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Aramis

O Som da Gente invade hoje a praia americana

Nova York - Hoje à noite, quando Hermeto Paschoal, 53 anos, alagoano de Arapiraca, abrir o Som da Gente - Is The Sound of Our People, por certo que na platéia do Town Hall - auditório conhecido internacionalmente, pelas centenas de discos ao vivo que ali já foram gravados com os maiores nomes do jazz - estarão muitos brasileiros. Embora destinado basicamente a apresentar aos americanos a música instrumental que se faz no Brasil, os brasileiros - inclusive as dezenas de músicos que procuram encontrar seu espaço na Big Apple - estarão aplaudindo ao bruxo albino, mutiinstrumentista, que com uma sanfona herdada de seu velho pai acabou se transformando num dos geniais criadores de música do mundo. Sem fazer concessões comerciais ao gosto americano - como João Gilberto, finge até que não entende inglês quando a conversa não lhe interessa - Hermeto tem um prestígio imenso a quem se liga ao que há de melhor na música contemporânea. Já teve músicas garfadas por Miles Davis ("Igrejinha", que o pistonista registrou como sua, com o título de "Little Church") e fez de seus 13 discos nos Estados Unidos ("Live Evil", com Miles Davis, CBS; "Hermeto", Buddah Records, ambos de 1970; "Slave's Mass", 1976). Portanto, com toda razão, Hermeto abre hoje o espetáculo do Som da Gente, em piano acústico - embora sempre imprevisível o que ele pode retirar de um instrumento, basicamente com temas de seu último álbum ("Por Diferentes Caminhos", 1988, considerado o melhor álbum instrumental do ano passado). Amanhã, Hermeto voltará ao Town Hall, mas já então com o seu demolidor grupo - Mário Bahia (bateria), Jovino Santos Neto (teclado), Fábio Pascoal (percussão), Carlos Malta (sopros) e Pernambuco, mostrando que é possível fazer o som mais belo com os mais diferentes instrumentos - uma genialidade toda sua, que tem encantado públicos em várias partes do mundo - do Free Jazz Festival no Brasil a Montreaux, onde, há 20 anos, fazia históricas performances. Hoje, após Hermeto, dois grupos instrumentais, jovens e que também estão com um preparo que os torna aptos para platéias internacionais. O Cama de Gato, formado há 5 anos do encontro do baterista Pascoal Meirelles, saxofonista Mauro Senise, tecladista Rique Pantoja e baixista Arthur Maia, já com dois elepês gravados (e os três primeiros com álbuns solos), está fazendo uma carreira sólida, para trilhar caminhos internacionais. A apresentação de hoje à noite será fundamental para o deslanche internacional do grupo. Amilson Godoy, de uma família de pianistas (seu irmão mais velho, Amilton, 48 anos, integra o Zimbo Trio há 25 anos e o mais jovem, Adylson, também é pianista), tem uma longa carreira como músico e arranjador, desde os tempos do Bossa Jazz Trio (1966), integrou o grupo Medusa (1981, infelizmente de pouca duração), tem participado de importantes gravações, mas só agora fez o seu primeiro lp como líder, que justamente está sendo lançado hoje em Nova York. Para tanto, aqui está com o guitarrista Natan Marques, o baixista Arimar do Espírito Santo (músico mais conhecido no Paraná, jurado permanente do Fercapo, em Cascavel), William Karam (bateria) e Eduardo Souza (teclados), mais as participações do percussionista Oswaldinho da Cuíca e do acordeonista Dominguinhos. Amanhã, no segundo espetáculo, fora Hermeto Pascoal, será uma noite do violão brasileiro. Olmir Stoocker, o Alemão - que nos anos 60 morava em Curitiba, integrando o grupo do Breno Sauer, na saudosa boate Marrocos, mostrará toda sua brasilidade e ternura ao violão, acompanhado do João Parahyba (percussão), Zezo (guitarra acústica) e Paulo Oliveira (sopros). Depois, o trio de violões, o Grupo D'Alma, com os fundadores André Gereissati e Ulisses Rocha, mais Marcos Pereira, numa formação que foi inédita quando o grupo apareceu há oito anos e chegou a influenciar até a criação de um trio por Paco de Lucia, John McLaughlin e Al Di Meola. O Som da Gente, brasileiríssimo, não poderia ter um escrete melhor do que este que chegou a Nova York nesta semana. O time entra em campo para ganhar e em próxima correspondência vamos descrever os seus gols.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/03/1989

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