Um documentário sobre o "Dinheiro Invisível"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de junho de 1989
Enquanto os curtas em 35mm, apresentados no Cine Embaixador, em Gramado, foram, em sua maioria, temas de ficção, os trabalhos em 16mm, nas exibições realizadas no auditório Érico Veríssimo do Centro de Convenções do Hotel Serrano mantiveram uma preferência pelo documentário - especialmente entre os média-metragens. Os filmes nesta categoria são realmente os patinhos feios na produção cinematográfica: somente em salas alternativas, dentro de promoções muito especiais, é que eles chegam a um público interessante. O que é pena, pois com isto se perde de se ver interessantes abordagens da realidade brasileira.
Por exemplo, se o movimento em favor da campanha de Leonel Brizola que existe em Curitiba tivesse melhor coordenação e ao invés de promoções ridículas como a que realizou há algumas semanas, se preocupasse em eventos de maior significado, poderia patrocinar uma exibição, seguida de debate do média "Dinheiro Invisível", de Hilton Kauffman, 40 minutos, que no Festival de Brasília, no ano passado, foi considerado o melhor filme (e valeu o troféu de melhor diretor a Kauffman no Rio Cine Festival). Sem deter-se na fórmula do documentário frio e se valendo da linguagem do filme de ficção, inclusive com a participação de atores, Hilton Kauffman discute, com humor, um assunto atualíssimo: a economia subterrânea em que vive boa parte da população brasileira. Entre as personalidades que oferecem ótimos depoimentos em torno da chamada economia informal (aquela que não é objeto de taxação do governo e ajuda o Brasil a sobreviver da incompetência oficial) está o deputado César Maia, estrela do brizolismo e possivelmente o futuro ministro da Fazenda, no caso de uma vitória do candidato do PDT. A certa altura do documentário, César Maia afirma que cerca de 45 bilhões de dólares estão transitando na economia brasileira sem registro. Amaury Temporal (Associação Comercial do Rio de Janeiro), o economista Carlos Lessa e o sociólogo Herbert José de Souza (Betinho, o irmão do Henfil), também oferecem ótimos depoimentos neste filme didático e inteligente que o seu realizador, Hilton Kauffman, mostra-se disposto a trazer a Curitiba para exibições especiais. Para tanto, basta que alguma entidade ligada aos economistas, a própria Fundação Cultural (afinal, o prefeito Jaime Lerner é do PDT) ou mesmo a dita "coordenação cultural" (sic, sic) dos brizolistas queira se movimentar.
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