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Aramis

Planejamento regional com muita politicagem

Neste final de semana deve sair o pacotão das modificações no primeiro e segundo escalões da Prefeitura de Curitiba. Substituições em seis a sete secretarias e, possivelmente, em cinco das nove administrações regionais. O prefeito Roberto Requião, 47 anos, olho atento no termômetro político e no calendário eleitoral, concluiu que já tendo usado o primeiro de seus três anos de mandato, sabe que não dá para brincar em serviço e que, acima dos compromissos partidários e mesmo amizades pessoais, existe o fator rendimento. E nisto, os parâmetros estão abaixo do desejável, de forma que a ciranda de cargos é indispensável. xxx As conversações para a reforma do secretariado municipal se arrastam há várias semanas, naturalmente com especulações. O campo mais movediço é do planejamento, com muitos boatos sobre a extinção do IPPUC, através de sua fusão com a Coordenação da Região Metropolitana, que, por sua vez, será absorvida pela futura secretaria extraordinária da Região Metropolitana de Curitiba. O arquiteto Omar Akel, 42 anos, da turma de 1970 da Universidade Federal do Paraná, há 18 anos no IPPUC e hoje seu presidente, possivelmente será deslocado para a Coordenação de Programas, ocupada hoje por Maurício Requião. Para o IPPUC já foi convidado o deputado Adhail Sprenger Passos, que como não conseguiu ser reeleito, estará desempregado a partir do dia 1 de janeiro. Afinal, embora vice-prefeito de Curitiba, inexiste o cargo em termos de estrutura e, até há pouco, orgulhosamente, Adhail dizia que "sou um vice-prefeito de custo zero". Só que agora, sem receber mais os Cz$ 50 mil que o Legislativo lhe garantia por mês, Adhail terá que usar o seu tempo num trabalho que se ajuste à sua formação de urbanista e planejador. E mesmo o salário de presidência do IPPUC não passando de Cz$ 19 mil, é sempre uma opção. Chamado de "Sorbonne do Juvevê" - título que ganhou nos anos 60, em inteligente comentário do jornalista Luiz Geraldo Mazza - o Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba é uma das unidades mais fortes dentro da Prefeitura. Entretanto, o prefeito Roberto Requião nunca o viu com muita simpatia, especialmente porque pela própria filosofia urbanística e de planejamento a sigla lembra o arquiteto Jaime Lerner, que fez parte de seu núcleo de fundadores, o presidiu e nele baseou os planos mais felizes de suas duas administrações. Com uma própria dinâmica de uma universidade de planejamento, o IPPUC ao longo de seus 21 anos de existência sofreu vários processos de reciclagem, por ali passando profissionais do mais alto gabarito, muitos hoje desenvolvendo trabalhos no Exterior, como o arquiteto Lubomir Ficinski, seu presidente por dois anos, agora consultor do Banco Mundial. Atualmente, Lubomir assessora projetos na Bolívia, com uma equipe de vários paranaenses, inclusive Luís Carlos Zanoni, ex-jornalista, ex-publicitário, ex-diretor do Departamento de Desenvolvimento Social na segunda administração Jaime Lerner. xxx O IPPUC vem sendo esvaziado nos últimos anos - a partir da administração Maurício Fruet. Técnicos da expressão do inglês Alan Cardel, expert em transportes urbanos, deixaram o órgão por não sentirem-se mais motivados em sua estrutura. Outros foram deslocados para novos setores, especialmente a partir de maio de 1986, quando o prefeito Roberto Requião começou a exigir que certas atribuições fossem dadas aos órgãos executores. Assim a sinalização e planificação passou para a Secretaria dos Transportes, ocupada pelo técnico Germinal Pocá, um franco-espanhol da Catalunha que se "aculturou" nas hostes peemedebistas vindo ao staff inicial de Belmiro Valverde Castor quando na Secretaria do Planejamento. A URBS só não mudou ainda de sigla por uma questão prática mas oficialmente já é a EGTC - Empresa de Gerenciamento do Transporte Coletivo, subordinada à Secretaria dos Transportes. O arquiteto Sérgio Pires, 40 anos, durante anos funcionário do IPPUC, foi para a administração da Freguesia da Matriz, que coordena o centro da cidade. Aliás, um dos poucos administradores eficazes e possivelmente o único que permanecerá em seu cargo. Os demais, quase todos indicações políticas, neste primeiro ano mostraram pouco rendimento, o que leva Requião a substituí-los. xxx Oficialmente, a fusão entre IPPUC-COMEC estaria apenas no campo dos estudos, embora os arquitetos Omar Akel e Gilberto Coelho, presidentes atuais dos dois organismos tenham tido inúmeras reuniões. Também sugestões levantadas pela Fundação Pedroso Horta têm sido consideradas nesta mudança filosófica e administrativa, já que a criação da Secretaria Extraordinária da Região Metropolitana é acompanhada de perto pelo governador eleito Álvaro Dias e sua equipe de planejamento (leia-se Francisco Borja Magalhães). Agora as especulações: criadas uma secretaria que venha a coordenar a Região Metropolitana (14 municípios) e ocupada pelo vice-governador Ary Queiroz, está se estruturando também uma grande base política. Roberto Requião nunca escondeu suas pretensões de disputar o Governo nas próximas eleições e para tanto tem centrado todas suas energias (e recursos municipais) para as camadas mais pobres da população, na qual estão os votos que lhe deram a (apertada) vitória em 15 de novembro de 1985 contra o ex-prefeito Jaime Lerner. O controle da Secretaria da Região Metropolitana representará muito para o seu futuro político. Ary Queiroz, embora sem alimentar, de momento, ambições maiores, é homem da mais inteira confiança do grupo Jaime Canet Júnior (ex-PP) e, no mínimo, representa um pedregulho no sapato político do esbravejante alcaide curitibano. Assim, não é sem razão que Adhail Sprenger Passos, pediu tempo para decidir aceitar a presidência do IPPUC. Afinal, qual é o futuro desta instituição? Seria ele apenas um subordinado ao futuro secretário da Região Metropolitana, sabidamente um engenheiro executivo, "tocador de obras" como mostrou na presidência da Copel? As especulações são várias e as condicionantes políticas influem também no planejamento. Infelizmente, pois com isto quem perde é a cidade. Aliás, não só Curitiba, mas toda a região metropolitana. xxx Lineu Thomas deixa a Secretaria das Administrações Regionais. Em seu lugar, vai Maurício Requião, irmão caçula do alcaide Roberto e que ocupa a Coordenação de Programas. E uma nova secretaria nasce nesta semana: a de Governo - ou seja, uma sofisticada Casa Civil, para a qual já foi escolhido o vereador José Maria Correa, 38 anos, delegado de política de carreira e líder do Prefeito na Câmara. Com sua ida para o gabinete, Zé Maria abre vaga para que o engenheiro Gilberto Bayer, assessor da Secretaria de Obras e segundo suplente do PMDB, assuma um lugar na Câmara. O primeiro suplente, o feirante Cezar Pelozzi, já é agora efetivo - substituindo ao auxiliar-de-enfermagem e vereador José Felinto, que conseguiu eleger-se deputado estadual. xxx José Maria Correa reafirmou a amigos, aquilo que disse na televisão na segunda-feira: não só protestará no Palácio Iguaçu se o presidente Stroessner vier para a posse de Álvaro Dias, como levará um grande grupo de companheiros do PMDB para exorcizarem o ditador paraguaio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
08/01/1987

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