Login do usuário

Aramis

Público ainda distante do bom cinema nacional

Com exceção dos Trapalhões e da reprise de "Um Caipira em Bariloche", com Mazzaropi (agora disponível também em vídeo), as bilheterias dos filmes nacionais lançados em 1987 em Curitiba foram insignificantes. Refletindo uma realidade nacional, o cinema brasileiro não teve boa performance comercial, apesar da qualidade de muitos filmes em exibição. Assim, se depender do mercado interno, só mesmo filmes como dos Trapalhões e "Eu", de Walter Hugo Khouri, conseguem se pagar e oferecer lucro aos investidores. Os demais representam prejuízos certos - debitados geralmente na conta de todos nós, pois excetuando-se a produção pornô da boca do Lixo de São Paulo e (raras) realizações independentes, quase toda produção é subsidiada pela Embrafilme - que, naturalmente, vive no vermelho. xxx A falta de melhores datas faz com que certos filmes sejam massacrados em seus lançamentos. Por exemplo, "Urubus e Papagaios", comédia de José Joffily Filho, teve seu lançamento no Cine Lido II retardado por três vezes e, quando finalmente estreou, foi visto por apenas 1.778 espectadores. Pior foi o caso de "A Fonte da Saudade", de Marcos Altberg - premiado nos FestRio-86, em Brasília e Natal, mas que estreando em 10 de outubro de 1987 no Cinema I (coincidindo com a I Mostra do Cinema Latino-Americano no Paraná) teve apenas 236 espectadores em uma semana. Igualmente, "Um Trem para as Estrelas", de Cacá Diegues - que representou o Brasil em Cannes - foi um fracasso imenso no Bristol, onde estreou em 15 de outubro: 792 espectadores. xxx No Astor, sala nobre e destinada a filmes de maior potencial de público, também os filmes nacionais fracassaram: "Cidade Oculta", de Chico Botelho, com Arrigo Barnabé e Carla Camuratti, estreou em 5 de março e foi visto por apenas 2.879 espectadores; "A Ópera do Malandro", estreou no dia 23 de abril e teve ainda menos espectadores: 2.837. Mesmo com todo o prestígio de Caetano Veloso, seu "Cinema Falado", a grande polêmica do FestRio-86, não passou de 890 espectadores no Cine Luz (onde estreou em 12 de março). Aliás, o Luz é um dos cinemas com menor freqüência, sendo obrigado constantemente a suspender sessões por falta de público. Em compensação, o Ritz - também pertencente a Fundação Cultural - consegue melhor público: "Vera", de Sérgio Toledo, ali permaneceu 8 semanas, alcançando 13.358 espectadores e faturando Cz$ 332.538,76. Conseguiu, assim, superar inclusive "Eu", de Walter Hugo Khouri, que em duas semanas, no São João e Itália, foi visto por 10.068 espectadores. "Além da Paixão", de Bruno Barreto, também teve razoável público: em 3 semanas conseguiu motivar a ida de 4.380 espectadores no Ritz. "A Dança dos Bonecos", de Helvécio Ratton, agradou a garotada: em 3 semanas no Luz foi visto por 2.966 crianças (e adultos). xxx "Besame Mucho", o ótimo filme de Francisco Ramalho Jr., apesar de elogios, prêmios e perfeita promoção, foi um fracasso nacional. Em Curitiba, lançado nos Cines São João e Itália, em 13 de agosto, teve apenas 7.696 espectadores em duas semanas. "A Cor do seu Destino", de Jorge Duran, em duas semanas (Cine Ritz, a partir de 1o de outubro), alcançou 6.368 espectadores. "Anjos da Noite", de Wilson de Barros, inventivo, premiado e debochado, agradou relativamente: obteve 3.764 espectadores exibido no Lido II e Luz a partir de 5 de novembro. Já "Leila Diniz", de Luís Carlos Lacerda, apesar de todo seu encanto, foi mal: apenas 1.321 pessoas em uma semana no Palace Itália. xxx Outras bilheterias: "As Sete Vampiras" - 8.468 espectadores (São João); "Brasa Adormecida" - 1.916 espectadores em duas semanas (Ritz); "Ele, o Boto", de Walter Lima Jr., - 6.368 espectadores em 2 semanas (São João e Itália). No Groff, o bravo defensor de nosso cinema, Francisco Alves dos Santos, exibiu "miuras" (filmes de difícil comercialização), que tiveram públicos reduzidos, alguns apresentados apenas em 3 ou 2 sessões (faltou espectadores nas demais): "Filme Demência", de Carlos Reichenbach - 276 (uma semana); "O Último Vôo do Condor" - 166 espectadores (3 dias) e "Abrasasas" - 146 espectadores (4 dias).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/01/1988

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br