Chet, maravilhoso apesar das drogas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de outubro de 1987
O fato é conhecido: foi ouvindo milhares de vezes o histórico "My Funny Valentine" que o pistonista e cantor Chet Baker (Chesney H. Baker, 23/12/1929) gravou em 1954, que João Gilberto aprimorou seu estilo intimista de cantar que o faria - em 1958, deflagrar a revolução da Bossa Nova.
As bebidas, drogas e idade não retiraram ainda de Chet Baker o seu estilo maravilhoso de cantar de uma forma intimista e aconchegante e quem quiser a prova escute, com toda a atenção "So Hard To Know", homenagem que Rique Pantoja lhe prestou (com palavras de Roxanne Seaman) que constitui um dos momentos mais enternecedores do álbum gravado por Rique e Chet, iniciado em Roma, há três anos e só concluído há poucos meses, em São Paulo - e que a WEA edita com o selo Musiquim. Inspiradíssima balada, "So Hard To Know" - originalmente "tema para Chet"- é interpretado por Baker como nos velhos tempos, "fluidamente, apaixonado, e voz agridoce de tanto cantar e tocar a vida" como bem diz Regina Werneck.
Seguramente um dos 10 melhores LPs instrumentais do ano, o encontro de Rique e Chet é um momento de amor - entre o jovem e talentoso músico brasileiro, com andanças internacionais, e seu ídolo. Juntos estiveram no Free Jazz-85 e já se apresentaram em várias partes do mundo. São seis temas - "Cinema 1", "Saci", "Arboway", "So Hard To Know", "Te Cantei" e "Depois da Praia" - na qual Rique nos teclados, as intervenções perfeitas de Chet Baker, o baterista Bob Wyatt, o baixo redondo e sensual, todo coração de Sizão e o flautista Mauro Senise, fazem a música rolar de forma suave, gostosa, como há muito não ouvíamos.
Música gostosa e suave também pode ser apreciada de Chet Baker em uma gravação feita em maio de 1983, na Holanda, com Michael Graillier no piano e Riardo Del Fra (baixo), que a Imagem lançou agora no Brasil.
Aqui também são seis temas - "Dolphin Dance" (Herbie Hancock), "Ellen and David" (Charles Haden), "Strollin" (Horace Silver), "In Your Own Sweet Way" (Brubeck), "Mister B" (Galber) e "Beatrice" (Rivers), que trazem Baker em toda a suavidade e encantamento. Falam que os tóxicos e a bebida destruíram musicalmente com Baker. Estes dois álbuns provam que não. Sua música ainda é melhor do que 90% do que existe no som-lixo que é imposto nestes nosso tempos.
Enviar novo comentário