então poderoso ministro da Educação e Cultura, Ney Braga. Foi escolhido para presidir o INPS, na gestão em que o Ministério da Previdência havia sido desmembrado do Trabalho e entrega ao ministro Gonzaga Silva. Numa das primeiras reuniões, Reinhold mostrou sua visão desburocratizante - Antes mesmo de Hélio Beltrão ter assumido o setor - e irritado por lhe ter chegado às mãos um processo de quase 500 páginas, relacionado a cobrança de uma multa que, hoje, não passaria de Cr$ 2,00, não teve dúvidas: rasgou - afinal, sempre foi um praticante de esporte - no melhor estilo Kung-Fu e advertiu sua equipe que não desejava que houvessem desperdícios de tempo e energia semelhante. Em quase três anos que passou na presidência do INPS, Reinhold conseguiu enfrentar o paquidérmico monstro, equacionando muitos problemas. Obviamente, não poderia fazer milagres - mas deixou o cargo coberto de elogios, aplausos e nenhuma acusação. Muito pelo contrário, já procurou, na época desratizar o INPS, abrindo centenas de comissões de inquéritos que se não puderam extirpar todos os desonestos valeu como um primeiro esforço de por ordem no galinheiro xxx O que aconteceu, posteriormente, é história recente: Reinhold voltou a Câmara Federal e depois, não conseguindo reeleger-se, deu um tempo em suas atividades políticas. Mas voltaria com boa votação nas últimas eleições pelo PFL, partido no qual surgiu como uma opção, já em 1988, para disputar a Prefeitura. Generosamente, abriu mão de seu nome em favor do amigo e deputado Ayrton Cordeiro. Com a coligação feita em apenas 15 dias em favor de Jaime Lerner e a renúncia dos candidatos, também seu primogênito, Reinhold Stephanes Jr., 26 anos, renunciou a sua candidatura a vice-prefeito. Embora sem exigir compensações, acenou-se que com a vitória de Jaime, entre outros compromissos (que nunca foram cumpridos pelo PDT), Stephanes Jr. teria um aproveitamento como presidente da Fundação Cultural de Curitiba, cargo para o qual também foi lembrado, com apoio do próprio Ayrton Cordeiro, um dos mais eficientes técnicos em animação cultural e comunicação do Paraná, Cleto de Assis, ex-secretário de comunicação do segundo governo Ney Braga. Infelizmente, ao formar o seu secretariado, Lerner procurou afastar-se dos partidos que o haviam apoiado e assim nenhuma das indicações feitas tanto pelo PFL, como pelo PTB - cujo candidato Enéas Faria também renunciou - foram atendidas. E para a FUCUCU, fez a pior escolha, nomeando-se uma pessoa que, nestes três anos, tem criado sérios problemas para a administração de Lerner. Reinhold Stephanes, com a sua dignidade e independência, jamais sequer comentou o fato de que seu filho foi preterido e deixou de ter assim uma chance de mostrar competência na área executiva. Hoje, Stephanes Jr., é um dos técnicos seniors da AMIL, no Rio de Janeiro e não pensa, ao menos por enquanto, em voltar a fazer política em Curitiba. xxx Poucas vezes a escolha de um ministro encontrou tanta repercussão favorável como a de Reinhold Stephanes. Desde a noite de sexta-feira, 17, quando foi anunciada sua escolha para substituir ao trapalhão Antônio Magri no Ministério do Trabalho, telefonemas e telegramas se sucederam para cumprimentá-lo. Amigos que estavam na praia - como Orcy Stuhm, vieram rapidamente a Curitiba para, pagando as despesas, estarem segunda-feira, em Brasília e abraçarem o novo Ministro, que assume o cargo num momento da maior crise. A imprensa nacional recebeu a escolha de Stephanes - bem como do seu colega de bancada, Ricardo Fiuza, para substituir a alagoana Margarida Procópio no Ministério da Ação Social, com aplausos. Domingo, o mais respeitado jornalista político do Brasil, Carlos Castelo Branco, em sua coluna no "Jornal do Brasil", enalteceu Stephanes. Homem de diálogo amplo, sempre aberto a imprensa - o que o fez sempre uma das pessoas mais simpáticas e estimadas nos meios jornalísticos, Reinhold, mesmo com uma agenda carregadíssima, atendeu pessoalmente dezenas de jornalistas - inclusive alguns de Curitiba, que lhe telefonaram para seu apartamento, em Brasília, falando com a sinceridade que sempre o caracterizou. Por exemplo, ao repórter Sérgio Cross, da sucursal da "Folha de São Paulo", que recebeu sábado pela manhã, Reinhold reconheceu as dificuldades do governo em pagar o reajuste dos aposentados (147%), calcula o déficit da Previdência, "por mais contas que se faça", em torno de Cr$ 11 trilhões, e definiu em 4 linhas como pretende gerenciar o Ministério do Trabalho e da Previdência: "Quem conhece meu passado sabe disso. Uma das minhas marcas é a austeridade. Não é bem uma marca, faz parte da personalidade". xxx Quem conhece Reinhold Stephanes sabe de uma coisa. Ele não é mágico, nem milagreiro para solucionar problemas que se acumularam (e agravaram) nos últimos anos. Mas por certo, quando deixar o Ministério que assumiu há dois dias, será o mesmo homem honrado e com a mesma credibilidade que sempre teve. Afinal, depois do que aconteceu no Ministério da Saúde, com o gaúcho-patobranquense, Alceni Guerra, o nosso Estado precisa realmente melhorar sua imagem na administração federal. LEGENDA FOTO - Reinhold Stephanes: um executivo competente desde os tempos de Arzua na Prefeitura.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
22/01/1992

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