Os vinhos e sonhos nos caminhos do internacional Juarez Machado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de setembro de 1989
Luiz Groff, normalmente um homem bem humorado e sorridente, estava ainda mais animado e feliz na noite de terça-feira, 12, na galeria Simões de Assis. É que ali encontrou não só inspiração para mais um capítulo do livro que está finalizando - "A Filosofia do Vinho" -, como obteve de Juarez Machado a autorização para utilizar um dos mais belos óleos, em exposição (mas já vendido por US$ 6 mil) como capa do livro.
Fracólico (como outros engenheiros dos anos 50, ganhou também sua bolsa em Paris) e, sobretudo, um enólogo apaixonado, dono de uma das maiores adegas de vinhos importados, Groff, 54 anos, publicará em breve um livro sobre o vinho e seus macetes.
Como a exposição de Juarez Machado - o grande acontecimento das artes plásticas neste semestre - é sobre vinhos, vinhedos (e os castelos das grandes empresas vinícolas) na região de Bordeaux, foi sopa no mel. Groff ficou tão fascinado pela exposição que na impossibilidade de se adquirir todos os trabalhos em exposição (afinal, US$ 100 mil, mesmo para ele, é uma importância considerável, e além do mais os quadros já estavam vendidos) que decidiu fotografar e registrar em vídeo as imagens que constituem esta nova exposição de Juarez.
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Apesar das viagens anuais que faz a França, sempre percorrendo os melhores roteiros vinícolas, Luiz Groff não deixou de ficar com uma suave inveja de Juarez, quando contou os detalhes do 16 castelos que visitou dentro do projeto desenvolvido por Jean Dethier, organizador geral da Exposição "Chateau Bordeaux", realizada no Centro Georges Pompidou, em Paris (16 de novembro de 1988 a 20 de fevereiro de 1989).
Numa região em que há mais de 3 mil castelos - a maioria pertencente a nobres famílias e, principalmente, a empresas vinícolas, os 16 mais fechados a qualquer tipo de visitação foram, justamente, aqueles em que Juarez esteve demoradamente.
- "Fiz assim um aprendizado enológico a nível de Phd" - diz o artista catarinense, que no início dos anos 60, quando chegou a Curitiba para estudar na Escola de Música e Belas Artes, dividia os trocados para tomar as caipirinhas na saudosa confeitaria Guairacá, em mesa na qual estavam sempre seus fiéis amigos João Osório Brzezinski e Fernando Calderari.
- "Em muitos dos castelos visitados, o vinho servido é daqueles que valem US$ 1.500 a garrafa".
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Como já aqui registramos, os 12 quadros a óleo que Juarez fez para a exposição no Beaubourg, adquiridas pela entidade que patrocinou a exposição, estão hoje numa mostra volante que se estenderá até 1992, em Tóquio. Só que a temporada enológica fez desenvolver cerca de 50 outros trabalhos, na mesma temática - interiores (e alguns exteriores) dos belíssimos castelos, incluindo personagens - mulheres que lembram, de certa forma, as "Les Dormeuses", lânguida, solitárias e afetadas, submersas em um clima preciosista, que já foram focalizadas em sua mostra anterior. Espírito bem humorado, num dos óleos, o próprio Juarez fez um auto-retrato e colocou num dos belos salões focalizados.
As anotações feitas durante os meses que passou viajando pela região de Bordeaux, em textos nos quais mostra um estilo poético, suave e inteligente - manuscritos em caligrafia perfeita, acompanhados dos estudos feitos para depois desenvolver os óleos, também acabaram emoldurados pelo marchand Waldir Simões Assis. A intenção não era vender estes "trabalhos do autor", mas a pressão dos colecionadores, inconsoláveis por terem os óleos sido adquiridos nas mostras feitas no Rio (Design Center) e São Paulo (Espaço D'Artefacto), levaram também estas peças a serem vendidas a US$ 1 mil.
Só restaram seis, "para dar uma chance aos catarinenses", brinca o marchand Waldir Simões de Assis Filho, que, a pedido do próprio Juarez programou exposições no Museu de Arte de Joinville (16 a 22 de outubro), dirigido por Edson Machado, irmão do artista e em Florianópolis, no Museu de Arte de Santa Catarina (25 a 31 de outubro). Pela primeira vez, aliás, Juarez, catarinense de Joinville, estará fazendo uma exposição na Capital de seu Estado.
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Juarez viajou na sexta-feira para Paris, já que está preocupado em trabalhar nos quadros para uma exposição que fará em fevereiro próximo, numa das principais galerias de Bruxelas.
- "Procuro ser sistemático, trabalhar organizadamente, com uma autodisciplina", explica.
Hoje, os quadros de Juarez têm colocação certa em várias capitais da Europa e portanto não há planos para retornar ao Brasil. Como alguns outros brasileiros que há anos vivem na Europa, só vindo ao Brasil para fazerem suas exposições, Juarez também pretende se manter na capital francesa. Aos 48 anos - "e a idade está chegando e o caminho torna-se mais árido", reflete, embora sem razão, já que de sua geração é hoje o artista plástico mais bem sucedido - veio a Curitiba acompanhado de seu primogênito, Ruy Itiberê da Cunha Machado, 23 anos, que passou três anos residindo em Nova Iorque. Filho de seu primeiro casamento (com Ligia Itiberê da Cunha), Ruy não pensa em fazer carreira nas artes plásticas, preferindo outros caminhos. Pai coruja, diz:
- "Mas minha filha, Tessia, já está dando suas pinceladas com talento".
Em Paris, casado com a carioca Eliane, pai de João de Joinville, 10 anos, Juarez garante que não tem idéias definidas ainda sobre as temáticas de suas próximas exposições. Em 1992, vai ao Japão, "com tempo e vagar, para sentir o país" - que, ao lado da União Soviética, ainda não conhece.
- "Na Europa tenho viajado muito. E em cada cenário, em cada momento, há sempre um renascer temático".
LEGENDA FOTO - Juarez: dias de vinhos & glórias.
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