Nitis faz peça sobre os "radio days" em Londrina
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de abril de 1987
Nitis Jacon é uma mulher de incrível capacidade de trabalho. Professora, médica, dona de casa, esposa, é, antes de tudo, uma animadora cultural e não foi sem razão que seu nome teve ótimo Ibope na bolsa de cotações para a Secretaria da Cultura, antes que o governador Álvaro Dias optasse pelo advogado Renê Dotti. Nitis mora em Apucarana mas atua basicamente em Londrina e ali desenvolve as atividades do Proteu, hoje fazendo o melhor teatro no Paraná. Há muito que as produções do Proteu vem conquistando premiações em festivais nacionais e ganhando merecidos destaques da grande imprensa, além de ocuparem espaços em teatros do Rio e São Paulo.
Agora, mostrando muita visão, Nitis Jacon trabalha numa nova peça de raízes com a colonização de Londrina: a história do rádio naquela cidade. Há 3 anos, quando se iniciavam os preparativos para os 50 anos da cidade, Nitis e sua equipe fizeram uma revisão de sua fundação do que resultou o excelente "Bodas de Café". Agora, antecipando-se ao revival-nostálgico que o rádio merecerá a partir da estréia, no segundo semestre do penúltimo filme de Woody Allen (o último é o que ele já está rodando), "Radio Days", Nitis vai contar como nasceu e cresceu o rádio em Londrina.
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Embora ainda se desconheça como Nitis vai abordar o tema, uma coisa é certa: ela o fará com inteligência, humor e senso crítico, características em todas as suas produções. Mesmo quando trabalha sobre textos consagrados, como fez em "A Peste", que o francês Albert Camus (1913-1960), escreveu em 1947, Nitis coloca a sua visão de artista e suas posições políticas - claras e independentes, o que lhe tem custado caro numa época de traições em que muitos preferem o elogio fácil, o acomodamento, do que a contestação e a coragem de discordar.
De princípio, Nitis e sua equipe estão entrevistando velhos radialistas de Londrina, obtendo informações que possibilitem a montagem de um texto teatral. Depois, o grupo começa a trabalhar o material, não se limitando apenas em encenar um espetáculo. Ao contrário, Nitis faz questão de que seus jovens atores e atrizes recriem o texto. Explica:
- "É como se você começasse no chão a construção de um edifício. Vai levantando até chegar ao topo, ao resultado completo".
Justifica seu processo de trabalho:
- "É mais verdadeiro. Assim não nos condicionamos a fazer algumas mudanças ou concessões exigidas no texto, que podem prejudicar o espetáculo. Porque o espetáculo é muito maior do que o texto de teatro, que é escrito. Neste processo - de fazer o texto e pensar na montagem ao mesmo tempo - já se consideram todas as coisas, sem prejuízo, dribles ou jogos de cintura".
Conforme entrevista a Paulo Gracino, da "Folha de Londrina" (03/03/87), Nitis admite a dificuldade deste trabalho, mas que valoriza o teatro como espetáculo cênico, sem as limitações impostas por um texto final. Com isto, o Proteu dá vazão a sua criatividade, um dos aspectos mais elogiados de seu trabalho.
Como disse o jornalista Paulo Gracino, o grupo de Nitis é unânime em dizer que o rádio merece uma atenção e interesse maior do que está tendo. E por isso eles estão dispostos a levar adiante este projeto que, apesar de narrar a história do rádio em Londrina, conta uma série de fatos que aconteceram ou poderiam ter acontecido com uma emissora de rádio de qualquer parte do País. Por isso, não será um espetáculo regional mas até certo ponto nacional.
A ingenuidade e simplicidade da história do rádio atraíram Nitis.
- "Ele atende aos gostos de diversos segmentos da população. Achamos muito bonito em "Bodas de Café" os conselhos que as pessoas pediam pelo rádio, informações de que fulano tinha saído da Santa Casa e que era para buscá-lo. Tudo isto nos apaixonou".
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O Proteu já teve até 25 integrantes e hoje conta com 15 elementos. Gente jovem e entusiasta. O "Radio Days" de Nitis, ainda está em processo de criação, mas já reservou data com Carlos Eduardo Lourenço Jorge, diretor do Teatro Ouro Verde: a peça ali estréia no dia 18 de junho.
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