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Aramis

Dias de fogo e pressão alta para Jaime Lerner

Após uma semana em que apesar de um exaustivo programa de reuniões técnicas na Alemanha não deixou de ter seu lado soft, o prefeito Jaime Lerner enfrenta agora uma carregadíssima agenda de problemas que exigem sua decisão pessoal, ágil e, sobretudo, equilibrada. Afinal, desde a questão da disputa (ou não) da Prefeitura do Rio de Janeiro - o que poderá representar a catapulta para, em menor tempo do que se espera, poder tentar a ascensão ao Palácio do Planalto - como presidente ou vice - até problemas político-administrativos que se acumulam na esfera municipal, exigirão sua atenção. O reinicio dos trabalhos da Câmara com a discussão de assuntos que envolvem e questionam vários aspectos-administrativos - em especial a cobrança do IPTU, cujo aumento impressionante revoltou a todos os que não foram beneficiados pela isenção (em si, discutível em muitos aspectos) - vai exigir da bancada lernista um jogo de cintura para evitar respingos políticos que poderão fazer sua pressão atingir pontos preocupantes. Aos 54 anos, com boa saúde, Lerner não deixa de ter um problema grave: a pressão alta. Mais do sentido psicológico - cada vez que sente pressionado ou tenso vê a sua pressão atingir índices perigosos - Lerner já chegou a consultar famosos especialistas em universidades americanas, que lhe recomendaram regimes alimentares - um sacrifício para quem, como ele, é um exigente gourmet - e, sobretudo evitar emoções e irritações, em seu humor - uma das características que sempre cultivou - Lerner diz que poderia batizar certas crises de pressão com nomes de políticos ou pessoas que, em várias ocasiões, já obrigaram a interromper seu expediente, para fazer consultas médicas de urgência. xxx Dois dos mais leais e antigos amigos do casal Lerner, por coincidência ambos médicos do maior prestígio em suas especialidades (com os quais forma um grupo que nos fins-de-semana jantam juntos após assistirem um dos filmes em exibição), o oftalmologista Maurício Rottenberg, foram sempre seus conselheiros em termos de saúde. A intimidade e amizade com que desfrutam - e uma estima grande e mútua, que os levam sempre a recusar qualquer hipótese de envolvimento administrativo na Prefeitura, dão a Rottenberg e Brick condições de, no equilíbrio de quem conhecendo profundamente a Jaime, com ele convivendo há mais de 30 anos, oferecerem "a visão e a cabeça fria necessária para que sua estrela continue a brilhar" como observa outro amigo comum. No momento em que o prestígio de Lerner - especialmente junto à mídia nacional e internacional lhe deu condições de um superstar executivo com respaldo popular e político para hoje poder disputar qualquer função possível, mais do que nunca aqueles que o cercam - e poucos destes tem sinceridade suficiente para alertar os riscos do poder (lembrando a filosofia musical do velho Billy Blanco, "mais alto o coqueiro/maior é o tombo do coco afinal") - e semanas - serão decisivas para o seu futuro político. A decisão - que dificilmente pode continuar a ser postergada - da escolha do candidato do PDT que reuna efetivamente condições de ser vitoriosa, as pressões que politiqueiros (especialmente Rafael Greca de Macedo, que o vem prejudicando já há anos por uma demagógica "intimidade"), mais a necessidade da administração, nestes próximos meses, coroar todo um programa que, nesta terceira administração, o consolidou como o mais popular (e competente) administrador municipal do Brasil, tem um peso e uma responsabilidade que custa caro. xxx Um aspecto, até hoje analisado discretamente mas que nas últimas semanas passou a preocupar aos setores mais lúcidos do PDT - e especialmente aos verdadeiros amigos de Lerner - prende-se ao fato de que sua apaixonada e pública ligação ao governador Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, representa uma faca de dois gumes. Além do brizolismo ainda ter bolsões de resistência no Paraná - o que ficou comprovado nos baixos índices de votação do candidato gaúcho na última eleição presidencial - algo mais grave pode ocorrer. No caso de Lerner optar (e esta decisão terá que sair logo) - por uma candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro, atendendo ao apelo de Brizola - inevitavelmente as poderosas baterias que se opõe, às pretensões do governador do Rio de Janeiro também atingirão Lerner e sua administração. Preservando até hoje de uma oposição organizada - inclusive na Câmara de Curitiba, na qual poucos vereadores acorajaram-se a contestar a sua popularidade - a situação tende a se inverter neste ano decisivo em termos eleitorais. xxx Mesmo com todo o marketing promocional e uma presença mais externa do que local, haja visto o número de compromissos que o levam a fazer constantes viagens - a administração de Lerner pode sofrer oposição cerrada da parte dos candidatos que, em diferentes frentes, tudo farão para evitar o continuismo pedetista. Por estas - e muitas outras razões - a sempre organizada Duda, e mulher-forte que comanda a agenda de audiências de Lerner, e o secretário de governo, Nireu Teixeira e seu adjunto, o engenheiro Sérgio Silva, mais do que nunca, desde ontem estão provando que são mesmo diplomatas e mágicos para fazer com que no alongado expediente de Lerner possa lhe permitir, sem maiores momentos de explosões, atritos e dificuldades nos acarpetados gabinetes do poder, o estabelecimento de uma estratégia que ofereça indicações precisas para a política municipal (e estadual) nos próximos e decisivos dias.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
11/02/1992

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