Os frutos da mostra para o nosso cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de outubro de 1987
As questões são amplas, polêmicas e, obviamente, jamais se esgotariam num debate de 3 ou 4 horas. Também seria ingenuidade pretender que de uma exposição verbal possa resultar as soluções para tantos problemas levantados. Mas numa sociedade democrática, na qual a arte e a cultura devem ser analisadas também, objetivamente, na relação industrial e de consumo, questões relacionadas como a literatura, o roteiro, a música e a imprensa no cinema brasileiro cabem perfeitamente dentro de um evento cultural abrangente.
Assim, três mesas redondas foram realizadas paralelas a I Mostra do Cinema Latino-Americano do Paraná, promoção idealizada pelo Governo Álvaro Dias, e executada através da P. P. A. - Profissionais de Promoção Associados Ltda. - empresa do grupo MPM Propaganda, com assessoria profissional de um grupo de pessoas esforçadas em dar a melhor contribuição a este evento.
Ao invés da simples projeção dos filmes latino-americanos, inicialmente proposta, se abriu para a exibição de filmes brasileiros - todos ainda sem lançamento comercial no Paraná, dois deles em absoluta estréia mundial - "Leila Diniz" (que a partir do dia 15, disputa o XX Festival do Cinema Brasileiro de Brasília e, posteriormente o I Festival de Cinema de Natal) e "Rádio Pirata". Mas a promoção teve outros eventos abrangentes. Graças a colaboração da pesquisadora Vera Brandão, da Cinemateca do Museu de Arte Moderna e uma das organizadoras da I Mostra Brasileira de Filme e Vídeo em Ciência e Tecnologia (realizada no Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de janeiro, 6 a 12 de abril/87), nada menos que 30 filmes inéditos (transcritos para vídeos), foram trazidos sem custos adicionais. Nos auditórios do CEFET e na Universidade Federal do Paraná, trabalhos do mais alto valor, voltados a vários campos da ciência e tecnologia, foram projetados para um público interessado, formado basicamente por estudantes e professores.
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Milhares de crianças, em duas sessões diárias lotaram o cine Lido, durante uma semana, para assistir filmes brasileiros, destinados a despertar no público infantil o amor pelo cinema: "O Cavalinho Azul", de Eduardo Escorel; "A Dança dos Bonecos", de Helvécio Ratton e "Boi Arruá", desenho animado de longa-metragem, realização de Chico Liberato, que teve seu lançamento, em Curitiba, neste ciclo coordenado pelo cineasta Peter Lorenzo, atual presidente da Associação Brasileira de Documentaristas-Secção do Paraná.
Uma amostragem do que de melhor se tem realizado na área em curtas e médias-metragem foi programado para as sessões realizadas a tarde (16 horas, auditório Paul Garfunkel da Biblioteca Pública do Paraná; 18,30horas, Lido I), que tiveram um público surpreendente e interessado em conhecer filmes que, até agora, permanecem fora dos circuitos comerciais de exibição. A mostra contou com a presença dos realizadores destes filmes - uma safra de idealistas e vigorosos jovens cineastas, que, sem dúvida, estará passando (alguns já passaram, aliás) para o longa-metragem, e que constitui a geração de realizadores que, no final desta década estará segurando a bandeira do cinema brasileiro.
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O cinema paranaense teve uma valorização total. Praticamente todos os curtas e médias - e também o longa "A Guerra do Pente", de Nivaldo Lopes (Palito), foram programados nos blocos temáticos, integrados a toda a produção - já que, as dificuldades, deficiências e as limitações de nossos cineastas, igualam-se a de colegas de outros Estados, todos num esforço, raras vezes recompensado, de se empenhar nesta aventura maravilhosa que é o cinema.
Mesmo a manifestação dos cineastas da "Turma do Balão Mágico", através da palavra de Palito, que ao lado dos gêmeos Werner e Willy Schumann, Paulo Friebe, Mauro Faccioni, Elói Pires e Chico Terra subiu ao palco na noite de abertura, - foi salutar. Elegantemente, sem discordar da realização da Mostra, o grupo fez uma reivindicação que, há muito, temos proposto - inclusive em reuniões com os secretários René Dotti (Cultura) e Fábio Campana (Comunicação Social): o apoio efetivo do Governo para que nossos realizadores jovens possam documentar aspectos da realidade, cultura e artes paranaenses. Através de curtas e média-metragens, vídeos e outras formas de registro, existem inúmeros temas, capazes de levar um pouco do Paraná as telas do Brasil e, mesmo do mundo. Afinal, por que não fazer um documentário sobre Bento Mossurunga (1879-1970), nosso compositor de maior expressão - sobre o qual não há qualquer trabalho filmado? Ou então, um historiador, professor e memorialista da dimensão de David Carneiro, 83 anos, não mereceriam um filme?
Enfim, temas não faltam. Assim como o governador Álvaro Dias soube entender a importância de bancar a Mostra Latino-Americana do Paraná, cuja idéia original partiu do jornalista, animador cultural e ator (criador do personagem Arakem, na Televisão) José Antônio Barros Freire - em conjunto com Carlos Augusto de Oliveira (Guga, que assumiu há 10 dias a superintendência da Rede Bandeirantes), cabe, para 1988, o desenvolvimento de um sólido programa para que o cinema (e o vídeo) cultural no Paraná se solidifique como uma realidade. E que, nos inúmeros festivais e mostras que se multiplicam não só no Brasil como também no Exterior, nossos realizadores possam estar presentes com obras significativas.
LEGENDA FOTO 1 - Pedro Jorge
LEGENDA FOTO 2 - Hermano Pena
LEGENDA FOTO 3 - Cassiana
LEGENDA FOTO 4 - Pola Vartuck
LEGENDA FOTO 5 - Valêncio Xavier
LEGENDA FOTO 6 - Jorge Duran
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