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Aramis

O interlúdio de encontros traz faces novas no palco

Encontros & desencontros da vida. Poderia até ser ao som de "As Quatro Estações" de Vivaldi já que os personagens têm o tempo das estações mudando suas vidas. É um texto rústico, sentimental - mas que entusiasmou a Francisco Nogueira, 35 anos, 20 de batalhas teatrais, que tomou conhecimento do mesmo ao fazer parte de um júri de textos inéditos, em Chopinzinho, que julgava trabalhos de novos autores. "Até a Próxima Estação" lhe chamou a atenção e o fez se interessar pelo trabalho do carioca Rodrigo Murat, 23 anos, que venceu o concurso e atualmente trabalha numa montagem de "Lulu - A caixa de pandora", no Rio de Janeiro. Chico Nogueira fez mais do que simplesmente defender a premiação do texto do jovem Rodrigo. Investiu suas economias como professor do Curso de Artes Cênicas da Fundação Teatro Guaíra, numa montagem com um grupo jovem (miniauditório Glauco Flores de Sá Brito, até 15 de outubro, 21h) que poderá significar um sopro de renovação em nosso teatro. xxx Além de um texto inédito, "Até a próxima estação - um interlúdio", revela, também ao menos duas belas faces que poderão fazer carreira - nos palcos ou como modelos. Sônia Miller, loira, bailarina, integrante do grupo folclórico da Sociedade Rio Branco, tem uma presença que poderá valer convites para fazer comerciais na TV. Com maior experiência no palco, Regina Vitória ("Liberdade, liberdade", "Norigama", "Circo Padu" e "Cinderela", todas encenações amadorísticas) é um tipo mignom, suave. No único papel masculino o garoto Márcio Branco, que em seu curriculum inclui "No Jardim da Terra", "Perdoem Deus...", "De Volta prá Casa", "Viva o Leão Gaspar" e "Ou será que sou". Márcio é também compositor, autor das músicas-tema desta encenação que tem iluminação de Beto Meira. xxx Francisco Nogueira se entusiasmou com o texto porque "não é um drama, mas está longe de ser uma comédia pois fala da amizade anônima de duas pessoas: Ele e Ela. Não são parentes, nem amantes, nem amigos, sequer convivem". Os personagens encontram-se quatro vezes na vida. Na primeira vez no outono. As folhas caem, mas eles são jovens, cheios de vida. Trocam cartas. Estabelecem uma compensação. Separam-se. Cada um segue a sua vida. Encontram-se novamente anos depois. É primavera. Reconhecem-se. Trocam histórias e tentam inverter os papéis mas separam-se. No inverno, sob a chuva, cada qual esperando um amigo (que não chega nunca). Tomam chocolate. Estão mais velhos, mais sozinhos. No último quadro é verão. Bem mais velhos, sem esperar ninguém mais. Um texto simbólico para muitas interpretações, "apresentado de forma natural, simples e direta, sem intelectualizações, buscando apenas a sensibilidade de cada um" explica Chico Nogueira. - "De fato é um interlúdio, um entreato na vida das personagens. Algumas palavras, uma ação delicada, um jogo de intenções". xxx Com 20 anos de vivência teatral - considerando suas primeiras experiências, ainda adolescente, no Clube Literário do Portão - Chico Nogueira já fez mais de 30 peças como ator. Formado em administração de empresas pela UFP (1975) e Ciências Contábeis pela FCEP (1980) trocou uma bem remunerada carreira no Bamerindus pelo teatro. Mesmo com prejuízo financeiro, não se arrepende. Fotógrafo, vem profissionalizando-se na elaboração de material para divulgação cênica, sendo hoje um dos profissionais mais requisitados. Já fez exposições individuais e em dezembro dividirá com Enio Viana uma nova mostra na Casa Romário Martins. Como diretor já tem quase uma dezena de espetáculos - incluindo montagens e leituras dramáticas. Consciente das limitações de se fazer teatro no Paraná, "se a esperança ficar nos estímulos da Lei Sarney", acredita que "a medida do possível" está em aproveitar o idealismo e entusiasmo de jovens como os que se uniram no grupo Off. LEGENDA FOTO 1 - Sônia: um novo rosto nos palcos. LEGENDA FOTO 2 - Regina: suavidade mignom.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/10/1989

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