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Aramis

Os melhores filmes fracassam nas bilheterias de Curitiba

Dois dos melhores filmes do ano foram vistos por menos de 500 espectadores. E dificilmente voltarão a ser exibidos em Curitiba. Por uma curiosa coincidência, ambos abordando a questão da educação: em "O Preço do Desafio" (Stand and Deliver), de Ramon Menendez (cerca de 100 espectadores em uma semana no Cinema I), Edward James Olmos (indicado ao Oscar de melhor ator 89) é o professor Jaime Escalante que enfrenta a barra pesada de um colégio de subúrbio em Los Angeles e consegue resultados fabulosos de um grupo de jovens motivados para uma dificílima matéria. Em "Madame Souzantzka", do inglês John Schelessinger (que pouca gente sabe, andou por Curitiba, em 1962), a personagem-título é uma figura notável: ex-pianista, professora que desenvolveu um método próprio, afeiçoa-se aos seus alunos que deseja ver como grandes concertistas. Shirley McLaine tem neste filme sua melhor interpretação e foi, merecidamente, premiada em Veneza, no ano passado. Um filme emotivo, que poderia - se bem lançado - alcançar um público imenso (professores e estudantes de música) - teve menos de 300 espectadores e em várias sessões foi projetado para apenas 4 espectadores (como na segunda sessão de segunda-feira, 14). "Conspiração Tequila" também não atingiu a média para justificar uma segunda semana no Astor, embora compromissos contratuais façam com que este filme com três nomes famosos no elenco - Kurt Russel, Mel Gibson e Michele Pfeiffer - continue em exibição. Já "De Caso com a Máfia", de Jonathan Damme, também com a bela Michele, apesar de toda a crítica favorável que o antecedeu,, teve uma renda mínima e já foi substituído no Plaza por "Instinto Fatal", de George A. Romero, que no esquema de suspense e terror deverá fazer melhor carreira. São quatro exemplos - e que poderiam ser ampliados - mostrando que o público não tem sabido buscar as melhores opções. O fracasso total de "O Preço do Desafio" e "Madame Souzantska", então, é alarmante: são obras do melhor nível, que mereceriam toda atenção de quem se interessa por cinema e que tiveram freqüência mínima. "Homens", a produção alemã que teve a melhor bilheteria em 1987/88 na Europa, estreou com uma renda apenas razoável no Ritz, mas como a Fundação Cultural de Curitiba não dispõe de muitas opções, manterá esta comédia em cartaz por mais uma ou duas semanas. Lamentavelmente, a 20th Century Fox desperdiçou a oportunidade de fazer do Festival Carmen Miranda / Marilyn Monroe um evento cultural. Programado a toque de caixa no Cine Luz, os três filmes com Carmen Miranda, dirigidos por Irving Cummings, e os quatro filmes que marcaram a fase entre 1953/55 de Marilyn Monroe ("Como Agarrar um Milionário", "Os Homens Preferem as Loiras", "O Rio das Almas Perdidas" e "O Pecado Mora ao Lado") poderiam ter tido um público muito maior se tivesse havido uma motivação: pré-estréias, palestras sobre a importância (e a época) em que Carmen e Marilyn fizeram estes filmes. No caso de Carmen, poderia até se motivar com lançamento do recente livro-álbum publicado a seu respeito. Nada foi feito e a freqüência também foi mínima. xxx Frente a uma realidade tão desanimadora, é de se temer o que pode acontecer com dois outros excelentes lançamentos que aconteceram ontem e que também não tiveram qualquer promoção maior: "Palco de Ilusões", de David Seltzer (Cinema I) e, especialmente, "A Outra", de Woody Allen (Cine Bristol). Duas estréias muito especiais. Palco de Ilusões - (Punchline) é daqueles filmes modestos, aos quais nem a própria distribuidora (no caso a Columbia) acredita e que parece ter muitos méritos. A começar pelo diretor, David Seltzer, roteirista de maior talento ("A Crônica de Hellstron", de Walon Green) e que estreou com um dos mais belos e sensíveis filmes lançados no Brasil em 1987: "Inocência do Primeiro Amor" (Lucas, 1986), o filme que revelou o garoto Corey Haim - agora já com uma boa cinematografia. Com muita experiência do documentário (escreveu a série "Incredible World of Animals") e dirigiu especiais para a National Geographic Magazine, além de ter produzido outra série conhecidíssima ("The Undersea World of Jacques Costeau"), David Seltzer mostrou em "Lucas" uma grande dose de emoção que, parece, repete em "Palco das Ilusões". É a história de Lilah Krytsick (Sally Field), uma dona de casa de Nova Jersey, mãe de três crianças durante o dia, menos nas ultimas 13 semanas, quando tenta conseguir seu espaço como comediante amadora num clube de Nova Iorque. Um sonho de fazer carreira artística e que se frustra ao não conseguir tirar nenhuma gargalhada do público - e tendo conflitos com a família. Até que encontra Steven Gold (Tom Hanks), um estudante de medicina e que também é um sonhador. O resto da história dá para imaginar. O cineasta Mark Rydell ("Apenas uma Mulher", "A Rosa", "Num Lago Dourado"), aparece como ator, assim como outro diretor famoso, Paul Mazursky ("Um Vagabundo na Alta Roda", "Luar Sobre Parador"), o que mostra o prestígio de David Seltzer na comunidade artística. Trilha sonora de Charles Gross. Um filme para conferência obrigatória nesta semana. Instinto Fatal - George A. Romero, 49 anos, é considerado "o mestre do terror e inventor dos zumbis mortos-vivos". Nova-iorquino, ex-pintor e desenhista, fez teatro e filmes publicitários, e a partir de "A Noite dos Mortos Vivos" (1986) passou a ser cultuado por algumas rodas (indulgentes) como um cineasta inventivo. Seus filmes repletos de terror (horror) explícito fazem ótima bilheteria e neste "Instinto Fatal" (Monkey Shines - An Experiment in Fear), de 1987, o roteiro parece ter sido mais trabalhado: Allan Mann (Jason Beghe), um brilhante estudante de Direito e atleta, sofre um acidente e torna-se paralítico. Com um profundo ódio interno, encontra numa relação com uma macaca, da qual desperta o lado assassino, o caminho para extravasar sua violência. Thrilling de suspense psicológico, "Instinto Fatal" parece ter menos horror explícito do que os filmes anteriores de Romero e mostrar um novo caminho. O filme foi baseado num romance de Michael Stewart e no elenco estão John Pankow, Kate McNeil e Joyce van Patten. Outras programações nesta semana. No São João, "Ninja, a Força Assassina" que dispensa comentários. No Groff, retorna um interessante filme nacional rodado no Interior de Goiás pelo cineasta Geraldo Moraes, professor do curso de cinema da Universidade de Brasília: "A Difícil Viagem", com Paulo José, Roberto Bonfim e Zaira Zambelli. No Luz, outra reprise: "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado, que acrescentou mais algumas premiações ao ser exibido no Festival de Cinema de Bogotá há um mês. No distante Guarani, o belo "Eu Sei que Vou te Amar", com Fernanda Torres - que levantou o prêmio de melhor atriz em Cannes, há três anos. LEGENDA FOTO - Sally Field e Tom Hanks em "Palco de Ilusões": uma estréia a ser verificada no Cinema I.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
18/08/1989

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