Uma sacudida necessária para melhorar administração Lerner
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de dezembro de 1989
Se as reformas no âmbito federal só começarão no dia 16 de março, em termos municipais é bem possível que nos primeiros dias de janeiro o prefeito Jaime Lerner se decida a proceder algumas modificações em sua equipe e, especialmente, numa indispensável sacudida administrativa. Apesar de, num primeiro momento, ter sido cogitada a possibilidade das primeiras mudanças serem feitas ainda em dezembro, antes de sua viagem aos Estados Unidos, no final, movido talvez pelo espírito de Natal, Lerner preferiu deixar para o início do ano as mudanças que os seus mais fiéis colaboradores reconhecem como indispensáveis.
Longe de provocar traumas ou suspenses, as correções de rota e um remanejamento (e mesmo substituições em algumas funções) são reconhecidas como necessárias e salutares, passado um ano de sua posse e frente a novas realidades políticas-administrativas. Afinal, mesmo evitando tocar no tema sucessão estadual, Lerner é o number one para disputar pelo PDT o Palácio Iguaçu, conforme o próprio líder nacional do partido, Leonel Brizola, já anunciou várias vezes. Assim, as reiteradas tentativas que Jaime vem procurando fazer no sentido de que "não será ainda desta vez" que se empenhará para chegar ao Palácio Iguaçu - preferindo, talvez uma situação futura dentro de 5 anos - o fato é que a sua lederança, excelente imagem e momento político levam a crer que é o nome mais forte para disputar o governo. Além do mais, as constantes alfinetadas de seu arquiinimigo político, o ex-prefeito Roberto Requião de Mello e Silva, indócil e nervoso candidato declarado, também contam muito numa disposição de Jaime voltar a disputar as eleições que, por certo, será das mais difíceis, caras e, para que negar, agressivas.
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O maior trunfo de Lerner é a sua jamais negada capacidade administrativa, que hoje tem respaldo internacional e que o fez, em apenas 12 dias, voltar à Prefeitura com a mais expressiva votação. Só que os milhares de eleitores que o consagraram há 13 meses passados, estão na expectativa de uma administração que repita a notável performance que foi a primeira gestão, há 18 anos passados - ponto de partida para sua grande carreira de urbanista e administrador.
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Amigos íntimos, colaboradores dos mais fiéis e que sempre admiraram e colaboraram com Lerner, reconhecem que a sua extrema generosidade o tem prejudicado muitas vezes. No temor de ferir susceptibilidades e desgostar amigos e pessoas que convidou para cargos executivos - mas que ao longo deste primeiro ano administrativo se mostraram inábeis e mesmo incompetentes - o tem feito sofrer muito para proceder as reformas indispensáveis. Há casos concretos que exigiriam uma ação mais decidida, mas que infelizmente tem sido adiadas - com a desculpa de que se aguarda o relatório final de consultoria que vem elaborando uma grande reforma administrativa. Por exemplo, a Secretaria de Turismo, que era ocupada pelo ex-deputado Amadeu Geara, está desativada desde que aquele advogado e político, irritado com interferências políticas, renunciou ao cargo (passando, entretanto, para a assessoria pessoal de Jaime). Reduzida a um setor da Secretaria Municipal de Cultura, uma área de vital importância como é o turismo, inclusive com conotações de ordem econômica, praticamente deixou de funcionar - num dos muitos exemplos que mostram dificuldades operacionais existentes no esquema administrativo municipal.
Também a Secretaria de Material, após problemas gerenciais, foi desativada e com isto os que ocupavam cargos naquela pasta foram agregados ao gabinete, inchando os quadros da secretaria dos negócios do governo, designação oficial para a antiga chefia-de-gabinete.
Democraticamente preocupados em criar organismos de consulta, o prefeito Lerner ainda não pode estruturar, como desejava, órgãos consultivos e conselhos que realmente representem a comunidade - livrando-se, assim, de nefastas interferências que, inclusive em termos políticos, tem prejudicado o seu relacionamento em alguns setores. A necessidade de fortalecer as lideranças autênticas do PDT, que vindas de bairros - podem, de fato, representar uma ascensão de seu prestígio, é outra preocupação a qual seus autênticos amigos têm procurado fazê-lo sentir. Afinal, se junto às classes "a" e "b" superior, Lerner é desde o início dos anos 70, o nome de maior trânsito, expressão e credibilidade, torna-se indispensável que passe a realmente integrar-se na grande Curitiba, num território politicamente dividido por inúmeras facções e que exige habilidade de quem conhece a cidade.
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Não há, de princípio, intenção de cortar cabeças ou prejudicar integrantes da equipe escolhida há um ano - aliás, num processo em que Lerner teve total liberdade, tanto é que deixou de se submeter a indicações mesmo dos líderes (e candidatos que renunciaram em seu favor) políticos aos quais, num primeiro momento, chegou a pedir sugestões.
Agora, descansado da campanha pró-Brizola (de cujo fracasso no Paraná, foi injustamente, acusado após o dia 15 de novembro), com forças readquiridas nesta viagem aos Estados Unidos - com contatos feitos junto ao Banco Mundial, em Washington, e o Natal em Nova Iorque, onde reviu sua filha, a coreógrafa e bailarina Andréa - Jaime deve reassumir a Prefeitura com força total. E, acreditam seus verdadeiros amigos, disposto a proceder mudanças, cirandas e reestruturações que vem sentindo indispensáveis, para que a sua administração adquira uma maior dimensão - indispensável para um homem de tantas potencialidades político-administrativas - embora oficialmente, no momento, mineiramente evitada em seus pronunciamentos.
LEGENDA FOTO - Lerner: voltando dos EUA, uma sacudida em sua equipe.
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