Documentário sobre judeus perde chance de ter melhor divulgação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de outubro de 1989
Uma semana de filmes especiais, que mereceriam, cada um, tratamento específico de marketing para não fracassarem nas bilheterias. Pena que isto não aconteça e cheguem sem qualquer preparo especial - que se refletirá, com certeza, nas baixas rendas.
O caso mais grave é do documentário "Shoah", do jornalista-cineasta Claude Lanzmann, com nove horas e meia de duração e que tendo uma única cópia no Brasil, vem sendo apresentada em circuitos especiais, precedidos de trabalhos junto a colônia israelita, com palestras e debates - para que o público não só tenha paciência para acompanhar uma produção tão longa como abordando um tema árido: o genocídio dos judeus. Resultado de anos de pesquisas de Lanzmann, "Shoah" teve sua primeira exibição há cinco anos, no FestRio, em sessões especiais. Desde então, vem sendo visto através de programações cuidadosamente planejadas, sempre em colaboração com instituições ligadas a comunidade israelita - que afinal se constitui em seu público alvo. Lançada no cine Groff, em duas sessões diárias (14 e 19h30), sem qualquer preparo prévio, é mais um exemplo de como a Fucucu desperdiça culturalmente os filmes que chegam para suas salas. No caso, há um agravante: o prefeito Jaime Lerner, filho de judeus e cinemaníaco entusiasta, há tempo já havia manifestado interesse em que este documentário, sério e profundo, tivesse um tratamento especial em sua estréia. E pelo visto nada foi feito, pois até o atencioso Ademar Cavalcanti, encarregado pela Fucucu de fazer os anúncios publicitários dos filmes do circuito oficial, se queixava, terça-feira última, da falta de qualquer material a respeito.
Outro exemplo de desperdício de um bom filme é "Caravaggio", produção inglesa que há três anos teve suas primeiras exibições, ainda em versão original, na mostra Midnight Movies, paralela ao FestRio.
Livre biografia sobre a vida e os amores (homossexuais) do pintor Michelangelo Amerghi (ou Marisist Caravaggio) (1473-1610), este filme de belíssimas imagens, premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim, foi o primeiro sucesso internacional de Derek Jarman, cineasta de vanguarda, especialista em fitas de microprodução e cuja obra é praticamente inédita no Brasil. Foi diretor de um dos episódios de "Aria" e seu penúltimo filme, "Ar Requiem" - uma transposição a tela da obra musical de Benjamin Britten - terá exibições especiais no próximo FestRio (que este ano acontecerá em Fortaleza). Com Nigel Terry e Sean Bean, fotografia de Gabriel Beristain e cuidadosa cenografia de Christopher Hobbs, "Caravaggio" provocaria polêmicas moralistas há alguns anos. Hoje, o comportamento homossexual renascentista de seus personagens não chocam ninguém e o que fica são as belíssimas imagens da biografia deste pintor que deixou obras-primas como "Vocação de São Mateus" (que se encontra na igreja S. Luigi de Francesci, em Roma).
Pena que a Fucucu não tenha promovido uma sessão especial para artistas plásticos - que, naturalmente, no boca-a-boca, garantiriam maior divulgação em torno do filme, ao invés disto, "Caravaggio" foi explorado apenas para a incômoda sessão da meia noite do cine Groff no sábado passado.
Beisebol na tela - Tema mais difícil é a promoção especial de um filme de interesse basicamente americano (leia-se Estados Unidos) como "Sorte no Amor" (Bull Durham), produção classe B distribuído pela 20th Century Fox, que foi programado para o Bristol, apenas para preencher a semana que antecipa o super-lançamento de "Batman" (na próxima quinta-feira, em três salas da cidade). Muito melhor seria se o belo "Amigas para Sempre", com Betty Midler e Barbara Hershey, tivesse sido mantido mais uma semana em cartaz.
"Sorte no Amor" trata dos encontros & desencontros amorosos de uma ninfomaníaca, Annie Savoy (Susan Sarandon) que adora levar fortes craques do beisebol para a cama e se divide entre Grash Davis (Kevin Costner) e Calvin Lalosh (Tim Robbins).
Esporte de pouca popularidade no Brasil (embora a comunidade japonesa se dedique com entusiasmo), o beisebol já foi tema para muitos filmes - mas quase todos fracassaram no Brasil (inclusive o intelectualizado "Um Homem Fora de Série", com Robert Redford). Se houvesse alguma sessão especial para os líderes dos clubes de beisebol da cidade (quantos? Quem os dirige?), talvez se conseguisse uma maior motivação para esta produção que, lançada sem maior preparo vai, infelizmente, mais uma vez confirma o destino trágico do Bristol: rendas baixíssimas.
O diretor de "Sorte no Amor" é um estreante, Ron Shelton, apaixonado por beisebol, que passou cinco anos jogando num time de terceira categoria.
Há dez anos escreveu um roteiro intitulado "A Player To Be Named Later", sobre um cansado veterano e um promissor jogador de beisebol. Apresentou o script para Thom Mount, na época, presidente da Universal - que elogiou o trabalho mas não viu condições do mesmo ser filmado. Há dois anos; então como produtor independente, Mount decidiu dar a Ron Shelton a chance de dirigir a sua história, mas reescrevendo o roteiro, mantendo como foco central a disputa dos dois personagens centrais pela mulher que adora transar com os jogadores.
Susan Sarandon, ex-esposa de Chris Sarandon ("Um Dia de Cão" e "A Princesa Prometida", em reprise no Guarani), espécie de cult-star que já fez até filmes na Iugoslávia ("Montenegro") é o nome mais conhecido no elenco, ao lado de Kevin Costner, na época ainda sem a fama que ganharia por sua interpretação de Eliot Ness em "Os Intocáveis" (e, posteriormente, "Sem Saída"). No elenco de suporte não há nomes conhecidos. A trilha sonora de Michael Convertino foi lançada no Brasil, há mais de um ano, pela Polygram, mas a Fox demorou tanto em trazer o filme que disco nem mais se encontra nas lojas (a não ser em casas especializadas, como a "Raridade", do Clecius D'Aquino).
Outras opções - "Doidas Demais", de Sérgio Rezende (cines Palace Itália e Lido II) é a estréia nacional importante da semana (ver texto a parte), com esperanças de repetir em Curitiba a boa performance que fez em termos de bilheteria no Rio de Janeiro. "Um Policial Bom pra Cachorro" (K-9), do estreante Rod Daniel, com James Belushi - mas no qual quem se destaca é o cão Jerry Lee (na confundir com Lewis - nem o ator, nem o cantor de rock), está agora em exibição no Lido I. Afinal, para o Condor, a CIC reservou.
"O Cemitério Maldito" (Pet Sematary), novo festival de terror e violência, baseado em livro de Stephen King (cada vez mais desigual em seus trabalhos), com direção de uma mulher - Mary Lambert - e um elenco desconhecido: Dale Midkiff, Fred Gwynne, Denise Crosby, Miko Hughes etc.
"Máquina Mortífera 2" de Richard Donner (São João), "Os Safados" de Frank Oz (Astor), "Retroceder Nunca... render-se jamais!" de Corey Wuen (Palace Itália), "Karate Kid 3 - o desafio final" (Plaza) e "9 ½ Semanas de Amor" de Ali Adrian Lyne (Cinema I) continuam em cartaz.
A comédia "Cegos, Surdos e Loucos", de Arthur Hiller, com Richard Pyror e Gene Wilder, tem pré-estréia amanhã, às 22h, no Plaza, enquanto o Groff, também amanhã, só que a meia noite, faz a pré-estréia do excelente Robert Van Anckeren - concorrente ao FestRio-88 - e que deve estrear no Ritz na próxima semana.
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