Na tela, Potemkin e filmes sobre amizade
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de outubro de 1989
Considerado um dos dez filmes mais importantes da história do cinema, "O Encouraçado Potemkin", que o cineasta russo Sergei Eiseinstein (1898-1948) realizou em 1925 é daqueles filmes que merecem ser sempre revistos. Embora disponível em vídeo, nada substitui a grandiosidade de sua projeção em tela ampla, especialmente a maravilhosa seqüência da escadaria de Odessa - que há três anos foi homenageado por Brian De Palma em "Os Intocáveis", de Brian De Palma.
Assim, reprises de "O Encouraçado Potemkin" são sempre bem vindos. Entretanto, pelo respeito a Eiseinstein, um dos realizadores mais importantes da história do cinema, seus filmes devem ser reapresentados com cuidados especiais, de preferência em ciclos informativos, acompanhados de palestras. Entretanto, vejam só: o Cine Groff relançou este filme especial em sessões vespertinas, para a Fundação Cultural, oportunisticamente, aproveitar o dia 17 de outubro, aniversário da Revolução Russa. O público que normalmente se interessaria em rever (ou conhecer, tratando-se dos mais jovens) compareceria normalmente nas sessões noturnas. Entretanto, às 20 e 22 horas, o Groff continua apresentando "Ori", documentário de Raquel Geber, merecedor de atenção (conforme não nos cansamos de aqui escrever), mas que, em absoluto, deveria dividir uma semana com o clássico de Eiseinstein.
Entre as poucas estréias desta semana, um filme que merece atenção especial: "Amigas para Sempre", no Cine Bristol (5 sessões). O título lembra uma obra-prima que Arthur Penn realizou em 1982 e cuja temática também era semelhante: a importância da amizade. Igualmente, há um referencial com o último filme que George Cukor (1899-1982) realizou em 1981, "Ricas e Famosas". Também pode ser lembrado "Momento de Decisão". Enfim, influências (ou "homenagens") das mais salutares que marcaram o jovem Garry Marshall, nome até agora desconhecido, nesta produção baseada na novela de Mary Agnes Donogue, que a partir do verão de 1957, em Atlantic City, acompanha as vidas de CC Bloom (Bette Midler, também produtora do filme) e Hillary Witney Essex (Bárbara Hersey). Aos 11 anos, CC já desejava fazer carreira como cantora, enquanto Hillary, uma jovem típica de San Francisco, pacata e sonhadora, ambiciona uma prosaica vida de esposa. Ao longo dos anos, seguem caminhos diferentes mas fica uma amizade - forte e segura, mercadoria cada vez mais rara em nossos dias. Um filme que promete e merece ser visto. Pois, tendo qualidade, corre o risco de não ganhar segunda semana.
A outra estréia com chances de agradar ao público é "K-9 - Um Policial Bom pra Cachorro" (K-9), do jovem diretor Rod Daniel que aproveita um filão que já rende inúmeras comédias: a amizade entre seres humanos e animais. No caso, o detetive Thomas Dooley (James Belushi), da divisão de combate ao narcotráfico, em San Diego, difícil em seus relacionamentos com os colegas (e também com a namorada Tracy / Mel Harris), encontra em Jerry Lee - ou o "Matador", um pastor alemão supertreinado para detectar drogas, o companheiro ideal. Assim, situações típicas acontecem, num ritmo bem desenvolvido. No Cine Condor.
Dos filmes que permanecem em exibição, o melhor programa é "Doces Ecos do Passado", de Francis Menkiewicz, que representou o Canadá em Cannes e teve várias premiações em seu país - inclusive o de melhor atriz (Monique Apaziani) e melhor coadjuvante (Gabriel Arcand). Poético e lírico, um hino de amor ao cinema - ao menos em sua primeira parte, quando Celeste (Monique Spaziani) chega a uma pequena cidade do Interior do Canadá para trabalhar como pianista de um cinema. Merece ser visto. Está no Ritz.
Cartão-postal com a mais fotogênica das cidades, Veneza, emoldurando um fio de historieta - quase uma anedota picaresca digna de Boccagio - "A Venexiana" (com "x" e não com "z"), que Mauro Bologni realizou há três anos traz como galã o jovem Jason Connery (filho de Sean), cuja beleza desperta o desejo de duas ninfômacas.
Fraco em sua estrutura, roteiro convencional, "A Venexiana" salva-se pela fotografia esmerada e, naturalmente, a beleza da eterna Veneza. No Cine Luz.
Como a bilheteria de "Máquina Mortífera 2", de Richard Donner, foi menor do que se esperava, esta seqüência das aventuras dos detetives Martin Riggs (Mel Gibson) e Danny Glover (Roger Murtaugh) ficou agora somente no Cine São João. Também "Karatê Kid 3 - O Desafio Final", de John G. Avildsen, com Ralph Macchio e Pat Morita, se mantém em cartaz (Plaza). A propósito, "Retroceder Nunca... Render-se Jamais", com o novo ídolo das lutas marciais - Claude Van Damme - continua em exibição no Itália.
A comédia "Os Safados" (Dirty Rotten Scoundrels), de Frank Oz - refilmagem de "Dois Farristas Irresistíveis", trazendo Steve Martin e Michael Caine nos personagens originalmente criados por David Niven e Marlon Brando, se mantém no Astor.
"Nove Semanas e Meia de Amor", no Cinema I, continua a ser o filme-fenômeno: em cada reprise fatura mais do que na exibição anterior. Finalmente, "Ensina-me a Querer" (Surrounder), com Michael Caine e a deliciosa Sally Field, continua em exibição no Palace Itália. Uma comédia gostosa que não faz mal a ninguém.
Nas sessões especiais duas boas opções. "Cegos, Surdos e Loucos", de Arthur Hiller, com Richard Pryor e Gene Wilder, às 22 horas de amanhã no Plaza; no Groff, sábado à meia-noite "Caravaggio", do inglês Derek Jarman - que será a melhor estréia da próxima semana.
LEGENDA FOTO - "O Encouraçado": um clássico em sessão vespertina.
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