O Paraná na voz de Stelinha foi longe
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de junho de 1991
Algumas horas de gravações - quatro delas com imagens - e lembranças de muitos amigos, além de pesquisas que envolveriam demoradas consultas em coleções de jornais e revistas da Divisão de documentação da Biblioteca Pública - para rastrear seu início de carreira (e os posteriores registros cada vez que voltava a Curitiba, já com a carreira consolidada) poderão subsidiar num estudo de maior profundidade sobre Stelinha Egg - seu pioneirsimo como mulher, filha de família protestante de rígidos princípios, a enfrentar preconceitos e se tornar a primeira cantora profissional do Paraná.
Sua carreira cruzou-se com alguns dos mais importantes nomes da chamada época de ouro da vida musical brasileira, pois passando por estúdios e, especialmente, rádios como a Tupi, São Paulo e Cultura em São Paulo, depois Tupi e Nacional do Rio de Janeiro, Stelinha em 1950 era eleita a melhor cantora folclórica durante um congresso internacional de folcloristas (Araxá, MG). Uma das primeiras cantoras brasileiras a excursionar ao leste europeu, com seu marido Gaya (com quem havia casado em 1945), Stelinha permaneceu mais de seis meses (1955/56) fazendo shows na Russia, Polônia, Finlândia, Itália, Portugal e França. Em Moscou, chegou a aparecer num filme musical-folclórico, infelizmente nunca visto no Brasil.
Estimadíssima nos meios artísticos nacionais, grande contadora de histórias - descontraidamente, lembrou interessantes passagens de sua vida nos depoimentos que com ela fizemos em diferentes ocasiões - e sobretudo uma pessoa otimista, não se deixou abalar pelo câncer que a levou - e, jovialmente, animava-se a rever amigos musicais do passado, como algumas vozes tivemos o prazer de promover. Em outubro do ano passado, seu amigo Hermínio Bello de Carvalho apresentou-se no Centro Cultural do Portão ("Cantoria"), Stelinha ali esteve, ao lado de Paulo e Norma Tapajós, emocionando-se quando ao final do espetáculo, o poeta Hermínio lhe homenageou.
O grande Paulo Tapajós viria a falecer a 29 de dezembro. Stelinha nos deixa agora. Sem dúvida, o universo musical fica cada vez mais sem as grandes vozes de uma época em que existia harmonia no ar.
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