O novo cinema alemão é a melhor opção nesta semana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de abril de 1989
Mais um vez o Goethe Institut traz uma informativa mostra do cinema alemão. É de se perguntar, o que seria do cinema alemão se não fosse o Goethe?
Há quase 20 anos que esta instituição cultural, com sede em Munique e que se espalha por todo o mundo, vem dando a maior contribuição para a promoção da cultura alemã, em especial do cinema. Se não fosse o trabalho incansável do Goethe, o cinema alemão continuaria a ser desconhecido entre nós - como ficou por mais de duas décadas, no pós-guerra.
Mostras retrospectivas (como a mastodôntica sobre os 100 anos de cinema alemão, em parte mostrada em Curitiba no ano passado, agora, completa, no Cine Clube Estação Botafogo, no Rio de Janeiro), ciclos temáticos, acompanhados de realizadores alemães são promovidos pelo Goethe. Hoje, cineastas consagrados como Wim Wenders, Schlondorff, Herzog, Fassbinder e tantos outros, tiveram seus primeiros filmes exibidos no Brasil graças ao Goethe. E é graças a este Instituto que a Fundação Cultural de Curitiba tem um esquema de promoções - não só em cinema, mas também em outras áreas.
Agora, o Goethe traz uma nova mostra de cinema - Nova Geração de Cineastas Alemães - Parte II, que começa hoje no Cine Luz. No ano passado, pela inabilidade da coordenação de cinema da Fucucu, a mostra retrospectiva foi totalmente prejudicada, com exibições confinadas na infecta e asfixiante Cinemateca. Este ano, pelo menos os filmes terão duas projeções cada um numa sala confortável, o que deve ampliar o público.
Pela sua própria proposta, esta mostra traz produções recentes, realizadas nos últimos 5 anos, de cineastas jovens - e ainda desconhecidos, como uma única exceção: Doris Dorrie, diretora de "No Meio do Coração" (1983), que no dia 25 encerrará a mostra. Doris Dorrie é hoje já uma cineasta famosa na Europa, realizadora do filme de maior bilheteria em 1987 - "Homens", que foi apresentado em mostra paralela no FestRio-87 e teve seus direitos adquiridos para o Brasil pela Art Filmes - mas que só na semana passada o lançou em São Paulo e Rio de Janeiro.
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Numa semana em que há apenas uma estréia - "Vice-Versa", comediota que substituiu ao excelente "Minha Vida de Cachorro" no Bristol. Mais uma vez, confirma-se a tradição de pé frio daquela sala na Rua Mateus Leme: sucesso internacional, elogiado pela crítica, capaz de enternecer públicos das mais diversas latitudes, o filme sueco ficou apenas 7 dias em exibição em Curitiba. Como explicar isto numa cidade que, dizem, é famosa por sua "exigência cultural"? Que piada!
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A OPÇÃO ALEMÃ - Além de trazer nove filmes inéditos para a mostra FILMES ALEMÃES DA NOVA GERAÇÃO (PARTE II), o Goethe ainda patrocinou que alguns destes realizadores viessem ao Brasil para acompanhar as exibições em algumas cidades. Verena Rudolph, realizadora de "Francesca" (programado para hoje 16 e 21 horas) - considerado um dos melhores deste pacote - esteve em Brasília, cidade na qual o Goethe tem a direção do competente professor Helmuth Lied, que, ao lado da tradutora Heidedi, sua esposa, foi quem, há 15 anos, implantou o Instituto em Curitiba - e cuja administração deixou saudades.
Para acompanhar a mostra em Curitiba veio Reinhard Munster, diretor de "Dorado - Passagem Sem Retorno", produção de 1984 (programado para o dia 24, sessões às 14 e 22 horas). Inspirado no western "El Dorado", de Howard Hawks (1967), o filme de Munster é sobre um jovem cineasta que sonha em refilmar aquele famoso banguebangue - num clima de realidade e ficção.
A mostra inicia hoje (14 e 20 horas) com "O Recorde", de Daniel Hellfor, 1984 - sátira à televisão - e "Francesca". Amanhã, serão exibidos "Walkeman Blues", 85, de Alfred Benrens - um filme sem diálogos, focando a trajetória de um jovem que vive há pouco tempo em Berlim; às 16 e 22 horas será exibido "Concerto Para a Mão Direita", 1986, de Michael Bartlett - cujo roteiro foi inspirado em "O Coração Denunciado" (The tell-tale heart), poema de Edgar Allan Poe.
No domingo, 23, a programação inclui às 14 e 20 horas, "Zischke", 1986, de Martin Theo Krieger - abordando conflitos de um grupo de jovens e, às 16 e 22 horas - "O Mesmo Para Você", 1986, de Anja Frank , Dani Levy e Helmut Berger (este, um ator famoso).
Segunda-feira será exibido "Dorado - Passagem sem Retorno" (14, 16, 20 e 22 horas) - com uma palestra introdutória do diretor Reinhard Munster. Finalmente, na terça-feira, 25, a mostra se encerra com "Richy Guitar", 85, de Michael Laux e "No Meio do Coração", de Doris Dorrie.
OUTRAS OPÇÕES - Para quem já viu os filmes "oscarizáveis", são poucas as opções o que faz com que amostra alemã se afigure como a melhor indicação. No São João, um filme na linha kung-fu totalmente descartável: "Ninja, o Protetor". No Guarani, em homenagem à data histórica de 21 de abril, foi programada a reprise de um cult-movie de Fernando Cony Campos, falecido recentemente - "Ladrões de Cinema", no qual um grupo de ladrões rouba o equipamento de filmagens de turistas americanos e se propõe a realizar um filme sobre a Inconfidência Mineira. Elogiado pela crítica - mas ignorado pelo público - "Ladrões de Cinema" (que Arnaldo Jabor pretende refilmar) é praticamente inédito em Curitiba: houve uma única projeção, de uma cópia em péssimo estado, há alguns anos na Cinemateca. Espera-se que a cópia que o Chico Alves conseguiu para o Guarani esteja melhor. No Groff, a reprise de "As Filhas do Fogo", espécie de homenagem que Walter Hugo Khouri fez a Gramado - cidade que visita anualmente, por ocasião do Festival - há 10 anos. Um filme de belíssima fotografia, belas mulheres (Paola Mora, Maria Rosa, Rosina Lambouisson), com a classe que sempre marca suas produções requintadas. Em reprise no Groff, que, em sua sessão da meia-noite, apropriadamente reprisa amanhã "O Exorcista", de William Friedkim.
LEGENDA FOTO - Uma nova linha de comédias americanas: a transposição de personalidades (e corpos) que trazem muitas confusões. "Quero ser grande" (Big) abriu o filão que prossegue com "Vice-versa", no qual um executivo divorciado (Judge Reinhold), que além de problemas profissionais e afetivos, acaba trocando de identidade com seu filho, Charlie (Fred Savage), o que ocasiona uma série de mal entendidos. O diretor é um novato - Brian Gilbert, assim como no elenco não há nomes conhecidos. A música, entretanto, é do competente David Shire e reúne cinco canções. Em exibição no Cine Bristol.
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