"Stelinha" vista por poucos espectadores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de agosto de 1991
Um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos terá hoje e amanhã suas últimas exibições no cine Ritz: "Stelinha".
Premiadíssimo no 18º Festival de Gramado do Cinema Brasileiro (julho de 1990) com 11 Kikitos - e mais o prêmio da crítica - este oitavo longa de Miguel Farias Jr., 47 anos, é um momento muito especial do cinema nacional - prova do talento e competência de seus realizadores, que mesmo trabalhando em condições das mais adversas conseguem fazer obras de nível internacional. Tecnicamente irrepreensível, com a atriz Esther Góes numa emocionante interpretação de uma cantora dos anos 50 que, esquecida pela mídia, vive momentos de solidão e desespero, "Stelinha" apesar dos elogios e premiações sofreu diretamente com o furacão Ipojuca que, a partir de 15 de março do ano passado, quase destruiu o cinema brasileiro. Com o fim da Embrafilme, sem distribuidora, só estrearia no Rio de Janeiro há 75 dias, em lançamento da Severiano Ribeiro. Entretanto, por falta de promoção, ficou apenas uma semana em cartaz, o que justificou protestos de intelectuais da expressão de Oscar Niemyer. "Meu filme teve mais cobertura quando saiu de cartaz do que quando estreou" queixava-se Miguel Farias Jr., em Gramado, há duas semanas, quando ali esteve presidindo o júri de longa-metragem.
Prejudicado em seu lançamento no Rio de Janeiro, "Stelinha" (que não tem nada de biográfico da cantora Stelinha Egg, falecida há dois meses), poderia ter uma carreira melhor em Curitiba, se existisse a mínima competência da "coordenação" (sic) de cinema da Fucucu. Acontece que nem o próprio Miguel Farias Jr., foi avisado da estréia do filme no cine Ritz (dia 8), pois , "teria tido o maior prazer de comparecer para ajudar a promovê-lo" (*). Reportando-se ao universo do rádio em seus anos dourados, com um esplêndido elenco, "Stelinha" poderia ter motivado uma série de promoções paralelas - inclusive em colaboração com a etiqueta Revivendo, do bravo Leon Barg - que tem reeditado gravações históricas de cantores do rádio. Infelizmente, nada foi feito e, a exemplo do que ocorreu outras vezes, um momento especial de nosso cinema foi visto por poucos espectadores.
Nota
(*) Em Gramado, nos dias que antecederam a estréia de "Stelinha", Miguel Farias Jr., tentou a confirmação da estréia do filme em Curitiba, o que não obteve. Com toda simpatia e amabilidade, teria vindo, em seu retorno do festival, a nossa cidade para aqui ajudar a catituar o seu filme. Infelizmente, não houve por parte da Fundação Cultural qualquer preocupação em cercar o lançamento - mesmo considerando suas premiações - de uma promoção especial. O mesmo desleixo ameaça o sério e corajoso "Césio 137" de Roberto Pires - que aborda a (quase) tragédia nuclear ocorrida em Goiânia, há 4 anos. Um filme que por sua atualidade mereceria ser programado dentro de uma mostra de cinema ecológico - especialmente considerando que a atual administração tanto fez em torno do slogan "Curitiba, capital ecológica do Brasil".
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