No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de outubro de 1987
Uma feliz frase do roteirista e diretor Jorge Duran, que logo na abertura da mesa-redonda sobre literatura e roteiro no cinema brasileiro provocou reflexões "o roteirista é quem reorganiza o material num universo novo". Logo depois, Valêncio Xavier, provaria através de uma análise de "O Anjo Azul", que "um mau roteiro pode resultar num clássico". Valêncio, com sua forma espontânea de abordar um assunto, mostrou as incoerências do roteiro deste filme alemão, dos anos 30, que se tornou, entretanto, um dos mais famosos do mundo - e o marco da carreira de Marlene Dietrich, ("Lola Lola").
Berenice Mendes, cineasta, a premiada diretora de "A Classe Roceira" - exibido no encerramento da Mostra, antes de "O País dos Tenentes", foi uma das participantes ativas das mesas redondas. Sempre com intervenções inteligentes mostrando seu interesse pelos temas propostos, revelou porque é hoje a mulher-cineasta de maior projeção no Sul do Brasil.
Aliás, no roteiro que Valêncio Xavier fez do romance "O Drama da Fazenda Fortaleza", de David Carneiro - projeto de longa-metragem que Berenice deseja realizar em 1988, lido por colegas roteiristas, diretores e críticos, mereceu aplausos. Inclusive, a forma que Valêncio colocou o naturalista francês Saint Hilaire, como personagem central do filme.
Tendo estudado na Itália e conhecido Cezare Zavattini, Pedro Jorge de Castro, diretor de "Tigipió", fez uma citação interessante sobre Pier Paolo Passolini, ao qual atribuíam como influências uma santíssima trindade formada por Cristo, Freud e Marx. "Na verdade, Passolini dizia: minha única realidade é a que não tem nada com o real". E a relação do real e o imaginário - ou seja o que existe e o que é transposto a tela - foi debatido bastante na mesa-redonda com uma interessante história contada por Pola Vartuck que detalharemos na próxima semana.
Interrompendo a projeção, entra no ar a Zydrina: estreou dia 2 de outubro, no cine Teatro Universitário, em Londrina, a mais nova peça de Nittis Chacon "Radio Days", contando a importância do rádio no Norte do Estado. A idéia nasceu quando pesquisava para a peça "Bodas de Café" e, mais uma vez, Nittis produz um espetáculo importantíssimo. Em tempo: a idéia nasceu antes de sair qualquer notícia sobre o filme de Woody Allen. Coincidência temática, apenas.
A temporada cinematográfica estréia (como "Ele, O Boto", de Walter Lima Jr.) e o Cacos Cine-Vídeo promove a partir do dia 13, no anfiteatro do edifício D. Pedro I (rua General Carneiro, 460), uma mostra do cinema expressionista alemão (1918-1925), ao lado da apresentação de clássicos como "Os Olhos da Múmia", de Ernst Lubistsch; "Segredos de uma Alma", de G. W. Pabst; "Dr. Mabuse - O Jogador", de Fritz Lang; "Tartufe", de F. W. Munau, debates com participações de estudiosos do cinema como Valêncio Xavier, Roberto Figurelli, Francisco Alves dos Santos e Rui Vezarro.
Como Fernando Velloso é rigoroso, quem expõe na sua galeria (Contemporânea, rua Gonçalves Dias, 164, Batel) merece respeito. Terça-feira, dia 13, ali ocorre a vernissage de Ivone Alder.
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