A nostalgia colorida dos tempos de Juarez
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de março de 1991
Paisagens tipicamente curitibanas, com pinheiros recriados de uma maneira muito pessoal, estão nos quadros que compõe a mais recente individual de Juarez Machado - apropriadamente chamada de "Parfum: Memoire", inaugurada no último dia 12, no Gaymu Inter Art Galerie / Art Contemporain Latin Américani (8, Passage, Thiére 75011, Paris), que estará aberta até o dia 11 de maio.
Com esta mostra - a sétima que faz nestes primeiros meses de 1991 - o catarina-curitibano Juarez Machado, inicia o festival de comemorações de seus 50 anos. No ápice de uma carreira internacional, este barriga-verde de Joinville que se formou artisticamente em Curitiba - onde chegou em fins dos anos 50, aqui estudando na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, ganhando um magro salário como cenógrafo da então nascente TV Paraná, morando numa pensão na Rua 24 de Maio (onde seria depois, a primeira sede do Museu de Arte Contemporânea e hoje é a Associação dos Servidores Civis), Juarez se mantém fiel às suas origens. "Prova disto é a paisagem curitibana presente nas telas que compõe esta sua nova exposição", diz seu amigo e marchand oficial, o arquiteto Waldir Assis Simões, que, desta vez, não pode voar a Paris para prestigiar a mostra - como faz regularmente sempre que Juarez abre uma nova exposição (este ano, já participou das mostras Art Miami 91, Arte Fiera Bologna 91, London International Art Fair 91, Art Chicago 91 de New York, Art Expo 91 e a grande individual na Beaux Arts Grand Palais).
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Praticamente exclusivo de Juarez para a comercialização de seus trabalhos na América Latina, Waldir Assis, 37 anos, da turma de 1980 da Universidade Federal do Paraná - e que fez de sua galeria a mais sofisticada (e lucrativa) do Estado, ganhou a autorização para uma infidelidade cromática: está organizando para o segundo semestre uma grande mostra de Cícero Dias, pernambucano de Jundiaí, 83 anos, desde 1937 radicado em Paris e grande amigo de Juarez. Considerado um dos mestres da pintura brasileira no Exterior, a exemplo do cearense Antônio Bandeira (1922-1967), ele radicou-se em Paris e ali viveu mais de 20 anos até sua morte. Juarez Machado, com todo amor por sua Joinville - e os milhares de amigos brasileiros - também segue este exemplo: dificilmente trocará sua vida (tranqüila) na Cidade Luz, onde reside num apartamento digno de ser cenário de filmes de Claude Lelouch, por um retorno ao Brasil. Em compensação, os vínculos artísticos-profissionais vão continuar e tendo seus quadros cotados entre US$ 3 a US$ 10 mil - em escala ascendente - devidamente comercializados por seu amigo Waldir, garantem o seu caviar nosso de cada dia, champagne Don Perignon, safra 1951 e uma cozinha 5 estrelas, digna do Tour d'Argent, que sua bela esposa, Eliane, prepara com a categoria de um "grand chief" - para recepcionar amigos muitos especiais - como o governador Roberto Requião e a esposa Maristela, que foram seus hóspedes no mês passado.
Aliás, Juarez tem uma dívida de gratidão para com Maristela. Quando a hoje Primeira Dama do Estado era uma modesta auxiliar de vendas da ucraniana Eugênia Petrius na galeria Cocaco - a primeira de Curitiba - na Rua Ébano Pereira, foi ela quem conseguiu vender o primeiro quadro do então pobre Juarez. Que, generosamente, gastou tudo o que recebeu numa noitada iniciada com aperitivos no histórico Bar do Zanchi - na frente da galeria - e só encerrou quando o sol aparecia, na Vila Parolim - então a zona alegre da cidade. Ao lado de Juarez, seus melhores amigos de então - João Osório Brzezinski, Fernando Calderari, Fernando Velloso, Ivens Fontoura, Jair Mendes e um italiano queridíssimo, que deixou saudades, o inesquecível Franco Giglio.
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Falando em nostalgia colorida, um encontro de veteranos das artes plásticas - intercalados com gente da boemia, de garçons e fregueses dos bares da Rua XV a alguns colecionadores, foi proporcionado por uma das personalidades mais queridas da cidade fora do eixo oficial da cultura: Paulo Lajos, húngaro de Cluj, comemorou na sexta-feira, 15, os seus bem vividos 70 anos, 40 de Brasil (chegou no Rio de Janeiro em 15 de outubro de 1949 e em 2 de dezembro de 1962 a Curitiba), com um jantar no "Lá no Pasquale".
Invicto ao casamento - embora nestas quatro décadas curitibanas tenha machucado muitos corações femininos - o bom Lajos já promoveu mais de 200 exposições. Fazendo um dos mais improvisados espaços, um túnel de arte, vendeu milhares de telas - dos artistas mais comerciais a mestres de nossa pintura ("só de Arthur Nisio, De Bonna, Garfunkel e Miguel Bakun, coloquei mais de 40 telas em boas mãos"), num trabalho sempre pautado pela honestidade e coerência. Hoje com um espaço definido (Galeria de Arte Século XX, Rua XV de Novembro, 420, galeria Schaffer, loja 7, fone 234-4726), o bom Lajos tem uma freguesia certa, que lhe garante poder curtir os seus maiores prazeres: um aperitivo ao final tarde com os bons amigos e, uma vez ao ano, rever os parentes na distante Hungria.
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Em 29 de março de 1960, filas formaram-se na Biblioteca Pública, de público interessado em conhecer um legítimo quadro de Van Gogh.
Agora, a partir de 3 de abril, uma tentativa de conseguir o mesmo sucesso: no distante Centro Cultural do Portão, duas esculturas de August Rodin (1840-1917), pertencentes ao Museu de Arte de São Paulo "Assis Chateubriand", ali estarão em exposição numa mostra inteligentemente organizada pela curadora do museu local, a competente Roseli Giglio. No Cine Guarani, no mesmo Centro Cultural, será exibido o filme "Claudine Claudel", com Gerard Depardieu vivendo o grande escultor francês.
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