Curitiba, túmulo do Carnaval
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de fevereiro de 1989
Para jogar um pouco mais de lenha na bonita fogueira sobre a idéia de fazer de Curitiba uma capital do "Anticarnaval", um detalhe: em 1972, na primeira administração de Jaime Lerner, duas assessoras de seu gabinete, a advogada Maria Elisa Ferraz (hoje Paciornick, e agora dirigindo o Instituto de Administração Municipal) e a engenheira Francisca Rischbieter (Francetti), advogaram a idéia de ao invés de se gastar milhões de cruzeiros (na época) tentando forçar um Carnaval, a Prefeitura deveria estimular concertos, seminários e outros eventos capazes de atrair justamente as pessoas que detestam Carnaval.
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Portanto, embora só agora a idéia de estimular um Anticarnaval - proposta pelo tv-repórter Nei Hamilton, tenha ganho maior repercussão - principalmente após os artigos de Renato Schaitza e da carioca Léa Okseanberg, aqui de O Estado, a verdade é que há 18 anos já se falava no gabinete do alcaide nesta idéia. Só que na época se procurava ainda animar o Carnaval: em 1973, pela primeira (e única vez) um trio elétirco - o Tapajós - veio da Bahia e tentou fazer o povo sair atrás. A polícia, cassetete em punho, agrediu os poucos foliões que se dispunham a fazer aquilo que Caetano Veloso cantava ("Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu") e os próprios integrantes do Tapajós ficaram horrorizados.
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Hoje o desinteresse oficial pelo nosso Carnaval vai ao ponto de praticamente nenhuma autoridade municipal - exceto o preocupado secretário de Turismo Amadeu Geara - ter prestigiado os desfiles no sábado e domingo. Nem mesmo políticos que se dizem representantes do povo de Curitiba se dignaram a comparecer ao palanque. O deputado Rafael Greca de Macedo, como faz anualmente, preferiu as mordomias pedetistas do Rio para assistir, de camarote, ao desfile das grandes escolas no Sambódromo.
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Portanto, a idéia proposta pelo jornalista Nei Hamilton não é tão absurda como pode parecer. Ao menos, por parte de muitos setores da Prefeitura um Anticarnaval poderia apenas ser oficializado, já que como, inteligentemente, escreveu a simpática Léa, "Curitiba não precisa ser "virar" a capital nacional do retiro. Curitiba, velha de guerra, já é".
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Um fato para comprovar que Léa tem razão. Terça-feira de Carnaval, 20 horas. Rua das Flores e Praça Generoso Marques: nenhum sinal de que se estava no último dia de Carnaval. Silêncio total. Poucas pessoas nas ruas. Serpentinas e confetes só na saudade.
E, há menos de 300 metros, as escolas de samba do primeiro e segundo grupos, mais os blocos carnavalescos, preparavam-se para o último desfile.
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