Nitis, o amor ao bom teatro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de setembro de 1985
Os olhos de Nitis brilham sempre que ela fala sobre teatro.
- Teatro é vida. Para mim, o teatro é renascer e viver a cada momento.
Assim explica ela sua capacidade de equilibrar múltiplas atividades: médica psiquiatra, que dirige um dos maiores hospitais do Norte do Paraná (e modelar em termos nacionais), esposa do vice-prefeito de Arapongas, Abelardo de Araújo Moreira, e especialmente, diretora do grupo Proteu, que desde a fundação, em l978, vem apresentando espetáculos da maior dignidade e competência: "Calabar, O Elogio da Traição", "Na Carreira do Divino", "A Busca do Cometa", "Um Trágico Acidente", "Salto Alto", entre outras montagens.
Entre 1954/58, período em que estudou medicina em Curitiba, Nitis fez muito teatro amador. Participou de uma das melhores fases do teatro paranaense, levando para Londrina aquele espírito criativo e honesto - sem mercantilismo - das encenações que o Sesi aqui promovia numa época risonha e franca. Residindo sempre em Arapongas, Nitis ingressaria na Universidade Estadual de Londrina para ali criar um atuante setor teatral, que, sem mordomias e sendo apenas basicamente sua pessoa - constituiu o mais vigoroso movimento de teatro amador do Paraná. Só no final da década de 70, quando o marido, o médico Abelardo Moreira, mineiro de Viçosa, foi preso por razões políticas, Nitis retornou ao curso de medicina que havia interrompido em 58, devido ao casamento. Recebeu o diploma em 79, fez especialização em psiquiatria, entretanto, o exercício profissional com o teatro, desenvolvendo inúmeros talentos, alguns já profissionais em São Paulo, como a bela Ana Lúcia Barroso, que lançou na esplêndida montagem da comédia "Salto Alto", "de Mário Prata.
O grupo Proteu faz teatro com amor e garra. Ninguém recebe nada e, para a atual temporada em Curitiba, conseguiu passagens de ônibus junto à Tecpar e os 35 integrantes da companhia estão hospedados em casa de amigos. Além de "Bodas de Café", o grupo apresentou, também, a politicamente contundente peça "Barba Azul", espetáculo no estilo cabaré político, que em Londrina inaugurou o ["]Valentim"e que, na terça-feira, à meia-noite, foi visto no bar "Camarim" [(]é possível uma segunda apresentação, no "Ponto de Encontro", do Teatro da Classe, hoje à noite. Para ser levado a sindicatos, escolas e outros espaços, Nitis também fez um espetáculo chamado "O Trabalhador e a Constituinte". ( Ontem, pela manhã, no Centro Politécnico ).
Dinâmica, ágil, extremamente criativa, Nitis diz que se sente asfixiada diante apenas da máquina de escrever. "Minha energia exige o espaço de palco, a criação da arte e a comunicação", explica.
Trabalhando com jovens, quase sempre sem experiência teatral, molda artistas e revela talentos. Brincando, diz:
- Todos que desejam fazer teatro têm no Proteu um grupo de braços abertos. Só não admitimos o mau caráter. Não fazemos teste para entrar no grupo. O teste é para permanecer: entusiasmo e honestidade.
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