De Paris, Juarez-87, com a inspiração de Valery
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de junho de 1987
Quando o arquiteto e marchand-de-tablaux Waldir Simões de Assis o procurou em seu atelier, em Paris, há três meses, para convidá-lo a expor em sua galeria, em Curitiba, Juarez Machado aceitou, mas impôs uma condição: que, paralelamente à sua mostra, ocorresse uma mini-retrospectiva de dois grandes amigos que com ele dividiram os anos dourados de sua juventude em Curitiba: João Osório Brzezinski e Fernando Calderari.
De volta a Curitiba, a idéia foi ampliada: como João Osório e Calderari tinham individuais marcadas em outras galerias da cidade, integrou-se ao revival também Helena Wong, 49 anos, que teve intensa participação nos anos 60 - uma fase de mudanças em nossas artes plásticas - e a promoção ganhou o aval do Museu de Arte Contemporânea. Afinal, a diretora do MAC, Adalice Araújo, crítica de artes plásticas e professora da UFP, também participou ativamente do movimento e, nestas duas décadas, tem sido uma das pessoas a dar maior apoio as nossas artes.
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Mesmo sem a presença de Juarez Machado - que só chegará em julho a Curitiba - a individual, com 17 óleos de sua novíssima fase, desenvolvidas em Paris, estará sendo inaugurada nesta terça-feira, 9, em noite das mais badaladas na galeria Simões de Assis (Rua Duque de Caxias, 511) . A mostra de João Osório Brzezinski foi inaugurada na Arte Corrêa (Rua Jaime Reis, 216), dia 4 de junho, e a de Fernando Calderari já há um mês, na manhã de 3 de maio, na Acaiaca (Praça Garibaldi, 53).
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Uma das intenções do marchand Waldir Simões de Assis, quando Juarez passar por Curitiba, em julho, é produzir, em colaboração com os Museus de Arte Contemporânea/ Imagem e do Som, um vídeo sobre o artista catarinense de Joinville, 46 anos, mas que desde 1962 se fixou em Curitiba, aqui formando-se pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Da geração dos anos 60, Juarez foi o artista que conseguiu maior projeção, sabendo administrar bem a sua carreira, hoje em escala internacional, com eixos em Nova Iorque, Paris e Londres, cidades nas quais tem permanecido longas temporadas. Com trabalhos que valem acima de Cz$ 100 mil - cotados em dólares, com produção vendida antecipadamente, Juarez é o que se pode chamar de um artista economicamente independente. Mantém, entretanto, a simplicidade dos tempos em que contava os cruzeiros para dividir o americano e a batida de limão nas mesas da nostálgica Confeitaria-Bar Guairacá, no térreo do Palácio Avenida, espaço de tantas memórias da geração dos jovens dos anos 60.
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A criatividade de Juarez é incrível. Como desenhistra, desenvolveu a linha de humor non sense nas páginas do "Jornal do Brasil", revelou-se mímico do "Insensato" (Francisco Alves, 1970) tem uma linguagem universal, o que fez "Ida e Volta"(1976) ganhar edições na Alemanha, França, Holanda e Itália. Com 18 premiações importantes, fez a partir de 1964, 32 exposições individuais nas maiores cidades do Brasil - além de uma em Nova Iorque (Zona Gallery, 1981) e duas na França (Centre Culturel de Pré-montrès, 1982; Galeria du Sagittaire, Strasbourg, 1983).
Suas criações variam desde o uso de espelhos, fotografias (tema do "Album de Viagem", que em 1984 percorreu as principais cidades do Brasil), voltando para o óleo, numa fase de lirismo identificada à poesia de Paul Valéry (1871-1945). Como diz a crítica Adalice Araújo, no catálogo, ele descobre agora "Les Dermeuses", preciosista.. Como no poema "A Falsa Morta", de Paul Valery, também elas se transformam em insensíveis monumentos da decadência, da graça cansada e da ternura, submersas em um clima entre matafísico e misterioso.
De 9 a 28 de junho, na galeria Waldir Simões, será possível apreciar toda a beleza do Juarez-87, em sua fase parisiense, com óleos que embora cotados acima dos US$ 4.000, terão, por certo freguesia certa. No MAC (Rua Desembargador Westphalen, 16) até o dia 8 de julho, a retrospectiva de Fernando Calderari, João Osório Brzezinski e Juarez Machado - mais Helena Wong, numa visão panorâmica de quatro dos mais talentosos artistas plásticos que se formaram em nossa cidade.
LEGENDA FOTO - Juarez em seu atelier parisiense.
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